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Estação de Campo Grande volta à vida após restauro

Após 20 anos de abandono, terminal foi recuperado e teve características históricas mantidas

Yasmim Assagra
Do Diário do Grande ABC
20/12/2020 | 00:40
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Nario Barbosa/DGABC


Se a pandemia do novo coronavírus tirou o mundo dos trilhos e fez muita gente perder o trem da história, a Vila de Paranapiacaba fecha este ano tão complicado com uma boa notícia. A estação ferroviária de Campo Grande, abandonada há 20 anos, foi completamente reformada e, a partir de 2021, estará pronta para receber os turistas.

Construído em 1889 para ser um ponto de abastecimento de água necessária para a geração de vapor que impulsionava as locomotivas em direção à Capital ou a Santos, o terminal ganhou importância maior e passou a ser utilizado para dar vazão à madeira que aquecia os fornos das olarias (fábricas de tijolos) de Ribeirão Pires e São Caetano.

Além de contribuir para a produção de carvão para alimentar as indústrias que começavam a crescer tanto na Capital quanto em Santos. Chegou a ser usado como ponto de embarque e desembarque para passageiros da CPTM e após a definição da estação final das composições em Rio Grande da Serra, caiu em desuso.

São 300 metros quadrados de área construída, com 7.500 metros quadrados de área externa, que foram recuperados em seus moldes originais. Pode ser apreciada por quem segue pelo asfalto rumo à parte alta de Paranapiacaba e também pelos que cruzam os trilhos e encaram a estrada de chão batido em direção à parte baixa.

Para que os traços históricos da estação fossem revitalizados, cerca de 40 profissioais atuaram na obra. Eles deram vida ao monumento utilizando peças que fizeram parte da construção original, como as telhas, tijolos, madeiramento estrutural da cobertura e argamassa de revestimento. “O projeto inicial já previa as réplicas das janelas. Claro que alguns elementos não conseguimos reaproveitar 100%. Então, identificamos a espécie da madeira usada em uma janela, por exemplo, e conseguimos reproduzi-la, usando novos elementos mas não perdendo a verdadeira história”, destaca a arquiteta responsável pela obra, Fabiula Domingues. Até os detalhes da decoração da marquise tiveram de ser refeitos, com auxílio de um levantamento cadastral com imagens antigas.

Um dos desafios do restauro foi driblar as condições climáticas. É sempre bom lembrar que a vila está no alto da Serra do Mar e o tempo muda constantemente. “É uma região muito úmida. Toda vez que tinha uma atividade externa programada, consultávamos a meteorologia uns dois dias antes e, caso o tempo ficasse chuvoso, aproveitávamos aquele dia para fazer as tarefas internas e depois, marcávamos para continuar na parte externa”, comenta a arquiteta.
A profissional ainda lembra que o local estava em péssimas condições de conservação, com mato alto, lixo e até risco de desabamentos, o que foi agravado com um incêndio ocorrido em 2010.

Além do restauro estrutural, também foi recuperado o piso,alambrado, realizada a preparação do solo para o estacionamento, colocação de postes de luz e nova iluminação.

DESTINO
A chave da Estação Ferroviária de Campo Grande foi entregue para a MRS Logística. A concessionária de transporte de carga, a partir de 2021, utilizará o local como centro de controle operacional de suas composições. Os trens trafegam em direção ao Porto de Santos ou no sentido da Capital, levando mercadorias para o Interior ou outros destinos.
A obra foi patrocinada pela MRS, com apoio da Prefeitura de Santo André e realizada por meio da Lei de Incentivo à Cultura, com valor aprovado de R$ 1,7 milhão.  

Recuperação abrange outros monumentos na vila inglesa

Diversos pontos na Vila de Paranapiacaba passaram por intervenções, como o Museu Castelo, a Igreja do Senhor Bom Jesus de Paranapiacaba e a garagem das locomotivas, utilizada hoje como estação do Expresso Turístico da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), além da Torre do Relógio, que foi restaurada em junho de 2019. 

 Em agosto foram entregues as cabines de comando e sinais, na parte baixa da Vila, que também foram reparadas, em parceria com a MRS Logística, e uma academia ao ar livre, com 14 equipamentos. 

 A série de obras cria expectativa para a possível retomada do turismo em 2021. “Desde 2017, o empenho está sendo muito grande na recuperação dos símbolos históricos pela região. Entendemos que a estação ferroviária (Campo Grande) somada a tudo o que a vila vem recebendo de obras, é de extrema importância para todos os moradores e comerciantes, resgatando a verdadeira história, que antes desse período, estava esquecida”, detalha o diretor de Gestão de Paranapiacaba e Parque Andreense, Eric Lamarca. 

 Além da estação ser porta de entrada para a vila, Lamarca aposta que completará a qualidade do turismo após sua retomada. “Entendemos que o impacto será muito positivo. Com tudo isso, vamos buscar que Paranapiacaba seja um destino de referência nacional, por todo valor que carrega”, reforça. 

 Em 2021, será restaurado o campo de futebol União Vila Serrano, que foi o primeiro construído com medidas oficiais para o esporte no Brasil. 

 A Vila de Paranapiacaba segue aberta para visitação seguindo as restrições e protocolos de higiene por conta da Covid-19. Na região, apenas os Museus seguem fechados.

Profissionais promoveram oficinas com os moradores 

Durante os dez meses de obra na estação ferroviária, foram oferecidas atividades educativas on-line para moradores e comerciantes de Paranapiacaba, organizadas por doutores e mestres integrantes da Repep (Rede Paulista de Educação Patrimonial). A iniciativa resultou no Inventário Participativo do Patrimônio Cultural, elaborado pelos pesquisadores e disponibilizado à população e à Prefeitura, que reúne informações sobre os mais de 130 anos de história da estação e da região onde está localizada. 

 A equipe organizou dois encontros on-line – que seriam presenciais, mas por conta da Covid-19 tiveram o formato alterado – voltados para interessados nas áreas de cultura, educação e, em especial, a agentes culturais, professores, estudantes e moradores de Santo André e Rio Grande da Serra, que trataram dos temas história e preservação, com o objetivo de informar a população sobre as riquezas da região e o incentivo na preservação dos patrimônios. 

 Na visita à obra pela equipe do do Diário, a arquiteta Fabiula Domingues destacou a importância dos moradores conhecerem a estação e também, demais pontos da Vila. “Entendemos que, neste caso da estação, a restauração terá uma função extremamente importante, pois vamos utilizar este espaço, mas precisamos ir além com a população, justamente, promovendo afetividade com o local”, destacou.

 A estação também recebeu oficinas de artes e ofícios que ofereceram qualificação aos munícipes, como palestras técnicas de restauro de elementos em ferro e atividades de operário, marceneiro, pedreiro e eletricista. 




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