Cultura & Lazer Titulo
Contra a racionalidade moderna
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
17/11/2005 | 09:23
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Momentos antes de morrer, no início de uma turnê de leitura de seus poemas nos Estados Unidos, Dylan Thomas (1914-1953) teria dito: "Tomei 18 doses de uísque puro. Acho que é um recorde." Alcoolismo e boemia, lirismo e anarquia poética estão mais para o romantismo. Portanto, Thomas é um poeta à margem da modernidade. Mas isso faz dele um outsider da racionalidade moderna, desencantado com o progresso técnico que reduz ideais estéticos a peças reproduzíveis para consumo. O elo inicial da negação da modernidade. O autor galês é tema da palestra do professor e escritor Ricardo Lísias no próximo sábado (dia 19), na Casa da Palavra, em Santo André, pelos Seminários Avançados sobre a Modernidade – Literatura e Filosofia do Século XX. A partir da vida poética de Thomas, Lísias começa a introduzir aspectos do pós-modernismo, que serão discutidos nos encontros seguintes.

Dylan Thomas tornou-se livro de cabeceira da geração beat norte-americana – movimento literário e cultural de desencantados jovens escritores dos anos 50 rompidos com a sociedade industrial e inadaptados ao propagado bem-estar, ou american way of life – e de todas as manifestações posteriores, da pop art à cultura de massas. Não foi ao acaso que Bob Dylan adotou este nome e Rolling Stones e roqueiros dos anos 60 o veneravam.

"Ele virou a principal legenda dos beatniks. Queria tratar a própria vida como uma forma de arte, uma vida poética meio inconseqüente. Thomas representa um desvio, deslocado dos principais nomes da modernidade. Sua influência será o mote para compreendermos o movimento beat, a década de 60, a arte pop e tentar chegar até o movimento punk e as décadas de 70 e 80", afirma Lísias.

Nascido em Swansea, no País de Gales, Thomas trabalhou na rádio BBC durante a Segunda Guerra e fez roteiros de documentários. Na poesia, percorria da Bíblia aos mitos pagãos em jogos de palavras de difícil tradução. A verve herdeira de William Blake, T.S. Eliot e James Joyce é anárquica em conteúdo, comparada à de seus pares, mais meticulosos e profundos. Assim Thomas fez Retrato do Artista Quando Jovem Cão, paródia a Joyce, e 18 Poemas, sua estréia literária, premonitória do que seriam as 18 doses fatais de bebidas no prazo de uma hora e meia.

Os Seminários Avançados são uma iniciativa da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Santo André, da Escola Livre de Literatura, da Casa da Palavra e da Fundação Santo André, com apoio do Diário. O texto de orientação, publicado nesta página, permanece disponível ao longo da semana no site do Diário (www.dgabc.com.br)

Seminários Avançados sobre a Modernidade – Literatura e Filosofia do Século XX – Série de seminários; sábado (19), às 15h. Na Casa da Palavra – praça do Carmo, 171, Santo André. Tel.: 4992-7218. Aos sábados, das 15h às 18h. Entrada franca. Até 10 de dezembro.




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