Há pelo menos dois meses os moradores do Jardim Carla, em Santo André, inscritos no Programa Saúde da Família têm sofrido com a falta de médicos.

Os pacientes deixaram de ser atendidos pelos especialistas desde que os médicos pediram demissão em maio. Sem o quadro completo, é comum os enfermeiros atenderem as consultas.

A UBS (Unidade Básica de Saúde) está localizada em área periférica de Santo André. Fica rodeada pela Vila Suiça e Jardim Carla e está bem próxima do Morro da Kibon, locais conhecidos pelo altos índices de criminalidade.

Embora as condições internas da UBS sejam boas, o imóvel está pichado e sem identificação. Enfermeiras confirmaram à reportagem a dificuldade em trabalhar na unidade. "Sabemos que é perigoso aqui. Tanto que sempre carregamos nossas bolsas. Não dá para deixar nos consultórios."

Se as condições afastam os médicos, o déficit na equipe afeta pessoas como a comerciária Cristiana Pereira de Oliveira, 26 anos. Ela marcou consulta de rotina para a filha em abril, mas afirma ter sido atendida apenas no fim de julho, por uma enfermeira. "Foi ela que avaliou minha filha e solicitou o exame, marcado para 4 de setembro. Quando voltei até lá, estava sem água e adiaram para o dia 10. Mas aí já tinha feito um convênio", explica a comerciária.

A dona-de-casa Maria Iracema Felix da Silva, 35, também utiliza a unidade de Saúde com freqüência. Ela reclama pelo fato de sempre ser atendida por enfermeiras. "Isso quando consigo atendimento", diz.

A aposentada Mércia Zacardi Lhem, 61, conta que os médicos ficam, no máximo, três meses na UBS e depois vão embora. Outro problema é o tempo para diagnóstico dos exames. "Tive de esperar 50 dias para receber o resultado do meu exame de sangue."

Moradora do Jardim Carla, a cabeleireira Rosa Maria Pinheiro, 59, diz que sofre de depressão, por isso precisa de acompanhamento médico freqüente. "Esta é uma região muito carente e ficamos abandonados sem médicos." Para não ficar sem atendimento, a moradora costuma buscar ‘socorro' na UBS Vila Luzita.