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Grandes grupos disputam Comgás
Do Diário do Grande ABC
03/04/1999 | 15:28
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A privatizaçao da Companhia de Gás de Sao Paulo (Comgás) está chegando à reta final. Quarta-feira, às 18 horas, será divulgada a relaçao das empresas que se habilitaram a participar do leilao. Será uma das últimas etapas até o dia 14, quando a Comgás será vendida, num leilao que promete ser bastante disputado pelo porte e interesse já demonstrado pelos grupos que solicitaram acesso à sala de informaçoes (data-room) da companhia - 20 grupos nacionais e do exterior.

Um número bem menor de empresas, porém, deverá efetivamente concorrer ao leilao. Depois de habilitados, os grupos tendem a compor-se formando consórcios. Na véspera do leilao, os interessados deverao depositar as garantias financeiras, que irao assegurar a participaçao na privatizaçao. Segundo estimativas de analistas e executivos do mercado que acompanham o setor, três ou quatro envelopes deverao ser entregues contendo a proposta de compra da empresa.

Mas o leilao poderia ter apenas dois participantes. O que vale mesmo é o apetite em adquirir a empresa e este nao parece ser pouco. Várias companhias estao de olho na Comgás, empresa cuja história teve início com a fundaçao da The San Paulo Gas Company, em 1869, para explorar a concessao dos serviços de iluminaçao pública da cidade de Sao Paulo.

Area nobre - Localizada numa área nobre do estado, que abrange as cidades de Sao Paulo, de Santos e a regiao do Vale do Paraíba, o potencial de crescimento do mercado é enorme porque a exploraçao de gás é incipiente no Brasil. Mais de 92% da energia gerada provêm das usinas hidrelétricas e como existem limites financeiros (os investimentos sao elevados) e naturais (o potencial hídrico em Sao Paulo está esgotado), para construí-las criou-se um forte movimento pelo uso do gás, observou Mônica Carvalho, especialista do setor do banco espanhol Santander.

Embora prefira nao dar palpite, ela lembra que na privatizaçao da Companhia Estadual de Gás (CEG), do Rio de Janeiro, o consórcio vencedor pagou quase o dobro do preço mínimo para levar a empresa. "Nao me surpreenderia se o mesmo ocorresse na privatizaçao da Comgás, que está numa área de concessao mais atrativa e é uma empresa de bom nível técnico", disse, referindo-se ao baixo nível de perdas da companhia (3%).

O analista do Banco Pactual, Pedro Batista, destaca outro ponto que acirraria a disputa pela Comgás. "Quem nao comprar esse ativo agora nao vai fazê-lo mais". As empresas interessadas têm negócios no Brasil e, em alguns casos, nos países vizinhos e esta é uma oportunidade de se posicionar no mercado brasileiro.

Por isso, embora os especialistas considerem razoável um ágio de 50%, ninguém se mostraria surpreso com ágios maiores, até porque os grupos que estao no páreo têm bala para bancar os investimentos. Muitos deles esperaram mais de dois anos até a Assembléia Legislativa de Sao Paulo aprovar a desestatizaçao da distribuiçao do gás canalizado no estado. Um exemplo é a Shell do Brasil , que surge como candidata natural, pois já está com um pé dentro da empresa. No início de 1997, a companhia norte-americana comprou um lote de 19,8% de açoes ordinárias, pertencente à prefeitura de Sao Paulo, que lhe deu direito a um assento no conselho de administraçao.

Participantes - A Shell, como a companhia petrolífera da Itália Agip, combina negócios nas áreas de gás e petróleo. A empresa italiana, considerada por especialistas do setor outra forte concorrente à Comgás já está presente no Brasil: é dona da Liquigás (distribuidora de gás de botijao e da Sao Paulo Distribuidora de Petróleo (rede de postos de gasolina).

Outra forte concorrente é a Enron. Gigante internacional do setor de eletricidade e gás, a empresa tem várias parcerias no Brasil na área de gás. Possui 25,5% do capital da Ceg e participa do Gasoduto Brasil-Bolívia. No ano passado adquiriu a Elektro, distribuidora de energia elétrica que atende o interior de Sao Paulo, justamente na área que corresponde ao trecho do gasoduto no estado de Sao Paulo. Por várias vezes a empresa declarou interesse na Comgás e na regiao do Cone Sul. No mercado especula-se que a Enron deve participar do leilao por meio da Gás Natural, holding que controla a Ceg junto com ouras empresas entre elas a espanhoa Iberdrola.

Grupos com atuaçao global vêem o negócios de energia de forma integrada, produçao e distribuiçao e nas várias matrizes, eletricidade ou gás. Sao chamadas de "utilities". Por isso várias outras companhias do setor de energia elétrica manifestaram interesse pela estatal de gás ,como a CMS Brasil Energia e a Light Metropolitana.

Clientes - De acordo com dados do mercado, a expectativa de crescimento é: residencial, 10% ao ano, comercial, 11% ao ano e o industrial, 6%. O maior potencial, no entanto, está no segmento de termoelétricas, mercado que promete crescer 40% ao ano.

A Comgás deverá fornecer gás natural para duas Usinas Termoelétricas, de Piratininga e de Paulínia, que deverao consumir cerca de 5 milhoes de metros cúbicos por dia. Mas esperava-se que novos projetos de termoelétricas estivessem em andamento para absorver o gás natural boliviano. E aí concentra-se a grande dúvida dos especialistas quanto ao tempo que a Comgás levará para se expandir nesse segmento de negócio.

O potencial de crescimento do mercado residencial nao é nada desprezível. Quase nao é atendido pela Comgás, mas poderá crescer ao mesmo tempo que aumentar a disponibilidade de gás e houver capital para investir na construçao de estaçoes de recebimento do produto, observam os analistas, destacando que as margens de lucros no segmento residencial sao generosas.




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