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População lamenta saída de médicos cubanos da região

Munícipes temem ficar desassistidos; Ministério da Saúde abre hoje seleção de novos profissionais

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
20/11/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


A população que já é atendida pelos cubanos no programa Mais Médicos lamenta a saída dos profissionais do Brasil. O Ministério da Saúde Pública de Cuba anunciou, na semana passada, que não vai mais participar da iniciativa e que os cubanos vão deixar seus postos de trabalho, devido a divergências políticas sobre mudanças nas regras da parceria.

No Grande ABC são 81 os médicos cubanos, mais da metade dos 151 profissionais que integram o programa Mais Médicos. Na UBS São Pedro, que atende a maior população em São Bernardo (cerca de 65 mil pessoas), os moradores se mostraram preocupados com a possibilidade de ficar sem atendimento dos três profissionais que trabalham no equipamento. Dos 40 médicos que atuam por meio do programa na cidade, 17 são do país caribenho.

A recepcionista Letícia de Souza, 45 anos, já acompanhou a mãe em consulta com um dos profissionais que integram a parceria e as duas aprovam a atuação. “Precisamos deles aqui”, pontua. A dona de casa Adma Neves, 42, classifica como “deplorável” a saída dos cubanos do programa, criado em 2013 para levar médicos de atenção básica às periferias e regiões mais afastadas do País. “Se houvesse condições de colocar médicos brasileiros, já teriam vindo. São eles que não querem”, afirma. “A gente é a favor que todos continuem”, completa o metalúrgico Gilberto da Silva, 47.

A dona de casa Magna Silva, 26, foi atendida durante todo o pré-natal por uma médica cubana e avalia que, com a mudança, a população vai ficar desassistida. “Deveriam ficar. São ótimos profissionais.”

A auxiliar de cozinha Tamires Pacheco, 29, é a favor de que os médicos continuem na região, mas concorda com o entendimento do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), de que os profissionais devem passar por exame de validação de seus diplomas. “Fazem a prova e, se estiver tudo certo, continuam”, opina. A regularização dos pagamentos – parte do salário dos médicos de Cuba é repassada para o governo cubano, conforme prevê o contrato de parceria – também foi citada pela técnica de farmácia Nina Thaisa Lima, 25, como situação a ser resolvida em prol da permanência dos profissionais na região. “A comunidade perde.”

A equipe do Diário entrou em contato com três médicos cubanos que atuam na região, mas nenhum quis dar entrevistas. A Prefeitura de São Bernardo não autorizou que os profissionais da rede municipal fossem entrevistados para opinar sobre a decisão do governo cubano, sob alegação de que “ainda estão aguardando posicionamento do Ministério da Saúde”.

EDITAL
O Ministério da Saúde lança hoje edital para recrutamento de novos profissionais para o Mais Médicos. Poderão se inscrever profissionais brasileiros com registro no CRM (Conselho Regional de Medicina) do Brasil ou com diploma revalidado no País. Serão abertas 8.517 vagas para atuação em 2.824 municípios e 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas, que antes eram ocupadas por médicos da cooperação com Cuba.

As inscrições começam a partir das 8h e seguem até o dia 25. Os profissionais podem se inscrever por meio do site maismedicos.gov.br. O início das atividades está previsto para 3 de dezembro. A expectativa do ministro da Saúde, Gilberto Occhi, é a de que os cubanos deixem o Brasil até 12 de dezembro. O governo brasileiro não vai atuar na logística.

Especialista prevê dificuldades para atendimento aos moradores

Responsável pela disciplina de Saúde Coletiva da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Vânia Barbosa do Nascimento avalia que a saída dos profissionais cubanos do programa Mais Médicos – dos 151 que atuam no Grande ABC, 81 são de Cuba – vai significar período de dificuldade para as prefeituras e para população. “Agendas já estão sendo bloqueadas e essa demanda terá que ser atendida pelos profissionais que ficam”, declara.

Vânia destaca que ainda que o governo tenha anunciado novo edital (lançado hoje), são mais de 8.000 vagas para serem supridas, o que levará tempo. “Acho que vai ser um caos.” Para a especialista, a exigência de revalidação dos diplomas dos médicos cubanos é uma medida desnecessária. “Todos já são avaliados, passam por provas, são acompanhados de perto pelo governo federal e pelas prefeituras, e os que não estão de acordo com os padrões são substituídos ou encaminhados para novas formações.” 




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