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Livro traz arte feita em penitenciárias femininas
Adriana Feder
Especial para o Diário
25/04/2010 | 07:00
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A arte extraída de um ambiente onde não há liberdade é o conteúdo do livro O Direto do Olhar - Publicar para Replicar, que será lançado na quarta-feira, dia 28, às 10h30, no Lions Nightclub (Av. Brigadeiro Luís Antônio, 277), em São Paulo. A obra é resultado de concurso cultural realizado, em 2005, em unidades do sistema prisional feminino da Capital.

O objetivo foi incentivar internas a exporem seus sonhos e expectativas, fazendo com que elas e agentes carcerárias trabalhassem em produções artísticas. Promovido pelo Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), o projeto O Direito do Olhar durou seis meses dentro das penitenciárias, hospitais de custódia e unidades da Fundação Casa (ex-Febem).

"A ideia é mostrar a beleza que ainda pode e deve ser gerada em um ambiente de privação de liberdade, além de chamar a atenção para a questão das mulheres presas, já que a maioria dos projetos são realizados para homens", afirma Luciana Zafallon, coordenadora do IDDD.

O concurso teve apoio da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro e da Fundação Conrado Wessel. De um universo de cerca de 3.700 mulheres e adolescentes, 680 se inscreveram espontaneamente para participar. Foram selecionadas 120 em cada categoria (desenho, fotografia e literatura), somando 360 participantes. Além delas, duas funcionárias de cada estabelecimento concorreram em cada modalidade artística.

NOVA EDIÇÃO - Todo documentado, o projeto sai agora em livro como uma forma de pedido para que o concurso seja reeditado. "Quando percebemos o potencial do trabalho que havia sido produzido pelas moças e os benefícios que o concurso tinha trazido para elas, como o resgate da autoestima, passamos a desejar que ele seja repetido", afirma Flávia, que também destaca como os resultados são capazes de fazer a sociedade "olhar essas mulheres de uma forma mais humana".

A obra reúne os poemas, contos, desenhos e fotografias gerados pela atividade - alguns contemplados com prêmios e menções honrosas -, além de depoimentos de algumas das participantes. Um vídeo-documentário, que registra todo o processo, acompanha o livro.

O prefácio é do cantor, compositor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil e o posfácio, de Márcio Thomaz Bastos, advogado criminal, ex-ministro da Justiça e idealizador do IDDD. A publicação traz textos de Flávia Rahal e Luís Guilherme Vieira, respectivamente, presidente e diretor cultural do instituto. Há ainda depoimentos de alguns dos jurados: Ricardo Ohtake (Instituto Tomie Ohtake), Noélia Coutinho (Projeto Portinari), Drauzio Varella (médico e escritor), a jornalista Marina Amaral, Eduardo Muylaert (advogado e fotógrafo) e Iatã Cannabrava (fotógrafo). O livro será distribuído para bibliotecas municipais e estaduais de todo o País. Não será vendido em livrarias.

EXPOSIÇÃO - O produto do concurso também se transformou em exposição, que já esteve no Centro Cultural Tomie Ohtake, Conjunto Nacional e em estações do Metrô paulistano. Ontem, a mostra seria aberta no Espaço Cultural do Novolhar (Rua 13 de maio, 361), onde fica até o fim de maio.

Antes do início do concurso, foram realizadas oficinas artísticas. "Distribuímos câmeras descartáveis e elas fizeram as fotos. O resultado do trabalho é surpreendente. Elas têm um olhar muito aguçado, os elementos de seu dia a dia estão bem mais expostos, há uma autenticidade muito maior", afirma Paulo Santiago, fundador da Associação Novolhar, principal parceiro do IDDD no projeto.

O Direito do Olhar recebeu, em 2005, moção de aplauso e congratulação do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça e menção honrosa no Prêmio Betinho - Cidadania e Democracia.




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