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Na Vila Linda, beleza negra faz jus ao nome do bairro andreense

Salão especializado ressalta a beleza e a essência dos penteados de origem africana

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
03/01/2015 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Na Vila Linda, em Santo André, a beleza não está somente no nome, mas também em suas moradoras, principalmente, as mulheres negras. Isso porque o bairro conta com o salão de cabeleireiro Musa Black, localizado na Rua Carijós, que realça ainda mais o esplendor desse público, que é a essência do Brasil.

Há 11 anos, a cabeleireira Joyce dos Santos Costa, 29 anos, é especialista em penteados afro. A ideia de trabalhar neste segmento surgiu de uma necessidade pessoal. “Eu precisava fazer algumas coisas no meu cabelo, aprendi técnicas e usava em mim mesma. Mas, a partir daí, as amigas começaram a pedir, e depois sugerir para as colegas delas. Fui fazendo cursos para me aperfeiçoar e, depois de alguns anos trabalhando em salões, abri o meu próprio negócio”, lembra, salientando que o estabelecimento trabalha também com outros tipos de cabelos.

Entre os serviços mais pedidos está o alongamento, feitos com fios naturais. “É o método que as clientes mais gostam e que está mais em alta”, fala a profissional.

Cheias de estilo e atitude, as tranças também são bastante procuradas. A auxiliar de faturamento Hingridi Candido, 32 anos, foi até o salão fazer o procedimento com fios de cabelo sintético, que leva de quatro a cinco horas para ficar pronto e tem duração de três meses. “Fica muito bonito, a demora compensa. Começo o ano com visual renovado”, diz.

Diariamente, passam pelo salão de duas a três clientes. O número limitado é em razão do tempo que certos penteados levam para ser feitos, como é o caso das tranças.

Joyce conta com o trabalho de mais duas profissionais, Solange Rezende, 37 e Iara Aparecida, 24. O desejo em comum de deixar as mulheres ainda mais belas foi o que uniu o trio. “As conheci através do cabelo”, fala.

A proprietária do salão ressalta que as mulheres negras têm deixado de lado a busca por processos de alisamento. Grande influência está nas estrelas da mídia.

“Antes elas faziam progressiva, chapinha e hoje elas estão valorizando mais os cachos, gostando mais de tranças, que estão em evidência agora. Na TV, as artistas negras estão usando muito o cabelo crespo, então, as mulheres estão criando mais coragem para assumir esse tipo de visual”, pontua, citando alguns visuais que as clientes querem copiar. “Elas gostam muito do tom louro do cabelo da cantora Beyoncé. O cacheado curtinho da atriz Taís Araújo também é bastante solicitado.”

Além da beleza natural, a naturalidade das madeixas das mulheres negras traz benefícios para a saúde capilar. “Sem química, deixando o cabelo natural, ele fica mais resistente e saudável.”

Fruta exótica é carro chefe de vendedor

Ao olhar de longe, muita gente pensa que as frutas exibidas na carriola de Aparecido dos Santos Rosa, 47 anos, é limão galego. Mas ao aproximar-se e perguntar a ele, descobre-se que é umbu, fruta originária do sertão nordestino e que pertence à família do cajá e do caju.

Morador do bairro, ele percorre diariamente as ruas da região e também de outras cidades para vender o produto exótico.

As raízes do umbu são depósitos de água: chegam a acumular até 1.500 litros. No verão, os frutos brotam dos galhos em grande quantidade. Por essa razão, o escritor Euclides da Cunha, no livro Os Sertões, batizou o umbuzeiro como a árvore sagrada da caatinga.

O umbu despertou a atenção de Rosa aos 15 anos. “Experimentei e, apesar de ela ser azedinha, eu gostei e comecei a vender”, lembra ele, que é natural de Santo André.

O ambulante atua pelas ruas há 20 anos. Com a safra estendendo-se de janeiro a abril, ele dedica-se à venda da fruta nesse período, juntamente com a seriguela. “Fora da temporada, vendo mandioca, coentro e pequi.”

Duas vezes por semana, Rosa chega às 7h no Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), na Capital, para garantir seu estoque. Geralmente, pega quatro sacos de umbu que, segundo ele, totalizam 240 quilos. Cada embalagem com meio quilo é revendida por R$ 3,50. “Tiro uns R$ 100 por dia”, conta.

Fonte de proteínas, o umbu apresenta em sua composição ferro, fósforo e cálcio, além das vitaminas A, B1, B2 e C. Consumida geralmente em forma de sucos, Rosa dá uma receita tradicional do Nordeste: a umbuzada. “Você cozinha o umbu, deixa esfriar e bate no liquidificador com leite e leite condensado. Peneire e está pronto. É muito gostoso”, garante.

Lotérica é conhecida como pé quente por fazer milionário

A Vila Linda poderia também ter o nome de Vila da Sorte. Em julho do ano passado, um morador de Santo André ficou milionário ao fazer uma aposta em lotérica localizada na Rua Carijós. O sortudo acertou as seis dezenas da Mega Sena e dividiu com outro ganhador, de Minas Gerais, o prêmio de R$ 32,1 milhões.

A notícia de que a aposta bem-sucedida foi feita no bairro provocou euforia na época, efeito que dura até os dias de hoje.

“Eu creio que o raio possa cair duas vezes no mesmo lugar. Nada é impossível”, disse a dona de casa Fernanda Regina Bertacini, 34 anos.

Aqui é pé quente, por isso, sempre jogo aqui”, falou o aposentado Jurandir Vieira, 71, enquanto fazia uma ‘fezinha’.

O histórico da casa lotérica comprova a fama. Em setembro de 2013, também foi feita na agência uma das 66 apostas vencedoras da Lotofácil da Independência. O prêmio pagou R$ 1,1 milhão.

Orquestra de Cordas é destaque no Cesa do bairro

Do Cesa (Centro Educacional de Santo André) Vila Linda saem requintados acordes de violino, violoncelo e contrabaixo. A melodia vem da Orquestra de Cordas, que faz parte do projeto programa Música na Escola, iniciado no segundo semestre de 2013.

Cerca de 60 crianças da rede municipal de ensino, com idade entre 6 e 10 anos, participam das aulas instrumentais no contraturno escolar. A orquestra tem capacidade para atender 80 estudantes. A partir de fevereiro, quando as aulas nas escolas municipais serão retomadas, haverá abertura de matrículas.

O grupo foi destaque em evento que integrou o calendário do Natal da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), no mês passado. Concerto envolvendo vinte crianças emocionou o público no Paço Municipal.

Mais do que o prazer de tocar, a orquestra traz grandes ganhos no desenvolvimento dos participantes, ressalta a gerente de projetos educacionais da Prefeitura, Claudia Cristina Felician Lima. “Auxilia na parte afetiva, cognitiva, emocional e social, ampliando a possibilidade de aprendizado das crianças. Isso faz muita diferença no percurso.” 




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