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Gestantes revelam preocupação e dúvidas a respeito do zika vírus

Agente infeccioso também transmitido pelo Aedes aegypti está associado à microcefalia

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
15/02/2016 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


O vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, causador também da dengue e da febre chikungunya, tem aterrorizado a população mundial, especialmente as gestantes, desde que foi relacionado à microcefalia em bebês. A má formação faz com que os recém-nascidos tenham a circunferência cerebral menor do que o esperado, geralmente inferior a 33 centímetros.

Embora a fase mais vulnerável para contaminação das gestantes seja o primeiro trimestre de gravidez, as futuras mamães que já passaram deste período ficam apavoradas e cheias de dúvidas. A professora da Educação Infantil Regiane Angélica Mendes, 36 anos, moradora de Mauá, acabou de completar sete meses de gestação de Maria Clara, sua primeira filha. Descobriu que estava grávida em agosto e, logo em seguida, começaram as notícias sobre o zika e a microcefalia. “Não teve como não ficar preocupada, porque o vírus está avançando de modo muito rápido e, mesmo aos sete meses, não sabemos o que pode acontecer com a bebê se eu for picada pelo mosquito”, fala.

Conciliar a rotina com a preocupação tem sido tarefa árdua para Regiane. “Agora, que retornei ao emprego, minha preocupação triplicou. Trabalho na Zona Leste da Capital e em Santo André. Utilizo repelente indicado pela médica, procuro usar calças. Só não consigo usar blusas com manga comprida, por conta da queda da pressão”, revela. Além disso, a professora confessa evitar assistir aos noticiários sobre o tema para não “ficar neurótica”. “O triste é saber que, mesmo me cuidando ao máximo, não depende só de mim. É uma situação muito injusta com as grávidas”, considera.

No início do mês, estudo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, detectou a presença do vírus da zika ativo (com potencial para causar infecções) em amostras de saliva e urina.

Com a notícia, as gestantes passaram a evitar aglomerações, caso da pedagoga Camila Pandolfo, 31, de Santo André, grávida de oito meses do primeiro filho, Leonardo. “Deixei de viajar para a praia com minha família no Ano Novo e no Carnaval. Porém, voltei ao trabalho no dia 3. Acaba sendo inevitável o contato com outras pessoas. Mas até o final da gravidez, farei o possível para não transitar em lugares que estejam muito cheios”, observa.

A espera do primogênito, que prevê sentimento exclusivo de felicidade, traz também o medo, causado pelo surgimento de cada vez mais casos de zika. “Me sinto totalmente sozinha e posso dizer que desamparada por não saber o que de fato pode ocorrer e até onde isso vai chegar. Sei que muitos estudos estão sendo feitos, porém, nesse momento de total fragilidade, me sinto com medo de imaginar que esse mal esteja assolando as famílias brasileiras”, lamentou. “É realmente muito triste saber que pode acontecer essa tragédia ao longo da gestação e não se pode fazer nada para reverter. Isso porque estamos gerando uma vida, para a qual nos dedicamos desde o momento em que descobrimos que estamos grávidas”, concluiu.

 

REGIÃO

No Grande ABC, há quatro casos de microcefalia em investigação para verificar se há relação com o zika vírus: um em Santo André (a criança foi a óbito no dia 26 de janeiro) e três em Diadema.

Em todo o Brasil, 3.852 casos suspeitos de microcefalia estão sendo investigados. Segundo o Ministério da Saúde, 462 casos já tiveram confirmação de microcefalia e/ou outras alterações do sistema nervoso central, sendo que 41 com relação ao vírus zika.

 

Prevenção deve ser feita durante os nove meses

 

Especialistas alertam que as gestantes devem se cercar de cuidados ao longo de toda a gestação. “As infecções durante a gestação têm mais consequências para o feto quando ocorrem nos primeiros três meses, mas não exclusivamente”, fala a infectologista Lígia Pierrotti.

“O sistema nervoso se desenvolve por toda a gestação”, ressalta o professor titular de Obstetrícia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Mauro Sancovski, lembrando que 80% dos casos de zika são assintomáticos. “Então, se a gestante teve infecção e não soube, pode acometer o feto.” Quando há sintomas, os principais são febre, erupções na pele e dor muscular.

Além de evitar viajar para locais onde a incidência do vírus está maior, a prevenção inclui ainda o uso de roupas que cubram braços e pernas e de repelente. Sobre privar-se de locais aglomerados, a ginecologia e obstetrícia do Hospital e Maternidade Brasil Janifer Sewruk Trizi, pontua que essa já é uma orientação do pré-natal “para evitar qualquer tipo de doença.”

Mesmo com tanta preocupação, o médico Mauro Sancovski salienta que não há a orientação de evitar gravidez. “Tem mulheres que brigam contra o tempo para conseguir engravidar e, de repente, agora conseguem. Quantos anos já se está com a dengue no Brasil? Não se sabe quanto tempo vai durar a zika, então, cada uma que tem que decidir. Onde podemos agir é na prevenção e orientá-las como devem se cuidar durante a gestação.”

 

 




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