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Princesa cheia de princípios

Isabel promulgou a alforria de escravos porque não
admitia manter humanos em cativeiro, mostra livro

Evaldo Novelini
Do Diário do Grande ABC
11/11/2014 | 07:26
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Divulgação


Desde que o Brasil instituiu em 2011 o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, a figura da princesa Isabel de Bragança e Bourbon (1846-1921) vem sendo eclipsada pela de Zumbi dos Palmares (1655-1695). A justificativa é a de que o líder da insurreição dos escravos contra a opressão dos brancos teria mais legitimidade para representar a causa do que a herdeira da coroa imperial. Mas um livro escrito pela jornalista paulistana Regina Echeverria pretende resgatar a imagem e a importância da regente para a causa abolicionista.

A História da Princesa Isabel: Amor, Liberdade e Exílio</CF> (Versal Editores, 352 páginas, R$ 49) será lançado na segunda-feira, a partir das 18h30, na Livraria da Vila da Rua Fradique Coutinho, 893, Vila Madalena, na Capital. A obra mostra que Isabel, filha do imperador Dom Pedro II e da imperatriz Tereza Cristina, era mulher à frente de sua época. Além de defensora da libertação dos escravos, pela qual acabou sendo diretamente responsável, há documentos que indicam que ela era favorável ao voto feminino. Isso na sociedade extremamente patriarcal do século 19.

Regina conta que nunca conseguiu compreender a resistência dos movimentos negros à princesa. A autora garante que Isabel aboliu a escravatura por princípios e não por conveniência política, já que havia pressão internacional sobre o Brasil, o último país do planeta a manter negros em cativeiro. E que, com a Lei Áurea, ela contrariou inclusive os interesses do pai. “Dom Pedro II nunca faria o mesmo, pois estava muito comprometido com os donos de terras, proprietários de escravos”, relata.

Isabel assinou a Lei Áurea em 13 de maio de 1888, um domingo, aproveitando que se encontrava na regência do País, pela terceira vez, enquanto o pai viajava pelo Exterior. Antes de abolir a escravidão, ela já havia sancionado em 1871 a Lei do Ventre Livre, que libertava filhos de escravos nascidos no Brasil.

Como prova de que os negros da época ficaram agradecidos ao gesto da princesa, Regina lembra que, no ano seguinte à Lei Áurea, quando os militares deram o golpe para proclamar a República, uma força especial denominada Guarda Negra, formada exclusivamente por ex-escravos, insurgiu-se contra os republicanos com o propósito de restaurar a monarquia e entregar o trono a Isabel.

O livro é todo baseado em documentos. Os principais foram obtidos em arquivos raros sobre a família imperial e incluem centenas de cartas que a princesa escreveu aos pais e o marido, conde D’Eu (1842-1922). A pesquisa demorou dois anos porque grande parte das missivas precisou ser traduzida do francês.

As conversas com os familiares revelam uma pessoa comprometida com o bem-estar social e também bastante humorada. Em uma das cartas, conta a escritora, Isabel escreve ao pai, que não se encontra no Brasil, e diz que está se sentindo como o próprio imperador. “Menos a barriguinha”, caçoa, fazendo referência à famosa panturra de Dom Pedro II.

Os escritos da princesa são apenas parte da história. Regina também se vale de outros registros e análises históricos para compor vasto panorama do período imperial, enriquecido com detalhes dos bastidores da corte. Isabel, por exemplo, sofria de preconceito por ser casada com um estrangeiro – D’Eu era francês.

A biografia resgata a história da princesa Isabel desde o nascimento, em 1846, no Palácio de São Cristóvão, Rio de Janeiro, até a morte, em 1921, desterrada a mando dos republicanos, no castelo da família na região da Normandia. “Ela ficou muito traumatizada com o exílio, tanto que nunca quis voltar ao Brasil”, finaliza Regina.

Plano de biografar o estilista Clodovil está ameaçado por causa de legislação - A insegurança jurídica causada pela legislação brasileira, que, na prática, proíbe a publicação de biografias sem a autorização do personagem retratado ou de seus familiares, atrapalha os planos da escritora paulistana Regina Echeverria.

Ela tem a intenção de retratar a vida do estilista Clodovil Hernandes (1937-2009), mas como ele não deixou herdeiros, Regina não consegue ingressar com pedido de incentivo financeiro no Ministério da Cultura – que exige a anuência de familiares para financiar o projeto. "É uma afronta à liberdade de expressão ter de submeter meu trabalho a terceiros”, diz ela, que já biografou, entre outras personalidades, a cantora Elis Regina, o jogador Sócrates e o senador e ex-presidente da República José Sarney.

Com os herdeiros dos cantores Luiz Gonzaga e Luiz Gonzaga Junior, retratados na biografia Gonzaguinha e Gonzagão – Uma História Brasileira (Ediouro, 382 páginas, R$ 53,90), ela divide com os herdeiros da dupla os lucros com direitos autorais. Só assim mantém o livro circulando sem embaraço no País.




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