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TV e cinema: uma realidade
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17/02/2005 | 12:53
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A tão apregoada união entre TV e cinema parece estar se tornando realidade no Brasil. O exemplo de sucesso da Globo Filmes, até hoje um caso isolado, inspirou outras grandes emissoras a entrar de vez no mercado cinematográfico. A partir de quinta-feira, o SBT entra oficialmente para o time do cinema. A emissora, a Warner Bros. Pictures e a Diler & Associados anunciaram quarta-feira a criação do SBT Filmes, parceria para produção, distribuição e promoção de longas nacionais.

Não é pouca coisa levando em consideração que a Warner dominou o mercado cinematográfico em 2004, abocanhando a fatia de 22,2% dos ingressos vendidos no País. Os filmes lançados pela Warner conquistaram 24,5 milhões de expectadores e sete destes figuram na lista dos 20 filmes mais vistos de 2004. Curiosamente, o atual filme com participação da Globo Filmes em cartaz é Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida, produzido por Diler Trindade e distribuído pela Warner, que está em sua nona semana de exibição e conquistou 1,2 milhão de espectadores até o último fim de semana.

A relação cordial entre SBT, Warner e Globo deve esquentar. Recentemente, o SBT, que tem contrato com a Warner desde 2000, exibiu o longa Bufo&Spallanzani, cujos direitos de distribuição são da Warner, um dia antes do anunciado pela TV Globo, que costuma ceder seus atores para as produções em troca da exibição do filme na TV. Como o acordo entre SBT e Warner prevê essa exclusividade de exibição sobre quase todas produções da Warner, a emissora de Silvio Santos furou a Globo. Resta saber se a partir de agora a Globo vai ceder atores para produções do SBT Filmes. “A grande fonte de atores para a TV ainda é o teatro”, comenta Diler.

O produtor e José Carlos de Oliveira, diretor da Warner no Brasil, garantem que o contrato com o SBT não exclui projetos com a Globo Filmes. “Somos velhos parceiros. Além disso, a Diler é uma produtora independente”. Para o produtor, a entrada do SBT no mercado é prova de que a atividade entre TV e cinema tende a se auto-regulamentar. “Em uma época em que há essa tendência de tutela do governo, é interessante observar que a regulamentação dessa união surge espontaneamente”.

O SBT Filmes também apresentou quarta-feira seu primeiro projeto de longa, Coisa de Mulher, já em pós-produção. Com direção de Eliana Fonseca (de Ilha Rá-Tim-Bum – O Martelo de Vulcano, co-produção da TV Cultura), o longa conta com as comediantes do Grelo Falante e com Evandro Mesquita, Adriane Galisteu e a participação especial de Hebe. A exemplo do que já acontece com a Globo Filmes, é nítido o interesse do SBT em aproveitar o elenco da casa para atuar nos longas. Ainda sem data de estréia, o longa tem orçamento total de cerca de R$ 4,8 milhões e patrocínio também da C&A.

A Bandeirantes não ficou atrás e se uniu à Barra Filmes para criar a Band Filmes. O primeiro fruto da parceria é Garrincha – Estrela Solitária, que estréia nesta sexta-feira. A Band Filmes deve seguir os passos da Globo ao transformar o projeto Um Homem Chamado Rondon, que primeiramente será uma minissérie de 20 capítulos, em longa-metragem. Quem não se lembra de O Auto da Compadecida, minissérie de 1998 dirigida por Guel Arraes, que, após do sucesso estrondoso na TV, foi editada no formato longa-metragem. Lançado em 2000, o filme foi visto por mais de 2 milhões de espectadores e o primeiro inteiramente produzido pela Globo Filmes.

A Record já havia entrado no mercado no fim do ano passado, com o lançamento de Eliana em o Segredo dos Golfinhos, também com direção de Eliana Fonseca e produzido pela associação de Fox Film do Brasil e Record Filmes, entre outros. O longa, em cartaz há cinco semanas, já foi visto por mais de 250 mil pessoas e figurou no 16º lugar das bilheterias do último fim de semana.

A Globo Filmes percebeu o filão há tempos. Desde 1998, com Simão – O Fantasma Trapalhão, foram cerca de 32 co-produções de títulos como Carandiru, Olga, Cidade de Deus e Bossa Nova, que contribuíram para alavancar de vez a chamada Retomada do Cinema Brasileiro e aumentar a cota de salas dos filmes brasileiros nas salas nacionais. Sobre a nova concorrência, Carlos Eduardo Rodrigues, diretor de Operações da Globo Filmes, comenta: “É estratégico para a TV Globo que existam mais longas-metragens brasileiros de qualidade e fomentar esse mercado é o grande objetivo da Globo Filmes. Não é uma questão estratégica para a TV aberta brasileira, que é uma das mais bem-sucedidas do mundo, ou para o cinema nacional. Isso é estratégico para o país, que deveria criar meios de estimular todo e qualquer produtor nacional”.

Não se trata necessariamente do fim da hegemonia da Globo Filmes na bilheteria nacional, mas a movimentação do mercado se tornará mais dinâmica a partir de agora. “Acho muito boa a criação do SBT Filmes. A concorrência oxigena o mercado, seleciona os mais bem preparados. Espero que o projeto dê muito certo porque vai ajudar a alavancar todo o mercado nacional”, declara Paulo Morelli, sócio de Fernando Meirelles na O2 Filmes.

Morelli está à frente de mais um exemplo clássico do casamento cinema e TV. Em 2006 ele vai dirigir o longa-metragem Cidade dos Homens. “A série sintetiza essa relação. Nasceu no cinema com Palace II, foi para a TV e agora volta para o cinema”, comenta. Assim como a série, o longa, claro, será realizado em cooperação da Globo.

Para este ano, a Globo Filmes pretende participar da co-produção de dez longas-metragens. Entre os títulos, estão O Casamento de Romeu e Julieta, de Bruno Barreto, com lançamento nacional previsto para 18 de março; O Coronel e o Lobisomem, de Maurício Farias; Casa de Areia, de Andrucha Waddington; JK - Bela Noite para Voar, de Zelito Viana; e Quem Tem Medo de Irma Vap?, de Carla Camurati.




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