Setecidades Titulo Preconceito
MP dá prazo para
professora se explicar

Direção de escola estadual no Riacho Grande, em São
Bernardo, também terá de justificar momentos de oração

Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
10/04/2012 | 07:00
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O Ministério Público de São Paulo anunciou ontem que dará prazo de 15 dias para a professora de História Roseli Tadeu Tavares Santana e a direção da Escola Estadual Antônio Caputo, no Riacho Grande, em São Bernardo, explicarem o uso pela docente dos 20 minutos iniciais da aula para orar e pregar o Evangelho.

Segundo o promotor Jairo Edward de Luca, da Vara da Infância e Juventude da cidade, as partes terão de esclarecer quais são os recursos pedagógicos aplicados por Roseli. o que inclui apresentação do material didático.

O promotor reafirmou que não pedirá punição administrativa nem abrirá inquérito policial enquanto a Secretaria da Educação do Estado não concluir sua própria apuração do caso.

A Diretoria de Ensino local manteve os 30 dias iniciais como prazo para resposta e não se pronunciará sobre o assunto.

A prática adotada por Roseli, que é evangélica, teria incentivado atos de bullying contra um estudante de 15 anos, adepto do candomblé.

Os pais do garoto, sacerdotes da religião afro-brasileira, e a Afecab (Associação Federativa da Cultura e Cultos Afro-Brasileiros), criticaram a demora do Estado em dar resposta definitiva à questão. Eles pedem o afastamento da professora, que segue dando aulas normalmente.

Na última semana, a Pasta decidiu afastar de imediato de suas funções uma diretora que obrigava os alunos a rezarem o Pai-Nosso em escola em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.

"Aqui (no Grande ABC) eles ficam na defensiva o tempo inteiro, tentando justificar o ato dela como se fosse parte de proposta de ensino", disse Maria Emília Campi, líder da Afecab.

Hoje, em reunião no MP, ela exigirá ação imediata do órgão. E junta documentos para, nos próximos dias, entrar com representação contra Roseli e os coordenadores da escola.

Em reunião com os promotores, a professora alegou que usava apenas cinco minutos como "tempo de reflexão", sem nenhum tipo de conotação religiosa. Alunos do Antônio Caputo revelaram ao Diário que Roseli abandonou a prática desde o caso veio à tona. "As aulas estão cada vez mais tristes. Ela sentiu bastante toda essa história. Sinto falta de como era", disse um deles.

Segundo um funcionário, a ordem é esquecer a história enquanto a secretaria não se pronunciar oficialmente. "Até os professores não comentam, para não piorar a situação."

"Minha bronca não é nem com a escola, mas sim com a secretaria. Eles precisavam dar resposta imediata. Vou ter que procurar direto o governador e a presidente", ameaçou o pai do garoto, Sebastião da Silveira, 64 anos.


Menino teria sofrido ameaças de agressões físicas

Segundo o pai, Sebastião da Silveira, o estudante de 15 anos passou agora a sofrer ameaças de agressões físicas por outros garotos da EE Antônio Caputo. Os próprios colegas do local desmentem e dizem estar defendendo a professora. "Não teve nada disso. Ninguém fala com ele", disse uma aluna de 15 anos, da mesma sala.

"Sinto falta das reflexões da professora e por causa disso, perdemos. Por besteira. Vamos protestar se ela sair", completou a aluna.

Ontem, o rapaz voltou a frequentar a escola após viajar com a família durante a semana do feriado de Páscoa. Sebastião mantém a posição de não permitir que o filho deixe de ir às aulas. "Quero apenas que o Estado tenha consciência do que está acontecendo dentro de sua escola", disse. (Rafael Ribeiro)




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