Cultura & Lazer Titulo
Uma repórter na China
Gabriela Germano
Da TV Press
17/07/2008 | 07:07
Compartilhar notícia


Nos dois anos em que viveu na China como correspondente internacional da Globo, Sonia Bridi não passou despercebida pelas ruas. Com seus traços bem ocidentais e olhos verdes, chamava a atenção das criancinhas nas ruas que gritavam para ela "laowai, laowai" - que significa "estrangeiro" em palavra chinesa. E um país com cultura e costumes tão diferentes dos nossos também não passaria despercebido sob os olhares da jornalista. Para contar sua experiência profissional e pessoal, Sonia acaba de lançar Laowai - Histórias de Uma Repórter Brasileira na China. "É um lugar que guarda muitos mistérios. Me perguntam sobre tudo que vivi e acho que o pouco que consegui compreender eu tinha de registrar", diz Sonia.

Nas 384 páginas ilustradas por várias fotos feitas pelo marido de Sonia, o cinegrafista Paulo Zero, o livro da editora Letras Brasileiras registra momentos felizes e frustrantes. A jornalista não hesita em contar que a maior alegria em todo esse período que viveu na China era conseguir produzir e enviar as matérias para o Brasil. A burocracia do país atrapalhava bastante. "Foi muito duro negociar por 10 meses uma matéria em uma mina, chegar lá e não ter ninguém para falar com você", relembra Sonia.

Na busca pela pauta, a jornalista conta também que cometeu uma de suas maiores gafes. "Pressionei um chinês publicamente até que ele me disse ‘não', com vergonha. E deixar um chinês envergonhado é a pior coisa que alguém pode fazer", explica.

Junto com Paulo Zero, Sonia formou a primeira equipe da Globo a montar uma base de jornalismo na China. Apesar da rotina pesada para desenvolver matérias, os momentos com a família também são guardados com carinho e registrados no livro.

O filho do casal, Pedro, tinha apenas 3 anos quando eles toparam a empreitada de se aventurar em terras orientais e desconhecidas. "Avaliar a rotina do meu filho lá também foi complicado. Mas descobri muito para as minhas pautas indo atrás das necessidades dele", avalia Sonia.

O garoto chegou a aprender bem o mandarim. Sonia, nem tanto. Ela contou com a ajuda de uma intérprete para os trabalhos mas, para o dia-a-dia, sobreviveu com a decoreba. "Decorei como se falava o endereço de casa, como se pedia água ou duas cervejinhas", conta, aos risos.

Apesar de tantas diferenças, a jornalista enfatiza que China e Brasil têm mais em comum do que muitos ousam imaginar. Os chineses são alegres, gostam de se reunir com os amigos ou jantar em família. E também são curiosos. "Paravam para ver a gente trabalhando. Eles são tão ignorantes em relação a nós quanto somos em relação a eles", afirma.

Sonia deixa claro que jamais pensou em fazer um livro sobre a sociedade chinesa, seu regime político ou sua economia. "É apenas o relato de uma família e de repórteres que viveram lá", resume. Ela diz ainda que espera que Laowai chame a atenção das pessoas para o fato de que a China vai muito além do país pitoresco com culinária estranha. "Eles têm hábitos saudáveis, vivem um crescimento estrondoso e devemos prestar atenção nisso", diz a jornalista.

Trabalhando atualmente como correspondente internacional da Globo em Paris, Sonia integra a equipe da emissora que vai cobrir a Olimpíada de Pequim. Depois de viver em meio a um imenso canteiro de obras, a repórter está ansiosa para ver tudo pronto e espera que os Jogos dêem muito certo. "O sucesso da Olimpíada pode levar a uma abertura do país. Já o fracasso pode fazer com que eles se fechem ainda mais", avalia Sonia.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;