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Antes da derrota no mínimo, José Dirceu dizia estar confiante
18/06/2004 | 00:37
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Horas antes da derrota do governo na votação do salário mínimo, que escancarou a anemia da articulação política, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, dizia estar "confiante" na aprovação do piso de R$ 260. Ao falar com senadores pelo celular, durante encontro com empresários e governadores do Nordeste num hotel de Brasília, Dirceu procurava demonstrar sintonia com o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, com quem trava uma acirrada disputa de poder nos bastidores. "Estou ajudando o ministro Aldo", afirmava. "Estamos trabalhando juntos."

Depois das queixas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, furioso com a rede de intrigas que invadiu o Palácio do Planalto, o chefe da Casa Civil tentou mostrar humildade. Aos repórteres que o abordaram, repetiu três vezes que só estava conversando com os senadores "a pedido do ministro Aldo". Desde as 18hs desta quinta-feira, Dirceu e Rebelo acompanharam junto com Lula, no Planalto, os tensos momentos da votação no Senado.

O chefe da Casa Civil estava abatido desde cedo. Às 14h, almoçou com os governadores Ronaldo Lessa (Alagoas), Roberto Requião (Paraná), Paulo Hartung (Espírito Santo), Wellington Dias (Piauí) e com representantes de outros 15 Estados. Ao participar do encontro da Coalizão de Governadores Pró-Etanol, como foi denominado o grupo, tentava seguir a recomendação de Lula para "mergulhar de cabeça" no gerenciamento do governo. Mas não tinha sossego. Não se passavam dez minutos sem que seu celular tocasse. Assunto: salário mínimo.

Ajuda - "Eu bem que tentei ajudar o governo, mas não obtive sucesso", contou Lessa, no almoço com Dirceu. "Mas o Valladares nem sequer retornou as minhas ligações", emendou, numa referência ao senador Antônio Carlos Valladares (PSB-SE), aplaudido em plenário pela oposição ao discursar a favor do mínimo de R$ 275.

Requião, por sua vez, falava abertamente contra a proposta do governo. "Eu, se pudesse, mandava todo mundo votar contra mesmo", dizia o peemedebista, irritado com o Planalto. "O mínimo tinha de ser de R$ 300." O governador do Paraná não se cansava de chamar o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, de "Malan de Ribeirão Preto". "Dava muito bem para aumentar o mínimo, mas ele só está preocupado com o superávit primário, como Pedro Malan."

Alheio aos comentários, Dirceu continuava entremeando a conversa com as ligações telefônicas. "Está tudo certo", insistia. Questionado se não seria melhor adiar a votação, diante da dificuldade do governo, Dirceu desconversou. "Eu não acredito nisso, mas quem decide é o ministro Mercadante." Agitado, nem percebeu o ato falho: chamou de ministro o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).




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