Setecidades Titulo Dia seguinte
‘Meu sonho caiu’,
diz moradora de
casa que desabou

Dite Mamédio Pereira garante que sobrevivência da família foi presente de Deus

Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
25/05/2013 | 07:00
Compartilhar notícia
Tiago Silva/DGABC


O rosto cansado e os olhos vermelhos denunciam as dificuldades enfrentadas pela auxiliar de limpeza Dite Mamédio Pereira, 55 anos. Ela é mãe do metalúrgico Eduardo Mamédio Pereira, 33, soterrado na quinta-feira no desabamento da casa da família, no Parque São Bernardo, na cidade. "Minha casa era um sonho realizado. Mas o sonho caiu."

A residência da família foi comprada há oito anos, com dois andares. Para que os filhos morassem com eles, o pedreiro Almiro Rodrigues Pereira, 59, ergueu mais um pavimento, além de uma área de lazer sobre a laje. Há cinco anos a família reformava o imóvel, que teve parte dos pisos e azulejos substituída. Móveis também foram comprados, e os gabinetes do banheiro e da cozinha Dite mandou fazer sob medida. "Não sobrou nada. Estou com a roupa do corpo e na casa de parentes da minha nora. Mas foi um presente de Deus meu filho ter sobrevivido."

No momento do desabamento, Dite voltava do trabalho. Quando desceu do ônibus, por volta das 14h, viu a casa no chão, mas nem sinal do marido e do filho. "Fiquei desesperada e não lembro direito o que aconteceu."

Ela precisou ser socorrida ao Pronto-Socorro Central, e foi apenas lá que soube que o filho Eduardo havia sobrevivido à queda.

Ele trabalha à noite e, no momento em que o imóvel ruiu, dormia no terceiro andar. "Um espelho que tinha no armário machucou o rosto dele, mas foram só escoriações", disse o pai, ontem, após retornar de visita ao hospital. A previsão inicial era que Eduardo fosse liberado ontem, porém, devido a sangramento no ouvido, ele continuou em observação e deve receber alta hoje.

O outro filho do casal, Rodrigo, 27, não estava em casa porque passava por cirurgia. Ele deixaria o hospital ainda hoje. "Mas meus filhos não têm casa para voltar", lamenta Dite.

CAUSAS

A conclusão sobre possíveis ligações entre a obra de urbanização que ocorre no bairro e o acidente só sairá após o trabalho da perícia. Porém, a família garante que as obras para abertura de uma rua ao lado do imóvel causaram o desabamento. A residência que ficava encostada na que caiu havia sido demolida para alargar a via. "Tudo isso mexeu com a estrutura da casa", diz Almiro.

Dite, por sua vez, tem certeza de que irá recuperar o que perdeu. "Tenho fé. Se cada um assumir a responsabilidade, vamos reconstruir nossa vida."

A administração informou que as três famílias cujas residências foram interditadas receberão auxílio-aluguel como solução transitória até que seja concluída moradia definitiva, sem especificar se as famílias serão atendidas por unidades habitacionais ou terão suas residências reconstruídas.

Para especialista, é preciso prever riscos

O coordenador do curso de engenharia civil da FEI (Fundação Educacional Inaciana), Kurt Amann, afirma que o desabamento do imóvel no Parque São Bernardo teve múltiplos fatores, que vão desde as fundações frágeis da casa ao mapeamento deficiente da Prefeitura. "Se a opção é manter as famílias no local durante a execução das obras de urbanização de favelas, é preciso prever riscos. Isso geralmente é feito antes de começar as intervenções, mas, ainda assim, podem haver intercorrências."

Amann explica que, em geral, fundações de imóveis em favelas são feitas com broca manual, mais barata. "O problema é que a terra cede onde é mais fácil, o que não garante que a fundação ficará reta para a colocação do baldrame (viga que liga as paredes do imóvel em contato com o solo). Isso afeta a estrutura como um todo."

Erguer lajes sobre a fundação fragilizada aumenta os riscos. "Por isso, qualquer movimentação de terra como a que ocorreu para a abertura da rua pode causar o desabamento do imóvel", destaca Amann.

O engenheiro afirma que, a partir de agora, a avaliação de responsabilidade deve passar por todos que tiveram alguma ação de decisão em relação à obra, incluindo a administração municipal e a construtora. "Se o morador tivesse documentado junto à Prefeitura a reclamação em relação ao abalo da estrutura da casa, poderia ajudar."

As obras de urbanização do Parque São Bernardo tiveram início em 2011 e irão beneficiar 3.123 famílias do bairro.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;