As duas primeiras datas são lembradas pelo Sesc Pompéia na mostra O Chão de Graciliano, que também programou exibição dos filmes inspirados em seus livros. A editora Record relançará este ano a obra completa do autor, com textos a partir de seus manuscritos originais e primeiras edições que se encontram no arquivo do IEB (Instituto de Estudos Brasileiros da USP) e novo projeto gráfico, com capas de Evelyn Grumach.
O pessimismo e limpeza de estilo do autor aparecem melhor em Vidas Secas (1938) e São Bernardo (1934). O meio não lhe importava, mas sim a dilacerante consciência da condição humana rarefeita na caatinga. O homem e sua alma é o que universaliza sua obra. Escrever, para ele, era um ato de concisão, de limpeza, de despojamento, sem ambigüidade. “A palavra não foi feita para enfeitar, para brilhar feito ouro falso; a palavra foi feita para dizer”.
Vidas Secas está na vanguarda da narrativa literária brasileira, mas foi um fracasso na estréia, lançado em três edições até sua morte, e hoje um dos títulos mais vendidos da Record. A saga dos retirantes Fabiano, um galego do sertão, sinhá Vitória, sua mulher cafuza, e seus filhos, menino mais novo e menino mais velho, e a cadela Baleia é a luta diária pela sobrevivência.
Graciliano nasceu em Quebrangulo e estudou em Viçosa e Maceió. Em 1910, mudou-se para Palmeira dos Índios, onde foi prefeito em 1927. Seus relatórios bem escritos e nada burocráticos ao governador sinalizavam o nascente escritor que burilava Caetés desde 1925. A militância comunista levou o escritor ao cárcere em 1936, deportado para o presídio de Ilha Grande (RJ). Instalou-se no Rio e entrou para o Partido Comunista em 1945.
Graciliano acordava de madrugada para se dedicar a Vidas Secas. Acendia um cigarro, tomava um gole de cachaça e escrevia lentamente. Com o barulho das filhas nas primeiras horas da manhã, ralhava: “Quietas, excomungadas do diabo!”. Após o almoço, quando elas regressavam à casa, lhes dedicava seu tempo livre.
Sua defesa contra a timidez era chocar, com tiradas abruptas. Em 1937, em uma pensão no Rio, um admirador de Victor Hugo perguntou o que achava do autor de Os Miseráveis. “Ele era uma besta”, disse. Ou a resposta a um “bom dia” do crítico Otto Maria Carpeaux: “Você acha mesmo?”. Era capaz também de pegar suas filhas no colo e ensinar-lhes palavrões. Esses e outros relatos estão na biografia O Velho Graça (Editora José Olympio), do jornalista Dênis de Moraes.
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