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Eles buscam equilíbrio diante da nova mulher
Angélica Kenes Nicoletti
Diário do Grande ABC
14/12/2008 | 07:01
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Carmita Abdo, psiquiatra e coordenadora do ProSex (Projeto Sexualidade), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, é referência internacional sobre sexualidade. Autora do livro Descobrimento Sexual do Brasil, a médica conduziu o Mosaico Brasil, considerada a maior pesquisa sobre sexo e afeto realizada no País e divulgada no final de novembro.

DIÁRIO - Os homens estão em crise de masculinidade?
CARMITA ABDO - Nas últimas décadas a mulher mudou muito, o que provocou alteração de valores. Isso impactou o homem, que, durante muitas gerações, vivia uma situação sem mudanças. Ao protelar o casamento, a maternidade, a mulher acabou por influenciar o companheiro. Não que ele não tenha se beneficiado e gostado das mudanças, porém ele não se sentiu adaptado.

DIÁRIO - Não deu tempo de eles processarem as modificações?
CARMITA - O aprendizado que ele teve com a mãe não pôde ser repassado para o ambiente escolar, social e no relacionamento homem-mulher. O resultado é que ele vive em busca do equilíbrio e tenta avaliar o que é masculinidade.

DIÁRIO - O homem tem mais dificuldade do que a mulher em reconhecer problemas sexuais?
CARMITA - É difícil para o homem admitir que tem problemas mesmo para um grande amigo. Às vezes, reluta em ir até a uma consulta médica. Enquanto a mulher não tem nenhuma restrição para dividir dificuldades, ele se sente constrangido.

DIÁRIO - Ainda é comum confundir desempenho sexual com masculinidade?
CARMITA - Sim e é por isso que o homem não busca sanar a dificuldade de desempenho, que ele não a associa a problemas de saúde, emocionais ou relacionais. Às vezes, imagina que tem de ‘funcionar' bem em qualquer circunstância.

DIÁRIO - Qual é a idade em que eles relatam maior dificuldade sexual?
CARMITA - Homens jovens com dificuldades desde a primeira relação sexual, em geral, têm problemas de ordens emocional e psicológica. Estão inseguros, ansiosos. Muitas vezes estão preocupados como a companheira vai avaliá-los. Então, apesar de saudáveis do ponto de vista físico, podem apresentar problemas sexuais.

DIÁRIO - E os homens da geração anterior?
CARMITA - Quando o homem que sempre teve um bom desempenho e por volta dos 45-50 anos começa a relatar problemas sexuais, a causa pode ser uma doença, como diabetes, hipertensão, colesterol alto, crescimento da próstata ou algum grau de insuficiência cardíaca. Então, em um homem mais velho, o primeiro aspecto a ser pesquisado é se há problemas físicos. Afastado isso é verificado se não há problemas de ordem profissional ou até uma crise conjugal.

DIÁRIO - Nessa fase, é comum a companheira estar na menopausa.
CARMITA - Essa correlação é correta, pois o homem também reage à mudança física da mulher do ponto de vista do relacionamento. Se ela não está preparada para o efeito da parada da produção de estrógenos, passa a evitar o sexo.

DIÁRIO - Quando há baixa de desejo nos homens?
CARMITA - Cerca de 10% a 15% dos homens podem ter o desejo sexual diminuído a partir dos 45-50 anos. Pode ser que alguns desses homens entraram em uma deficiência androgênica, que é caracterizada pela perda acentuada de testosterona. É bom lembrar que isso não é anausa, porque pausa o homem não tem. A perda considerada natural de testosterona é de 1% ao ano.

DIÁRIO - Quais são os sinais da perda de testosterona?
CARMITA - Sono rápido logo após comer à noite, formação de uma barriguinha saliente, aumento da faixa de gordura ao redor do corpo, reações irritadiças, perda de pêlos, como a barba mais rala, memória afetada. Há ainda a diminuição do desejo sexual e, como não tem desejo, secundariamente, ele não tem ereção.

DIÁRIO - Quais são os problemas sexuais mais comuns nos homens, além da disfunção erétil?
CARMITA - Ejaculação precoce em vários graus. A ejaculação precoce é natural nos jovens, mas pode se prolongar pela vida adulta. Nesses casos, os homens não conseguem prolongar o ato sexual e ficam constrangidos em falar para as companheiras, que ficam muito bravas. Como eles não avisam que sofrem do problema, passam a ser interpretados como egoístas. Outro problema é a falta de desejo sexual, que está presente em 1% a 2% da população e pode ter a depressão como causa principal.

DIÁRIO - Medicamentos antidepressivos inibem a libido. O que fazer?
CARMITA - A libido fica comprometida ao se tratar a depressão com medicamentos. Por viver uma fase sexualmente insatisfatória, o paciente costuma abandonar o tratamento, cronificando o quadro. A terapia é cuidar da depressão até que ela seja completamente debelada. É difícil, mas pouco a pouco vão surgindo no mercado novos medicamentos que não apresentam esse indesejável efeito colateral.

DIÁRIO - A classe social influencia a ocorrência de problema sexuais?
CARMITA - Homens de alta ou baixa renda estão sujeitos a desenvolver qualquer doença, à exceção quando a origem forem problemas relacionais. O que influencia são os maus hábitos, como vida sedentária, alimentação não-balanceada (rica em gorduras e carboidratos) e estilo de vida estressante.

DIÁRIO - Álcool influencia o desempenho sexual?
CARMITA - Beber em pequenas quantidades libera para o sexo, mas em grandes quantidades leva cronicamente a lesões nervosas e vasculares, interferindo no fluxo do sangue para as extremidades, afetando o pênis e a vagina.

DIÁRIO - Sexo tem conotação semelhante para ambos os sexos?
CARMITA - O homem é mais direto. Ele separa afeto de sexo. A mulher tem uma série de pré-requisitos antes de se sentir satisfeita. O ato sexual tem conotação de alívio para ele e de recompensa, para ela.

DIÁRIO - Homens tendem a estereotipar a mulher?
CARMITA - Muitas vezes acabam avaliando a mulher como sendo liberada para se sentirem mais confortáveis diante delas que, para eles, são uma incógnita. O outro lado da moeda é que as mulheres também têm dificuldade de entender que o sexo masculino está em um contexto diferente do delas.




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