Cultura & Lazer Titulo
Vanguarda brasileira
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
08/10/2006 | 18:55
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Duas mostras abertas em São Paulo exibem um panorama da arte contemporânea brasileira que a 27ª Bienal Internacional de São Paulo não adotou em seu conceito de não apresentar representações nacionais. Mesmo estando fora da Bienal, as obras e os artistas participantes das coletivas //Paralela 2006 e da Geração da Virada – 10 + 1 representam a vanguarda da produção artística brasileira.

Na primeira, obras dos que têm se destacado nos últimos 30 anos e a produção recente. Na segunda, nomes que surgiram em São Paulo e no Rio, e outros que não pertencem a este eixo cultural, principalmente a partir da metade dos anos 1990, num período de 11 anos.

Em ambas, a região está representada. A artista plástica andreense Sandra Cinto tem obras nas duas, enquanto Paulo Nenflidio, de São Bernardo, preparou suas engenhocas sonoras para a Geração da Virada, que está no Instituto Tomie Ohtake. A //Paralela 2006 pode ser vista no Pavilhão Armando de Arruda Pereira (antiga Prodam), no Parque do Ibirapuera.

Nenflidio fez para a exposição uma obra inédita, Decabráquido Radiofônico, ou seja, uma espécie de piano de dez braços, que lembra um caranguejo. São dez teclas, como em um piano normal, e cada uma delas aciona um rádio. Ou seja, estações AM/FM acionadas ao toque da tecla. A afinação depende da sintonia. Elaborado com dez rádios e muita madeira (cedro e pau-marfim basicamente), a obra começou a ser construída em 9 de setembro e teve seu último parafuso apertado no dia 1º de outubro.

Sandra representa bem o espírito contemporâneo. Com um trabalho que integra várias mídias como pintura, escultura, fotografia, desenho e arquitetura, a artista mergulha no onírico em busca de imagens que ganham tons azuis, brancos e cinzas, como se quisesse sobrepor várias noites numa só, metáfora do sonho de utopia que assimila a luz para traçar o etéreo. Esse é o caso da instalação que pode ser vista na //Paralela.

A curadoria desta mostra é de de Daniela Bousso. A //Paralela mostra o que há no circuito das galerias de arte e seus representados. Sobretudo, mostra a receptividade da obra de arte, com todas as nuanças que esta questão, contemporânea por excelência, representa. Isto é, oferece ao público um ponto de vista nacional de procedimentos artísticos representativos da modernidade na Prodam, edifício vizinho ao Pavilhão da Bienal no Ibirapuera. Um exercício prático de convivência, já que o tema da Bienal é Como Viver Junto.

Abraham Palatnik, Arthur Omar, Caetano de Almeida, Carlos Vergara, Carmela Gross, Cildo Meireles, Iole de Freitas, José Roberto Aguilar, Leda Catunda, Nelson Leirner, Nuno Ramos, osgemeos, Regina Silveira, Rogério Canella, Tomie Ohtake e Vik Muniz são alguns dos nomes importantes relacionados na mostra.

Por outro lado, o Instituto Tomie Ohtake mostra a “geração da virada”, segundo os curadores Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos, jovens artistas que surgiram individualmente ou em coletivos de arte na passagem do século. Menos por isso, e mais pela liberdade de usar e abusar das mídias variadas, fundindo-as umas às outras ou retomando expressões clássicas, como a pintura, para reinventá-las. Depois da Geração 80, cujo marco foi a mostra Como Vai Você, Geração 80?, em 1984, na Escola de Artes Visuais do Parque Laje no Rio, que lançou artistas como Daniel Senise, Leonilson, Leda Catunda e Luis Zerbini, esta nova geração é maior e mais variada.

Um dos motivos é a ativação de outros centros produtores, deslocando para fora de São Paulo e Rio o eixo. Favorecida pela internet, a informação circula com mais desenvoltura, mas foi a criação de novas instituições e os recursos das leis de incentivo à cultura que estimularam a produção artística no país. São os Centros Culturais Banco do Brasil de São Paulo, Rio e Brasília; do Santander Cultural, em Porto Alegre; do Museu Aluisio Magalhães, em Recife; do Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza; do Museu de Arte Moderna da Pampulha, em Belo Horizonte e do Museu de Arte Moderna do Rio. Além de instituições como Itaú Cultural, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Centro Cultural São Paulo e Paço das Artes, além do próprio Instituto Tomie Ohtake.

Como as duas mostras fazem uma interseção na última década, muitos nomes entre os novos artistas apresentados no Instituto Tomie Ohtake também estão na //Paralela. São eles, entre outros, Adrianne Gallinari, Cabelo, Caio Reisewitz, José Damasceno, Lia Chaia, Marcius Galan, Marcia Xavier, Paula Gabriela, Paulo Meira, Rafael Assef, Rochelle Costi, Rosana Ricalde, Rubens Espírito Santo, e Vania Mignone.

//Paralela 2006 – Reúne 145 artistas. Na Prodam (Pavilhão Armando de Arruda Pereira) – Parque do Ibirapuera, Portão 10. De terça a domingo, das 10h às 21h. Entrada franca. Até 19/11. Geração da Virada - 10 + 1: Os Anos Recentes da Arte Brasileira – Com 60 artistas. No Instituto Tomie Ohtake (av. Brig. Faria Lima, 201, entrada pela r. Coropés, Pinheiros, São Paulo. Entrada franca. De terça a domingo, das 11h às 20h. Até 26/11




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