Cultura & Lazer Titulo
O despertar da curiosidade
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
12/10/2011 | 07:01
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Um espetáculo para curiosos, é assim que a pesquisadora teatral Maria Thais - que elaborou o projeto pedagógico da Escola Livre de Teatro de Santo André - define 'Prometheus - A Tragédia do Fogo', que a Cia Teatro Balagan estreia na sexta, em São Paulo. Ela assina a encenação da peça.

Curioso também é o processo de montagem, que guarda algumas semelhanças da proposta de Maria Thais para a ELT. Há mais de três anos e meio a companhia começou a transpor o mito grego para o palco, passando pela experiência com o público para reformulá-lo até que chegasse a esta versão.

"Quando você valoriza o processo, é uma tentativa de trabalhar mais nele do que no resultado. Quando se pesquisa, se assume postura radical, tudo vai se recolocando, encontrando novos papéis, maneiras de fazer parcerias e outros temas", conta Maria Thais.

Ela acredita que a similaridade da montagem com o processo da ELT tem a ver com encarar o teatro como artesanato. "São pessoas que realmente se dedicam ao ofício e têm a paciência de ourives. Ninguém necessariamente faz uma joia, mas o protótipo de algo que se forma mais para frente."

Com dramaturgia de Leonardo Moreira construída a partir de estudos cênicos do elenco com base em textos sobre o personagem mitológico, entre eles o de Ésquilo, Heiner Müller, André Gide e Franz Kafka, a montagem parte do aspecto construtor e destruidor de Prometeu, que roubou o fogo dos deuses e o entregou aos humanos.

"O mito é isso, construção e destruição, e essa dinâmica é correspondente à nossa existência como humanos", diz Maria Thais, que prefere representá-lo como o ser que apresentou a transgressão aos homens ao invés do herói.

Para transformar um só Prometeu no Prometheus do título, a peça utiliza um coro (que representa um pedaço do personagem em cada um de nós) como mediador da ação cênica, que também ganha representatividade através dos movimentos, em balaio que cruza o canto grego com as danças afro-brasileiras.

"O teatro é uma estrutura polifônica. Todas as vozes são muito importantes, são carregadas de sentido tanto quanto a palavra", diz a responsável pela encenação, que argumenta que cada uma dessas representações no contato com o público encerra uma infinidade de interpretações. "Às vezes o espectador fica tocado por determinados elementos e faz leituras surpreendentes de coisas para as quais demos sentido, mas não soubemos nomear."

Entre os contatos estabelecidos com pessoas de fora do processo, Maria Thais se surpreendeu com o dos jovens. "Eles tiveram uma relação viva e horizontal com o espetáculo, capacidade de ajuste. Geralmente, o espectador vai ao teatro ouvir uma história, ver algo que ele já conhece, mas descobrimos que há também o curioso. Você pode não entender, mas algumas coisas saem dali e você vai atrás delas."

Para ela, o resultado da busca não encerra uma conclusão, e sim o princípio de uma busca, tal qual a dos processos de pesquisa. "A potência do teatro talvez seja a de tornar o espectador um curioso para o mundo. O sentido do espetáculo se faz mesmo no público, não antes dele. Propomos possibilidades, mas verdade acontece entre a obra e ele."

DISCUSSÃO
A partir do dia 26, todas as quartas, às 20h, encontros gratuitos, que rolarão até 23 de novembro, trazem especialistas discutindo a gênese da tragédia, desde os tempos gregos até o contemporâneo. A programação pode ser vista no site www.ciateatrobalagan.com.br.

Prometheus - A Tragédia do Fogo - Teatro. No Tusp - Rua Maria Antônia, 294, São Paulo. Tel.: 3123-5233. 5ª a sáb., às 21h e dom., às 19h. Ingr.:R$ 20. Até 4 de dezembro.




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