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Ele é o rei do cambuci nas terras de Ouro Fino Paulista

Adão Jimenez tem em seu sítio império de 350 pés do fruto nativo da Mata Atlântica

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
01/11/2014 | 07:01
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“Bem-vindo à morada do cambuci”. Assim é recepcionado quem chega ao sítio Estrela do Campo, no bairro Ouro Fino Paulista, em Ribeirão Pires. Os 350 pés do fruto nativo da Mata Atlântica deram ao dono da propriedade, Adão Jimenez, 63 anos, o título de rei do cambuci, além de impulsionar o município a integrar a rota gastronômica da fruta, unindo-se a outras 15 cidades paulistas.

Azedo como o limão, o cambuci não é saboroso se consumido in natura, razão pela qual, por muito tempo, passou despercebido pelo paladar do público. “O cambuci é muito ácido. Acho que por isso não deram importância durante muitos anos e ele quase foi extinto”, diz Jimenez.

O agricultor conheceu o cambuci na juventude, em sua forma mais popular: curtido na cachaça.

O tempo passou e, em 1997, ao comprar o sítio de dois alqueires (48 mil m²), reencontrou o fruto. “Tinha três grandes pés de cambuci e muitas mudas para plantar. A propriedade estava abandonada. Decidi plantá-las sem pretensão, como outras plantas que cultivo”, recorda.

Atualmente, 30 árvores são as que dão mais frutos. Eles são colhidos maduros, após cair no chão, e a safra ocorre entre março e abril. Um único pé pode render até 200 quilos.

Com as frutas que colhia, Jimenez começou a produzir licores e cachaça para consumo próprio ou presentear os amigos. Embora mais tradicional em bebidas, o cambuci pode ser utilizado em diversas receitas. Foi em forma de mousse que a mulher do produtor, Elena Francisco Lopes Jimenez, 60, venceu em 2007 concurso gastronômico em Rio Grande da Serra, onde o fruto era a base das receitas. “Quando conheci o cambuci, azedo daquele jeito, perguntei: como podem gostar disso? Mas percebi que dá para fazer um monte de coisas”, conta.

“É um nativo versátil”, acrescenta o marido.

Sendo o sítio da família o maior produtor de cambuci da cidade, o local foi escolhido para sediar, no início de 2013, o primeiro curso do Programa de Turismo Rural de Ribeirão Pires, promovido pela Prefeitura em parceria com o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). A partir daí, comprovou-se o cultivo da fruta no município, que foi inserido na rota gastronômica do fruto. Existe a ideia de transformar a morada do cambuci em ponto turístico.

Atualmente Jimenez produz bebidas para comercialização, em pequena escala. Projetista aposentado após 35 anos de trabalho em uma metalúrgica, criou o logotipo que estampa os rótulos das garrafas. A unidade, de meio litro, sai por R$ 25.

Mais que delícias, o produtor ressalta que a fruta rende também novos amigos. “Conheci muita gente por meio do cambuci, acaba criando um círculo de amizade.”

Para conhecer mais sobre o cambuci e seus produtos, o contato com Jimenez pode ser feito pelo telefone 4828-5417.

Bairro tem ponto turístico com delícias de milho verde

A Rodovia Índio Tibiriçá é a principal ligação entre a região do Alto Tietê, além de ser opção para ir ao litoral paulista. No km 51,5 há um ponto turístico gastronômico e uma parada quase obrigatória para quem passa pela estrada: o Rancho Trevo da Pamonha. Curau, pamonha, bolo, suco, sorvete. A lista de produtos derivados do cereal e oferecidos no local é vasta.

O tradicional comércio está instalado no mesmo ponto há mais de 40 anos, sendo que nos últimos dez está sob a responsabilidade de Erasmo Takao Fukui, 77 anos.

Seu Fukui atua no ramo de delícias do milho há três décadas. “Era uma área que não tinha muita concorrência e ingressei”, conta.

O comerciante já chegou a ter milharal para produzir os quitutes, mas hoje compra a matéria-prima. “Plantava milho, mas não compensa. É difícil encontrar mão de obra para cuidar, precisa de um espaço grande para cultivar, então, agora compro na Ceasa (que faz parte da Craisa – Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André).

Aberto de domingo a domingo, o comércio tem maior concentração de público aos fins de semana. O suco de milho, o sorvete e, claro, a pamonha, são os mais pedidos. No sábado e domingo somados chegam a sair 200 litros da bebida e 800 pamonhas. Semanalmente são utilizados 150 sacos de milho com 18 quilos cada.

Tarefa difícil resistir às guloseimas. Só não para o seu Fukui. “Às vezes experimento para ver se está bom, mas para comer, já enjoei de tanto milho”, fala, aos risos.

Casal desafiou ‘coronéis’ para instalar despachante

No ano de 1990, não havia em Ouro Fino Paulista praticamente nenhum comércio. Os poucos que se arriscavam eram de detentores de quase todos os terrenos disponíveis no bairro. Por receio de concorrência, não vendiam nem alugavam espaço para ninguém. Até que um destemido casal enfrentou os ‘coronéis’ para abrir um despachante. “Era uma turma que achava que, quem abrisse ia concorrer com eles, afundar o comércio deles. Em uma cochilada, consegui comprar o ponto e abri o meu negócio”, contam Elzo do Amaral, 78 anos, e a mulher, Juventina Machado do Amaral, 76.

Mexer com papelada de licenciamento e regularização de veículos, habilitação de condutores, entre outras atribuições, parecia estar em seu destino. “Conhecia um senhor de idade que lia cartas que diziam coisas sobre o futuro. Um dia, ele quis ler uma para mim e falou: ‘Você vai mexer com muitos papéis.’ Pensei: será que vou ficar catando papel na rua? (risos). Mas era o despachante.”

Na Rodovia Índio Tibiriçá, onde instalou o estabelecimento, não havia quase nada em ramo algum. “Trabalhava em vendas e vinha vender EPIs (Equipamento de Proteção Individual) em indústrias da região. Já conhecia o bairro e me apaixonei. Quando montei o escritório, teve gente que disse: ‘Você é maluco por montar um negócio em Ouro Fino’. Mas dali saiu casa nova para mim, para as minhas duas filhas, tudo naquele cantinho”, salienta Amaral.

Atualmente, o estabelecimento é administrado por uma das filhas do casal, Elen Cristina do Amaral Alho, 44.

O patriarca já não faz mais atendimentos, mas dá uma passadinha pelo local diariamente para ver como estão as coisas. Dona Juventina se afastou há sete anos para cuidar dos netos, a terceira geração, que também terá o despachante em sua história de vida. “Minha neta, de 10 anos, foi criada no escritório. Quando nasceu o menino, hoje com 8 anos, preferi me afastar, pois, com o passar do tempo, as coisas ficaram mais perigosas, com assaltos, então, decidi cuidar deles em casa.”

Com mais de duas décadas de trajetória, o Despachante Ouro Fino deve perdurar por muitos outros. “Enquanto tiver quem dependa de despachante e a filha aguentar o rojão, estaremos aí”, finaliza Amaral.




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