Setecidades Titulo
Falta vaga para educação de adultos
Por Ana Carolina Negrão
Especial para o Diário e Illenia Negrin
05/06/2006 | 08:00
Compartilhar notícia


Milhares de jovens e adultos analfabetos não têm oportunidade de aprender a ler e escrever em São Bernardo e Mauá. As duas cidades não investem em salas de alfabetização e hoje atendem, juntas, pouco mais de 120 alunos, com verba do programa federal Brasil Alfabetizado.

Cidades como Diadema e Santo André também utilizam o recurso federal para bancar a alfabetização – além de verba das secretarias municipais de Educação –, mas beneficiam atualmente 4 mil pessoas. Ribeirão Pires investe do próprio bolso para custear as 56 turmas e atender cerca de 600 alunos, sem recorrer ao programa nacional.

Desde o ano passado, São Bernardo e Mauá decidiram abandonar o Mova-ABC (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos do Grande ABC), que beneficia, sozinho, mesmo sem o apoio das administrações, cerca de 800 estudantes. Os municípios apostaram em outras propostas pedagógicas e o número de atendidos caiu drasticamente.

No final de 2004, o Mova de Mauá atendia 3 mil jovens e adultos e começou 2005 com a metade dos alunos; o de São Bernardo beneficiava cerca de mil e enxugou o atendimento para menos de 400 estudantes, no mesmo período.

Procuradas, as duas administrações  não atenderam aos pedidos de entrevista com os secretários de Educação. A Prefeitura de Mauá enviou e-mail com breve resposta, dizendo que a meta deste ano é atender 1,1 mil alfabetizandos. Não explicou de onde sairiam os recursos; o MEC (Ministério da Educação) informou que a Prefeitura não assinou declaração de compromisso requisitando para 2006 verba do Brasil Alfabetizado, que deve ser liberada em julho.

A Prefeitura de São Bernardo afirma que, além dos 75 alunos incluídos nas turmas bancadas pelo governo federal, outros mil freqüentariam as aulas de alfabetização do Promac, programa municipal de educação de jovens e adultos de 1ª a 8ª séries. Na prática, a reportagem constatou que os alunos desistem das aulas do Promac porque não foram alfabetizados e têm dificuldades em acompanhar os estudos. Antes, o estudante saía do Mova e ingressava no Promac.

Mova – Mesmo sem o apoio municipal, o Mova sobrevive em São Bernardo, Mauá e Rio Grande da Serra, com turmas independentes financiadas pela Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) do movimento, formada por empresas, entidades de bairro e pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. São 47 em atividade, 800 alunos beneficiados, a maioria em São Bernardo, com 33 turmas.

O coordenador regional do Mova, Paulo Dias, diz que o número de salas na cidade poderia ser ainda maior, se houvesse parceria com a administração. “Há grande demanda reprimida, principalmente em São Bernardo. Se hoje não avançamos mais, é por falta de recursos. Precisamos de parceiros. O lado positivo é que o movimento organizado da sociedade civil mostra empenho na erradicação do analfabetismo. Mas estamos no nosso limite de atendimento”, avalia Dias.

Ele afirma que pelo menos mais 25 salas de alfabetização do Mova poderiam ser abertas hoje em São Bernardo. “Temos lista de espera nas turmas que já reabrimos. O município alega que atende toda a demanda. Mas, na prática, a história é outra.” O movimento mantém outras quatro turmas em Mauá e dez em Rio Grande da Serra, que não tem qualquer programa de alfabetização além das salas independentes.

As três administrações têm em comum o fato de continuarem apoiando o Mova, já consolidado no Grande ABC e que em dez anos de existência já alfabetizou cerca de 80 mil pessoas. São Caetano não chegou a aderir ao movimento; na cidade, é o ProAlfa quem realiza função semelhante.

MEC – O Ministério da Educação libera anualmente, em julho, verba aos Estados e municípios que apresentam projetos de alfabetização de jovens e adultos, depois de analisar os projetos pedagógicos inscritos. Em 2006, o Brasil Alfabetizado tem orçamento de R$ 216 milhões para financiar programas locais em todo o país. No ano passado, o Grande ABC recebeu cerca de R$ 367 mil.

Em abril, o MEC recebeu das cidades a declaração de compromisso, requerendo verbas para a educação de jovens e adultos. Diadema requisitou recursos para atender 1,5 mil alunos; Rio Grande da Serra, 700; Santo André, 2 mil; e São Bernardo, 225. As demais não aderiram ao programa.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;