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Jackson Antunes é cantador entre dois sertões
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
02/06/2001 | 15:41
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Jackson Antunes é ator e cantador e não quer virar mais um “global”. “Não quero ser um galã de óculos escuros que dá autógrafos. Quero abraçar uma causa mais nobre e dar espaço para as coisas do sertão”, diz. Mineiro de Janaúba, norte do estado, Antunes, aos 40 anos, está escalado para a próxima novela das seis da Rede Globo, A Padroeira, e lançou um CD de moda de viola e músicas de raiz, Veredas do Grande Sertão (Kuarup, 14 faixas, R$ 18 em média). É seu quinto disco gravado e o sexto já está encaminhado para daqui a três meses, Sanfonicamente Pé-de-Serra, com compositores inéditos. Enquanto isso, tenta emplacar um projeto seu na Rede Globo, Brasil de Todos os Cantos, fazendo o que ele mais gosta: “Falar das coisas de minha terra”.

Na novela, que deve estrear dia 18 de junho, ele será o pescador Atanásio, que lutará para construir uma igreja para a santa aparecida no rio Paraíba do Sul. No programa, Jackson pretende apresentar e receber convidados, cantadores, repentistas, cordelistas, poetas e outros. “O sertão sempre respeitou a cidade, mas a cidade ainda não aprendeu a respeitar o sertão”, diz Antunes, para justificar o programa, para o qual ainda não teve resposta da direção da emissora. E ele é teimoso. “Se a emissora não aceitar o projeto, eu faço outro, e outro, e vou insistir até eles cansarem”.

No CD, a influência do cantador Jackson Antunes, como são chamados os músicos do sertão modestos para se considerarem cantores, vai mais para o Norte, chegando em Luiz Gonzaga, um dos homenageados no disco. O ator lembra com emoção seu primeiro e único encontro com o “rei do baião”: “Seu Gonzaga foi fazer um show na minha região, quando eu tinha uns 10 anos. Fui ao show e, depois que terminou, levei um disco debaixo do braço para ele autografar. Ele viu e disse ‘Menino, você gosta de forró e xote, é?’. Quase partiu o LP de tanta força para escrever e me deu um abraço. Nunca mais vi nem falei com ele”.

Há quatro músicas de Gonzagão no disco, Asa Branca entre elas. “A mídia faz muita música virar modismo, que o tempo derruba. Mas ela não consegue fazer coisas ruins ficarem boas.” Jackson já havia gravado um CD, distribuído em bancas de revista, homenageando o cantor e compositor: Jackson Antunes, Cantador Matuto, Canta Luiz Gonzaga.

O grande destaque deste novo CD é a viola de Téo Azevedo, um dos produtores, e a de Tião do Carro, violeiro da mesma estirpe. “Téo é uma referência para nós lá no sertão. Ele nunca traiu seu estilo. Ele me fez voltar para a roça, dando umas dicas, porque cantar bonito igual a cantores por aí eu não ia conseguir. Só cantar com a maior verdade possível”, afirma Antunes. De fato, o esforço de Jackson é louvável do ponto de vista da seleção de músicas e de parceiros no disco.

Téo Azevedo, além de fértil compositor com cerca de 1,5 mil músicas, duas delas no CD (Minha Viola e Ternos Pingos D’Água), é também um dos maiores produtores do Brasil. Sem estatística definida, é provável que tenha pelo menos uns 3 mil discos produzidos, segundo Jackson, incluindo tudo o que se possa imaginar em manifestação artística: poesia matuta, repente, embolada.

Mas neste disco, quem mandou foi Jackson. “Fiz questão de escolher o repertório. O Téo comandava a gravação. Às vezes ele falava ‘vamos ensaiar’ e já era gravação. Outras, eu pensava que tava gravando e era ensaio”. Entre as músicas, uma homenagem ao mestre da viola Tião Carreiro composta por Téo Azevedo (Réquiem a Tião Carreiro). A homenagem vai também para o escritor Guimarães Rosa, autor de Grande Sertão: Veredas. Responsável pela descrição da paisagem e do homem do sertão mineiro, Rosa recolheu versos do folclore de Minas, musicados por Téo Azevedo na faixa título Veredas do Grande Sertão. Como cantador, ainda falta a Jackson a emoção que costuma dar a seus personagens, como o Antenor de Terra Nostra e Damião de Renascer.




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