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E o novo coronavírus parou o Grande ABC

Sete cidades tomam providências para tirar munícipes da rua e frear a proliferação do novo coronavírus

Dérek Bittencourt
Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
22/03/2020 | 07:00
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DGABC


 Fluxo de carros menos intenso por vias e rodovias. Cada vez menor número de pessoas nas calçadas ou em áreas de convivência. A pandemia do novo coronavírus mudou o cenário da região e, aos poucos, o Grande ABC vai seguindo as orientações das autoridades e as determinações dos governos municipais e estadual e permanece dentro de casa, na tentativa de impedir ainda mais a proliferação e o contágio pelo vírus. A tendência é que nos próximos dias haja ainda maior adesão, seja em razão da paralisação de indústrias, da adaptação de empresas para o home office, do cancelamento de eventos ou do fechamento de locais públicos, comércios e serviços não essenciais.

As sete prefeituras adotaram medidas para que os munícipes se mantenham reclusos, modo mais eficaz na frenagem da disseminação do vírus. Além de instruções – principalmente via redes sociais –, com as quais as administrações buscam informar, conscientizar e também impedir que as fake news causem histeria, foram anunciadas as suspensões das aulas nas redes municipal, estadual (o governo deu férias aos professores do Estado e ontem decretou quarentena nos 645 municípios) e particular, além de outros tipos de cursos e formações, desde básica até superior ou técnico e profissionalizante. Haverá ainda diminuição do funcionamento ou fechamento do comércio (permanecendo de portas abertas apenas estabelecimentos com fins fundamentais, como farmácias, supermercados, açougues, postos de gasolina e alguns outros) e de equipamentos esportivos e de lazer, como parques (leia mais abaixo), e paralisação temporária na cobrança de taxas, tarifas e aplicação de multas, cancelamento de eventos públicos de qualquer espécie. Até mesmo as igrejas católicas suspenderam as missas e os padres realizarão as celebrações virtualmente, prática que vem sendo utilizada diariamente pelos prefeitos para se comunicarem com a população.

As montadoras que possuem fábrica na região ou já paralisaram a produção ou adotarão o procedimento, dando férias coletivas aos funcionários. Estima-se que as fábricas instaladas no Grande ABC tenham 28 mil trabalhadores, aproximadamente. A Volkswagen já suspendeu o funcionamento da planta em São Bernardo, caminho que será seguido pela Toyota, a partir de terça-feira, Scania e Mercedes-Benz, a partir do dia 30. Já a GM, em São Caetano, pausa as atividades amanhã. E tal medida reflete na indústria da região, que deverá seguir este modelo de ação. A partir de amanhã, inclusive, todos os shoppings do Grande ABC estarão com as portas fechadas, em medida que visa evitar aglomeração de pessoas. Consequentemente, não haverá funcionamento dos cinemas e demais opções de entretenimento.

Por ora, Santo André decretou estado de emergência; São Caetano e Diadema, de calamidade. Tais medidas são tomadas para agilizar questões burocráticas e facilitar ações.

Prainha do Riacho Grande fica às moscas
Nada de brincadeiras na areia, tampouco na água – imprópria para banhistas –, onde só pairavam alguns pássaros em busca de comida. Assim foi o sábado na Prainha do Riacho Grande, em São Bernardo. O local amanheceu dessa forma após o prefeito Orlando Morando (PSDB) anunciar, na quinta-feira, restrição de acesso de moradores ao local por tempo indeterminado. A medida, que começou a valer a partir de ontem, tem como meta combater o contágio e a transmissão do novo coronavírus (Covid-19). O local chega a receber cerca de 5.000 pessoas aos fins de semana, segundo a Prefeitura.

Jonathan da Cruz, 22 anos, trabalha nos arredores da prainha tomando conta de carros dos visitantes. Faz isso há cinco anos, e ontem também estava no batente, mas de braços cruzados. “Está um dia diferente. É por causa deste (novo) coronavírus. Não veio ninguém aqui”, afirmou. Ele, que aos sábados, costuma voltar para casa com cerca de R$ 60, ontem estava sem um tostão no bolso. “Vamos esperar para ver o que acontece daqui para frente”, disse, esperançoso.

A Prefeitura recomendou também aos comerciantes do local para que não abrissem os estabelecimentos durante este período. Se na areia e na água não havia ninguém, no trapiche não foi diferente. Com quiosques fechados, as pessoas nem passaram perto. Os restaurantes flutuantes estavam funcionando, mas com mesas vazias. No Caravela Flutuante o movimento caiu cerca de 90% em relação a um sábado comum, segundo Anderson dos Santos, chefe dos garçons. “Já vinha diminuindo, mas agora caiu mesmo. Vamos ver como será neste domingo (hoje)”, disse.

MOVIMENTO
Se na Prainha do Riacho Grande as pessoas não compareceram, na Rua Marechal Deodoro, na região central de São Bernardo, as coisas foram diferentes. Mesmo com algumas lojas não operando mais, a equipe de reportagem observou bastante movimento na tarde de ontem. Lojas de perfumaria, calçados, móveis, bijuteria e doces tiveram como público famílias com crianças e casais, principalmente.

PARQUES
Em Santo André, quem tentou ir a algum parque para fazer a corridinha básica de fim de semana, deu com a cara no portão. Os espaços foram fechados e assim permanecerão até 5 de abril. A decisão é outra medida para tentar conter o avanço do novo coronavírus. O decreto com a determinação do prefeito Paulo Serra foi publicado na sexta-feira.

Em São Bernardo não foi diferente. Estavam de portões fechados os parques municipais Salvador Arena, Raphael Lazzuri e da Juventude Città di Marostica, além da Chácara Silvestre e histórica Praça Lauro Gomes, no Centro. A Prefeitura anunciou também o fechamento da Cidade da Criança por tempo indeterminado.

Em São Caetano, também por determinação da Prefeitura, os parques estão fechados desde terça-feira e sem data para reabertura.

Ex-ministro critica proposta regional de paralisar transporte público municipal
O transporte público na região vai iniciar amanhã, de maneira gradual, a diminuição do serviço, que deverá ser suspenso por tempo indeterminado a partir do dia 29. A decisão foi tomada em reunião do Consórcio Intermunicipal para tentar frear a proliferação do novo coronavírus. A medida recebeu críticas do deputado federal, médico e ex-ministro do Desenvolvimento Social Osmar Terra (MDB).

“Uma coisa é assustar e outra é explicar o que está acontecendo. Quanto tempo vai durar a suspensão do transporte no Grande ABC? Mesmo se diminuir a velocidade da epidemia, quando voltar será igual? Não resolve”, disse.

O governador João Doria (PSDB) e o secretário de Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, também se manifestaram contrariamente à paralisação total, fazendo com que o colegiado de prefeitos da região marcasse reunião extraordinária para adaptar a paralisação a apenas 30% da frota.

“Para evitar a propagação do novo coronavírus, a principal recomendação é ficar dentro de casa. Por isso, é importante impedir a formação de espaços com aglomeração”, salientou, via nota, Gabriel Maranhão (Cidadania), presidente do Consórcio e prefeito de Rio Grande da Serra, que após a manifestação das autoridades estaduais admitiu a possibilidade de rever a medida.<TL>DB




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