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Inspiração em Machado
Por Julio Ibelli
Especial para o Diário
08/10/2008 | 07:07
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Celso Luiz/DGABC


"Gosto mais de Guimarães Rosa", dispara Bruno Bocchini, 19 anos, estudante do 2º ano de Jornalismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano). A preferência não o impediu de ganhar o concurso cultural promovido pela instituição, em homenagem ao centenário da morte de Machado de Assis, e que, além da categoria reportagem impressa, premiou a melhor mídia exterior (para alunos de publicidade e propaganda) e radionovela (universitários de rádio e TV).

Integrantes da banca julgadora, o professor Roberto Araújo Silva declara ter visto no texto de Bocchini alguns dos elementos que marcaram a produção de Machado. "Foi decisiva a sensibilidade do Bruno, que conseguiu juntar o humanismo da obra de Machado com a objetividade do fato histórico", declara. "O texto jornalístico dele também não ficou "duro", apesar de obedecer os critérios", finaliza.

Medicina - Mas o resultado do concurso poderia ter sido outro, caso não fosse a família de Bocchini. "Falei a infância inteira em querer ser médico, até cheguei a me matricular no curso", relembra. "Mas ao conversar com alguns primos jornalistas, mudei de idéia". Bruno sempre teve acesso a jornais em casa e a leitura é um dos hobbies, ao lado do tênis, cinema e teatro. Nascido em Ribeirão Pires, ele já exerce a profissão na cidade natal.

Quem também fez de tudo um pouco foi Machado de Assis, lembra Bocchini. "Ele era multifuncional, tinha vários trabalhos e escreveu crônica, jornalismo, romance." Durante a produção da matéria, o estudante se deparou com a história de um gênio da literatura ainda em construção, "com pouca grana e muita batalha". Antes disso, só conhecia dele a obra O Alienista, uma das mais famosas escritas por Machado.

Na reportagem premiada, a opção de Bocchini foi pela vida de Machado, que a maioria das pessoas talvez não conheça, segundo o universitário. "Dos livros dele todo mundo já está cansado de ouvir citação." Para o lead nada convencional do texto (jargão jornalístico que designa o parágrafo inicial de uma matéria), Bruno utiliza como personagem uma senhora que ele diz remeter à origem humilde de Machado, quase interiorana, e que interage com a obra do autor. "O texto para a editoria de cultura permitiu uma abertura mais literária", justifica.

Bocchini acredita que o legado de Machado vá perdurar, graças ao seu humor crítico e à atualidade de seus textos. Já os objetivo do universitário são outros: terminar a faculdade, seguir no ramo impresso da profissão (seja em revistas ou jornais) e quem sabe até cursar sociologia, ou uma pós-graduação, em política ou educação.

Trecho


"O cenário é um casebre. Dentro, apenas a senhora, a cadeira de balanço, o cigarro de palha e um livro. A cada folha que fica para trás, uma lembrança. Com 66 anos, Eliza Torres relembra poesias machadianas sempre com um sorriso no rosto, carregado de passados e trajetórias. Em uma das passagens pelo livro, Machado de Assis parecia dizer a ela: "São nove horas da manhã. Entra-me o sol vivo e ardente pelas frestas das venezianas. Parece que me convida a deixar o leito, e como que a reviver. Reviver. É esta palavra: reviver quando estou certo de que poucos dias ou apenas horas me separam da sepultura."

Frases sensíveis e ao mesmo tempo maduras como essa já diziam o que Machado de Assis, um dos maiores e mais importantes nomes da literatura brasileira, deixaria para uma legião de leitores.

Pobre, filho de um pintor de paredes com uma lavadeira portuguesa, neto de escravos alforriados e, ainda por cima, epilético. Joaquim Maria Machado de Assis nasceu na zona de gente modesta do Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 1839.

A pobreza da família e a modéstia do lugar em que nasceu não impediram, no entanto, que se tornasse ele o mais bem sucedido literato do século XIX.

(...)Para contar as dificuldades que o poeta viveu na infância, o historiador Márcio de Souza constrói uma linha do tempo. "A infância de Machado de Assis não foi fácil. Perdeu sua única irmã quando tinha apenas seis anos, quatro anos depois sua mãe morreu e, passado algum tempo, perdeu o pai. Para sobreviver, ajudou a madrasta a vender doces. Sua instrução veio por conta própria, graças ao interesse que tinha em todos os tipos de leitura (...)"




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