Vinte e três pessoas serão ouvidas nesta quinta-feira no Fórum de Santo André na primeira audiência do caso Eloá, crime que causou comoção nacional durante as mais de 100 horas que durou.

Todos os envolvidos na maior ocorrência de cárcere privado do Brasil foram convocados, incluindo Lindemberg Alves Fernandes, 22 anos, acusado de matar a ex-namorada Eloá Cristina da Silva no conjunto habitacional do Jardim Santo André, em Santo André, entre outros crimes.

Os trabalhos começam às 9h e devem durar o dia todo. O Fórum terá expediente normal, mas a Polícia Militar foi solicitada para evitar tumultos e a presença excessiva de curiosos.

O CPA/M-6 (Comando de Policiamento de Área Metropolitana 6), responsável pelo Grande ABC, informou que policiais do 41º Batalhão vão impedir o acesso de curiosos no interior do prédio e restringir a circulação de pessoas não-autorizadas.

O ingresso ao Fórum estará restrito a advogados, funcionários e pessoas que tenham interesses no processo.

Alegando medidas de segurança, o comando da PM informou que serão realizadas buscas pessoais em todos aqueles que necessitarem acessar o local.

A advogada de Lindemberg, Ana Lúcia Assad, disse que seu cliente sairá hoje pela manhã da penitenciária de Tremembé, no Interior, e será escoltado até Santo André.

"Ele pode não falar nada durante a audiência, pois não é obrigado. Vamos aguardar o desenrolar dos trabalhos para decidir se ele vai falar ou não", afirmou a advogada.

As primeiras pessoas ouvidas serão seis testemunhas de acusação, sendo seguidas por 12 testemunhas de defesa, quatro vítimas e o réu.

A principal testemunha, que presenciou praticamente toda a ação, é Nayara Rodrigues, 15 anos, melhor amiga de Eloá.

"Ela vai relatar o que já falou no inquérito da Polícia Civil e o que já disse à imprensa. Não terá nenhuma novidade", afirmou o advogado da estudante, José Nildo Alves Cardoso. "Os dois adolescentes que ficaram algumas horas presos no apartamento no começo do cárcere também vão confirmar o que já falaram", disse o advogado, também representante dos rapazes.

O TJ (Tribunal de Justiça) informou que montará um esquema especial para atender a imprensa do lado externo do Fórum.

Promotor recebe laudo da reconstituição

O promotor do Tribunal do Júri de Santo André, Antônio Nobre Folgado, recebeu na quarta-feira o laudo da reconstituição do crime elaborado pelo IC (Instituto de Criminalística).

"É um elemento importante para a acusação, pois o laudo conclui que Lindemberg tinha a intenção explícita de matar e não queria morrer, deixando bem claro os seus propósitos", disse o promotor.

Após a fase de instrução do processo, que tem início hoje, o juiz José Carlos de França Carvalho Neto vai decidir se Lindemberg irá a júri popular ou não.

"Pelo ritmo de trabalho aqui do fórum, considero que dentro de três a quatro meses Lindemberg irá a julgamento", afirmou Folgado.

Para ouvir as 23 pessoas hoje, o Tribunal do Júri deve usar quatro estenotipistas (responsáveis pela transcrição dos depoimentos). Se não houver tempo hábil, alguns depoimentos podem ser transferidos para amanhã.

Lindemberg foi denunciado por homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima), em relação a Eloá, e uma tentativa de homicídio duplamente qualificado, por ter atirado contra Nayara.

Além disso, é acusado de tentativa de homicídio qualificado por ter feito disparos contra um sargento da Polícia Militar.

A denúncia contra Lindemberg inclui ainda cinco acusações por cárcere privado qualificado, por ter mantido como reféns Eloá, Nayara por duas vezes, e outros dois colegas das adolescentes que estavam no apartamento quando a residência foi invadida por ele.

O réu também foi denunciado quatro vezes por disparo de arma de fogo.