Cultura & Lazer Titulo Jornalismo
Um olhar crítico sobre a mídia brasileira
Por Gabriela Germano
Da TV Press
16/05/2008 | 07:03
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Alberto Dines acredita que o Observatório da Imprensa é fruto das novas tecnologias. "Não tínhamos dinheiro para fazer uma revista e fizemos na internet", resume o jornalista. O projeto, que tem a proposta de acompanhar o desempenho da mídia e discuti-lo abertamente, nasceu em 1996, época em que a rede mundial de computadores ainda engatinhava no Brasil. Em 1998, ganhou espaço na grade da antiga TVE e neste mês completa dez anos de existência, exibido em São Paulo pela TV Cultura às terças, à 0h10. Mas apesar do perfil vanguardista, Dines defende que o importante nessa tarefa é ensinar às pessoas a importância de olhar para trás. "De nada adianta a masturbação tecnológica. As inovações são inevitáveis, mas o importante é o conteúdo. Você tem de olhar para frente sem perder de vista o que ficou para trás", analisa o jornalista.

Quando o projeto Observatório da Imprensa nasceu, era considerado pioneiro mas não queria ser o único a discutir a mídia no País. Hoje é possível dizer que ele rendeu frutos?
ALBERTO DINES - Sim, muitos. É preciso reforçar que o programa de TV, que nasceu há dez anos, é apenas o percurso final de um projeto iniciado em 1996, na internet, e idealizado no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, da Unicamp. Pretendíamos criar um veículo para falar diretamente com o público, mas não tínhamos dinheiro para fazer uma revista. Então optamos pela internet, que ainda era algo novo no Brasil. Hoje, há várias entidades que não têm necessariamente o nome observatório, mas exercem a mesma função, como o Fórum da Democratização dos Meios de Comunicação, só para citar um exemplo.

E na TV, não há espaço para outros programas com a mesma função que o Observatório da Imprensa?
DINES - Em emissoras comerciais não haveria espaço para um projeto como o Observatório. Uma comprovação disso é que no mesmo ano ou no ano seguinte em que estreamos, a GloboNews lançou um programa com o mesmo intuito que não teve continuidade, o N de Notícias. Na época, eles inclusive nos roubaram o Augusto Nunes, que participava de nosso programa direto de São Paulo. Mas a idéia não foi adiante porque é difícil, sobretudo em uma empresa poderosa como a Globo, você dar as caras. É necessário um ‘treinamento espiritual' que no Brasil poucas pessoas estão dispostas a fazer (risos).

Por quê?
DINES - Porque o brasileiro não está acostumado com a transparência, com a responsabilidade pública. Tanto é que quando ainda trabalhava na Folha de S. Paulo e propus ao dono do jornal, Otávio Frias de Oliveira, uma coluna de crítica, não foi fácil convencê-lo. Foi em 1975, uma idéia anterior ao ombudsman que o jornal tem hoje. Eu discutia a mídia de uma maneira ampla, e não apenas o próprio veículo. Quando o Otávio topou, disse que eu ia arranjar inimigos. Evidentemente arranjei. No Brasil é mais difícil fazer isso do que na Europa ou nos Estados Unidos. Mas de qualquer forma somos os mais avançados na América Latina. A Argentina, por exemplo, não tem esse espaço que temos.

Só na TV, são dez anos acompanhando o desempenho da mídia. A cobertura jornalística dos fatos mudou muito nesse tempo?
DINES - Os ingredientes básicos são praticamente os mesmos. Já havia sensacionalismo, dossiês, era moda publicar os grampos. Existia, inclusive, a expressão ‘jornalismo fiteiro'. Fitas secretas chegavam à Redação e eram transcritas sem investigação nenhuma. Nós criticávamos bastante isso. Mas nós ganhamos mais densidade com o tempo. O único programa que comemora os 200 anos da imprensa somos nós. Ninguém faria isso e nem fará. Apesar da cobertura da mídia não ter mudado muito, o que a gente quer mudar é o olhar sobre essas coisas. Ensinar a olhar para trás. A olhada no retrovisor é fundamental. Você olha para frente e para trás. Acredito no avanço tecnológico, mas não se pode olhar fascinado para isso porque daí não vem mudança de conteúdo.

Devem acontecer mudanças no programa. O que já está confirmado?
DINES - Vamos mudar o visual e o formato do programa para que ele ganhe mais velocidade. Ele está engessado há um bom tempo. Mas a essência não muda: vamos sempre discutir a imprensa para a sociedade.




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