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Um ano após a morte de Serginho, médico apresenta novas provas
Analy Cristofani
Do Diário do Grande ABC
27/10/2005 | 08:41
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O médico do São Caetano, Paulo Forte, recolhe provas para sua defesa na Justiça após um ano da morte do zagueiro Serginho, que caiu no gramado do Morumbi, vítima de uma miocardiopatia hipertrófica. Ele apresentou ao Diário o fax que o médico Edimar Bocchi, do Incor, enviou para que Serginho fizesse alguns exames, entre ele o nível de digoxina, substância utilizada apenas por pessoas com problema no coração. Bocchi, no momento da morte do jogador, acusou o médico do São Caetano de ter sido ele quem pediu o exame, repassando, assim, a responsabilidade no caso. O advogado de Bocchi, Arthur Joly, garante que não foi seu cliente quem pediu o exame.

Segundo o cardiologista Nabil Gorayeb, presidente da Comissão de Esportes da Sociedade Brasileira de Cardiologia e uma das maiores autoridades no assunto, para um jogador com arritmia, o uso da digoxina poderia acelerar a morte. "Ela pode causar a morte por intoxicação cardíaca e, em quem tem arritmia, é fatal", disse Gorayeb, que foi além. "Um médico só pede o exame se o paciente está usando a digoxina". Diante desse quadro, restaria saber quem receitou o remédio ao jogador ou mesmo se Serginho chegou a consumi-lo.

Gorayeb não sabe responder a algumas perguntas, já que acompanha o caso de longe. Mas tem uma convicção: "Não foi o doutor Paulo Forte quem pediu este exame, isso você pode ter certeza". A explicação para sua resposta parece simples. "A digoxina é o remédio mais antigo da cardiologia e não é mais usado nos tratamentos modernos. Só é indicado em alguns casos de pessoas que estão na fila de transplante ou com descompensação cardíaca porque tem efeitos colaterais. E o doutor Paulo, não sendo cardiologista, não o usaria".

O médico do São Caetano apresenta o pedido de exame feito por Edimar Bocchi, mas não acredita que Serginho estivesse utilizando o remédio. Sem entender o motivo de ter apresentado no exame do atleta 0,58 mg da substância, Paulo Forte passou a acreditar no que é chamado pelos médicos de "falso positivo". Por isso, resolveu ele mesmo passar pelo mesmo exame e obteve um resultado parecido com o do jogador. "O falso positivo é fruto de alguma coisa que está circulando no sangue e que confunde", explica Gorayeb.

Paulo Forte e o presidente do clube, Nairo Ferreira de Souza, são acusados de homicídio doloso, depois do Incor divulgar que teria avisado o médico – e o próprio atleta – que a prática do esporte o levaria a morte. Agora, um ano após a tragédia, o médico resolveu falar sobre o assunto e apresenta as peças que têm nas mãos. Paulo Forte reuniu alguns documentos que serão usados na Justiça.

A prova – Bocchi pediu a Serginho alguns exames finais antes de dar por encerrado o acompanhamento do zagueiro. Ali começou mais uma das acusações em cima de Paulo Forte, que encontrou em uma gaveta o pedido do exame que mede o nível de digoxina, enviado por fax pelo médico do Incor. Serginho apresentou 0,58 mg no organismo e isso custou a Paulo Forte a acusação de que teria medicado o jogador com um remédio para o coração. Dias após a morte do atleta, os exames foram apresentados nas TVs, como tendo sido pedido pelo médico do São Caetano.

Então veio a explicação. Serginho havia perdido a lista de exames de Bocchi. "Liguei para a secretária do doutor Edimar e pedi que ela me mandasse um novo pedido", conta Forte, que recebeu o nome de todos os exames em uma folha passada por fax. O médico, então, transcreveu os exames solicitados em um papel timbrado da Prefeitura de São Caetano, já que os atletas fazem exames em um laboratório da cidade e, com aquele papel, não são cobrados os custos do procedimento.

Quando o resultado acusou 0,58 mg de digoxina e o pedido de Paulo Forte, parecia comprovada a culpa do médico. "O mais normal seria que eu recebesse o fax, passasse para a folha o pedido e jogasse fora. Mas acabei guardando em uma gaveta e hoje está aqui", mostra o médico. O original permanece guardado.

Mas ainda não era suficiente e Paulo Forte queria entender o motivo de aparecer a digoxina no organismo do jogador. Passado quase um ano, o médico entendeu que deveria fazer o mesmo exame. Mostra, no braço, como se ainda tivesse marcas para provar. No resultado, apareceu uma quantia aproximada. A dúvida, para ele, não existia mais. "Isso é falso positivo. É como quando você faz um teste HIV e dá positivo e quando o exame é repetido, aí sim dá negativo", explica.

Esta é uma das provas que Paulo Forte carrega como sua defesa contra as acusações que recebe como responsável pela morte de Serginho. Todas elas estão sendo apresentadas à Justiça. O médico acredita que vai conseguir provar sua inocência no caso que ele nunca gostaria de ter vivido.




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