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Sesc comemora cinquentenário da morte de Graciliano
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
08/03/2003 | 17:35
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Há várias efemérides relacionadas ao escritor alagoano Graciliano Ramos (1892-1953) nos 50 anos de sua morte. Além do cinqüentenário, são 70 anos da publicação de Caetés (1933), primeiro livro do autor, 40 da estréia do filme Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, que dirigiu também Memórias do Cárcere (1983) há duas décadas, e 30 anos do lançamento de São Bernardo (1973), de Leon Hirszman.

As duas primeiras datas são lembradas pelo Sesc Pompéia na mostra O Chão de Graciliano, que também programou exibição dos filmes inspirados em seus livros. A editora Record relançará este ano a obra completa do autor, com textos a partir de seus manuscritos originais e primeiras edições que se encontram no arquivo do IEB (Instituto de Estudos Brasileiros da USP) e novo projeto gráfico, com capas de Evelyn Grumach.

O pessimismo e limpeza de estilo do autor aparecem melhor em Vidas Secas (1938) e São Bernardo (1934). O meio não lhe importava, mas sim a dilacerante consciência da condição humana rarefeita na caatinga. O homem e sua alma é o que universaliza sua obra. Escrever, para ele, era um ato de concisão, de limpeza, de despojamento, sem ambigüidade. “A palavra não foi feita para enfeitar, para brilhar feito ouro falso; a palavra foi feita para dizer”.

Vidas Secas está na vanguarda da narrativa literária brasileira, mas foi um fracasso na estréia, lançado em três edições até sua morte, e hoje um dos títulos mais vendidos da Record. A saga dos retirantes Fabiano, um galego do sertão, sinhá Vitória, sua mulher cafuza, e seus filhos, menino mais novo e menino mais velho, e a cadela Baleia é a luta diária pela sobrevivência.

Graciliano nasceu em Quebrangulo e estudou em Viçosa e Maceió. Em 1910, mudou-se para Palmeira dos Índios, onde foi prefeito em 1927. Seus relatórios bem escritos e nada burocráticos ao governador sinalizavam o nascente escritor que burilava Caetés desde 1925. A militância comunista levou o escritor ao cárcere em 1936, deportado para o presídio de Ilha Grande (RJ). Instalou-se no Rio e entrou para o Partido Comunista em 1945.

Graciliano acordava de madrugada para se dedicar a Vidas Secas. Acendia um cigarro, tomava um gole de cachaça e escrevia lentamente. Com o barulho das filhas nas primeiras horas da manhã, ralhava: “Quietas, excomungadas do diabo!”. Após o almoço, quando elas regressavam à casa, lhes dedicava seu tempo livre.

Sua defesa contra a timidez era chocar, com tiradas abruptas. Em 1937, em uma pensão no Rio, um admirador de Victor Hugo perguntou o que achava do autor de Os Miseráveis. “Ele era uma besta”, disse. Ou a resposta a um “bom dia” do crítico Otto Maria Carpeaux: “Você acha mesmo?”. Era capaz também de pegar suas filhas no colo e ensinar-lhes palavrões. Esses e outros relatos estão na biografia O Velho Graça (Editora José Olympio), do jornalista Dênis de Moraes.




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