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Eles planejam o próprio velório, em família
Isis Mastromano Correia
Do Diário do Grande ABC
06/01/2008 | 07:01
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Escolher o vestido de noiva, o bolo de aniversário, a beca da formatura e, por que não, antever o próprio enterro? Calma, não se assuste, é que existe uma parcela, pequena, que não encara a única certeza da vida como coisa de outro mundo.

A funcionária pública Tania Siqueira, 45 anos, de São Caetano, já decretou: “Quero ser cremada.” Até aí, nada de incomum não fosse a vontade dela de registrar o desejo em cartório, com a exigência adicional de que se toque durante a cerimônia as músicas Uma vez Mais, de Ivo Pessoa, Eu Sei, de Papas na Línguas, e O Portão, de Roberto Carlos.

Mas, não basta cremar e tocar as músicas. Os parentes devem jogar as cinzas no zoológico, junto aos bichos. “Adoro animais. E para garantir que nada saia fora da programação, a moradora de São Caetano paga uma espécie de seguro para garantir a cremação.

O economista Maurício Martins Barbieri, 46 anos, tem desejos semelhantes para depois da morte. Torcedor fanático do Santo André, já tornou público a vontade de ter suas cinzas espalhadas pelo gramado do Estádio Bruno Daniel.

A família, claro, não quer nem tocar no assunto, mas Barbieri garante que o fato de querer planejar seu fim não significa chamar a morte.

“Eu tinha deixado esse desejo escrito numa agenda, em 1983, mas acabei perdendo esse atestado. Tinha até testemunha”, garante o economista. “Levar o nome do Santo André é minha bandeira.”

CONGELADO - O dermatologista paulista Valcinir Bedin, 52 anos, é mais ousado: após a morte, quer ter o corpo congelado em um laboratório nos Estados Unidos. A técnica é chamada de criogenia e a expectativa é que, com o avanço da Ciência, seja possível fazer o organismo reviver no futuro.

O único laboratório a realizar o processo é o Alcor Life, no Arizona, e o dermatologista, o único brasileiro a fazer parte do programa de congelamento. “Faz 15 anos que estou inscrito.”

O desejo custa caro. O médico tem de desembolsar R$ 100 por mês para que sua vontade seja cumprida. Ele tem um seguro de vida de US$ 150 mil, tendo a empresa americana como beneficiária.

Quando morrer, a família de Bedin terá apenas 24 horas para encaminhar o cadáver até o laboratório. Apesar do esforço, o dermatologista tem consciência de que nada garante que um dia seu corpo voltará à vida, mas, se voltar, aposta que não terá dificuldades em adaptar-se ao novo.

E para quem pensa que o médico gosta da morte, engana-se. “Gosto tanto da vida que quero prolongá-la o máximo possível.”

MEDO - Para a psicóloga Marta Lins, o medo da morte é inerente ao ser humano, entretanto, os que encaram com naturalidade não são malucos, como alguns podem apontar.

“Na verdade temos medo de tudo o que é desconhecido. É importante sentir medo, é uma defesa, mas não se pode deixar chegar ao extremo”, explica Marta.



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