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Rio Grande vacina 12 jovens com imunizante errado contra a Covid

Munícipes de 12 a 17 anos receberam Coronavac e Astrazenca, mas só a Pfizer está autorizada

Por Daniel Tossato
Do Diário do Grande ABC
17/08/2021 | 22:48
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Celso Luiz/ DGABC


Rio Grande da Serra vacinou contra a Covid pelo menos 12 jovens, de 12 a 17 anos com comorbidades, com os imunizantes Coronavac, fabricado pelo Instituto Butantan, e Astrazeneca, produzido pela Fiocruz. Os dois fármacos não estão autorizados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para serem utilizados em adolescentes. A única vacina liberada no Brasil para a faixa etária é a da Pfizer.

Os imunizantes foram ministrados domingo, quando o município iniciou a vacinação de adolescentes com deficiência, com comorbidade, além de grávidas e puérperas. Na ocasião, Rio Grande da Serra elaborou esquema de drive-thru para proteger a faixa etária.

Ester Queiroz Souza, 57 anos, mãe do jovem Raphael, 16, que tomou Coronavac, disse que o primeiro sentimento ao descobrir que o imunizante ministrado no seu filho não tinha aprovação foi de “desespero”. “Levei meu filho para se vacinar e achei que estava tudo bem. Quando mandei a foto do cartão de vacinação para a minha filha ela disse que a vacina estava errada e que só a Pfizer tinha autorização. Passei mal e comecei a chorar. Meu filho tem autismo e nunca achei que ia passar por algo assim”, declarou Ester. A mãe, no entanto, disse que o filho não apresentou qualquer tipo de reação adversa.

A jovem Francielly Ferreira Lima, 16, também recebeu a vacina errada. A adolescente sofre de anemia falciforme e estava na lista de prioridade para ser imunizada no domingo. Ela foi protegida com a primeira dose da Astrazeneca.

“Levei minha filha para se vacinar no domingo. Ela fez uma cirurgia há um mês e eu até tentei vaciná-la antes da operação, mas não consegui. Tinha medo que minha filha pegasse Covid. Então, assim que abriu vacinação para a idade dela já quis garantir”, explicou a mãe da jovem, Francisca Alcione Ferreira Lima, 52. “No domingo à tarde minha filha começou a ter febre e dor no corpo, achei melhor buscar ajuda médica. Hoje (ontem) voltei ao posto e o médico que não via problema no fato de a minha filha ter recebido a dose da Astrazeneca”, complementou.

Especialistas ouvidos pelo Diário sustentam que dificilmente haverá reações adversas em razão de a vacinação ter sido realizada por engano. Conforme o médico infectologista, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e titular da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) Alexandre Inaime, as vacinas apresentam alto grau de segurança mesmo para os jovens.

“A Coronavac, por exemplo, tem se mostrado uma das vacinas mais seguras. Há apenas uma inconformidade para que a Anvisa libere o uso dela. No futuro ela tem grande potencial de ser utilizada na imunização de adolescentes”, declarou o médico.

O mesmo pensa o infectologista Paulo Rezende, diretor do Hospital Santa Clara. O médico alega que não há motivo para preocupação, já que reações são muito raras. “Posso afirmar que uma reação importante tem pouquíssimas chances de ocorrer.”

Por meio de nota, a Prefeitura de Rio Grande da Serra informou que teve conhecimento de que as vacinas foram aplicadas de forma equivocada e que os imunizantes não são recomendados pela Anvisa. “A Secretaria Municipal de Saúde lamenta o ocorrido e informa que os pacientes que receberam as doses já estão sendo monitorados e aguardam orientação do Estado de como proceder com a segunda dose”, alega a administração.

Erro semelhante ocorreu em Diadema

A vacinação errada que aconteceu em Rio Grande da Serra não foi a primeira no Grande ABC. Em abril, a Prefeitura de Diadema também aplicou, por engano, imunizante não autorizado em cinco crianças com idades entre 7 meses e 4 anos, que receberam a Coronavac quando deveria ter sido ministrada a proteção contra a Influenza (gripe).

Todas as crianças foram vacinadas na UBS (Unidade Básica de Saúde) Jardim das Nações, no Taboão. A Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, não foi completamente testada em crianças e não tem o aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para ser usada nesta faixa etária.

A Prefeitura de Diadema se prontificou a monitorar o caso e os profissionais da UBS ligavam para os pais das crianças praticamente todos os dias para perguntar se houve algum tipo de reação à vacina. Nenhuma das crianças, entretanto, apresentou efeitos colaterais importantes.

Eduardo Jackson, 35 anos, pai de Manuella Almeida Gomes, 4, uma das vítimas, afirmou que sua filha está bem três meses após o episódio. “Ela apresentou algumas reações dias depois de receber a vacina, mas nada muito grave. Apesar de o pessoal da UBS nos ligar sempre, acho que faltou acompanhamento por parte da Prefeitura”, declarou Jackson, que ainda estuda mover ação contra a administração municipal.

Também em abril deste ano, caso semelhante ao de Diadema e de Rio Grande da Serra ocorreu em Itirapina, no Interior, quando 46 pessoas foram vacinadas por engano com a Coronavac, também no lugar da vacina contra a gripe. Entre os vacinados estavam 17 adultos, uma gestante e 28 crianças.

A Prefeitura de Diadema alegou que manteve acompanhamento pediátrico por 42 dias e que duas sorologias foram coletadas, sem que apresentassem alteração. “Nenhuma das crianças apresentou intercorrência no período. A SMS (Secretaria Municipal de Saúde) está à disposição das autoridades para eventuais esclarecimentos que se fizerem necessários sobre o caso da referida criança”, sustentou a administração, em nota. 




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