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Rota panorâmica

Com estradas tranquilas e paisagens de tirar o fôlego, trajeto até Kruger pode ser feito de carro

Por Soraia Abreu Pedrozo
27/10/2016 | 07:00
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Soraia Abreu Pedrozo/DGABC


 Ao sair de Joanesburgo para desbravar as cinco horas (440 km), que separam a cidade da região do Parque Nacional Kruger (Kruger National Park) – onde se deve pernoitar para, somente no dia seguinte, fazer o safári –, o trajeto pode ser percorrido de maneira interessante. As estradas são tranquilas e praticamente sem caminhões – neste caso, graças à herança britânica, que costuma conectar os principais municípios de suas ex-colônias por extensas e eficazes ferrovias. Jo’burg está ligada por linhas férreas a todo o país.

O desafio fica por conta da mão inglesa, cuja direção fica do lado direito do veículo, e não esquerdo, como o nosso, e as vias também são invertidas. Aqui, vamos pela direita e voltamos pela esquerda. Lá, vamos pela esquerda e voltamos pela direita, o que pode ser um tanto confuso no começo, embora quem já dirigiu por lá garante que a adaptação é rápida. Apesar disso, as leis de trânsito são as mesmas que as brasileiras, a carteira de habilitação nossa é válida e as estradas são bem sinalizadas. O recomendado é durante os dois primeiros dias andar de táxi ou Uber para ir se familiarizando.

Quem não quiser arriscar, no entanto, pode ir de avião, cujo trajeto leva apenas 45 minutos, e se tem três aeroportos: Nelspruit, Hedspruit e Skukuza. Mas o preço é salgado, gira em torno de 3.000 rands (R$ 833, considerando que 1 rand custa R$ 0,28).Uma terceira via é contratar serviço de transporte e apenas ir degustando a paisagem, composta por lindas planícies e cadeias rochosas.

A primeira parada é Pilgrim’s Rest, charmoso vilarejo com um quê de Nova Orleans, nos Estados Unidos, que no passado era morada de garimpeiros, já que a região abrigava minas de ouro. Com suas casas de madeira que resistiram ao tempo, o local é museu a céu aberto. Apesar de pequeno, conta com pousada e restaurantes. Há também várias barracas com artesanatos, onde a ordem é pechinchar.

Para se ter ideia, duas pequenas esculturas de madeira, de um elefante e uma girafa, que custavam 180 rands (R$ 50), saíram por 100 rands (R$ 27) após três minutos de negociação e apelo de um senhor de idade, que perguntava quanto poderia pagar, pois ele tinha de alimentar sua família.

Outro exemplo é um lenço, que custava 80 rands (R$ 22) e acabou ficando pela metade do preço, ou 40 rands (R$ 11), junto com um dedo de prosa. A moça que vendeu o produto, Andisa Mkonto, 29 anos, lamenta que a vida por ali é difícil, já que ela gostaria de poder estudar e ter acesso a mais coisas, pois vive num vilarejo próximo que parou no tempo. Ela ganha cerca de 300 rands por dia (R$ 83) e, aos domingos, vai à igreja metodista.

Tinha um cânion no meio do caminho
Com uma vista de tirar o fôlego, o Blyde River Canyon (Cânion do Rio Blyde) surge aos olhos, majestoso. Ele é o terceiro maior do mundo, perdendo apenas para o Grand Canyon, nos Estados Unidos, e para o Fish River Canyon, na Namíbia. No entanto, é o maior do mundo com cobertura verde. E é a próxima parada da Rota Panorâmica, situada na província de Mpumalanga, e que se estende por 18 quilômetros.

Nessa visita, o turista precisa contar com a ajuda do clima, pois, dependendo da temperatura e da hora, há muitas nuvens, o que inviabiliza a visibilidade do local. A tentativa vale e muito, pois o cenário, que lembra o filme Em Busca do Vale Encantado, é de cair o queixo. Não se assuste se cruzar com alguns babuínos que circulam livremente pela região, geralmente em busca de restos de alimentos nas lixeiras.

Perto dali, se tem a chamada God’s Window (Janela de Deus), outro cenário deslumbrante, mas para o qual não tivemos a mesma sorte, pois estava bastante nublado. Mesmo assim, a estrada de acesso ao mirante no fim da tarde é atração à parte, pois com um pôr do sol ao fundo, dá aquela sensação de ter a via toda só para si.

Brasil x África do Sul
Apenas para efeito de comparação, a África do Sul enfrenta problemas similares aos do Brasil, como desemprego, pobreza e desigualdade. A taxa de desemprego é de 25% da população economicamente ativa (similar à nossa nos anos 1980), enquanto que, por aqui, é de 11,8%.

O percentual da população abaixo da linha da pobreza é de 35% dos 54,3 milhões de habitantes (19 milhões de pessoas), sendo que, no Brasil, são 21% dos 200 milhões (42 milhões de pessoas). E a expectativa de vida da população sul-africana é de 63 anos, já a brasileira, 74 anos.

Por outro lado, números como geração de riquezas mostram cenário na contramão do nosso. O PIB (Produto Interno Bruto) da África do Sul encerrou 2015 em US$ 723,5 bilhões (R$ 2,5 trilhões), alta de 1,3% em relação ao ano anterior. No Brasil, atingimos R$ 5,9 trilhões, queda de 3,8% frente a 2014, o que nos leva à atual recessão. A inflação lá, no ano passado, era de 4,5%, enquanto que a nossa, 10,67%.

No país africano eles têm o VAT (imposto único) de 14% sobre todos os produtos. Aqui, há uma lista de produtos em que o percentual do tributo varia conforme sua essencialidade – mas nem sempre é justo. Por exemplo, sobre a carne são 24% e, na conta de luz, 48%. Nossa carga tributária é de 33% do PIB e, a deles, de 18%.

EDUCAÇÃO
Na África do Sul, 94% de sua população acima de 15 anos é alfabetizada, porém, há polêmica em torno desse índice, já que há quem o conteste por contabilizar pessoas que simplesmente sabem sabem ler e escrever, mesmo que mal. No Brasil, são 92,6%.

Em ambos os casos, no entanto, uma das máximas de Mandela cai como uma luva: “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. E, neste quesito, ambos ainda temos muito o que aprender.




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