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Arquibancada cai e enterra sonho do Água

Setor social e área de imprensa do Inamar vão ao chão; diminuem chances de disputar o Paulistão

Anderson Fattori
Felipe Simões
Tauana Marin
Vinícius Ramalho
08/11/2015 | 07:00
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Celso Luiz


Caiu por terra, literalmente, o sonho do Água Santa em estrear na elite do Paulista. Embora a diretoria do Netuno tenha esperanças, a queda da arquibancada social e dos setores de imprensa e camarotes do Estádio do Inamar, ontem, tornou tudo mais difícil à equipe de Diadema, que corria contra o tempo para atestar capacidade do local para 10 mil torcedores.

Era por volta das 9h30 quando moradores relataram um forte barulho. Na sequência, os vizinhos mais próximos confirmaram o que todos temiam. O concreto havia virado pó e entulho.

Três trabalhadores ficaram feridos e foram encaminhados ao Hospital Municipal de Diadema. Dois tinham escoriações leves e um fraturou a perna.

Perícia marcada para amanhã deve apontar o que deu errado na obra. A diretoria do Netuno, porém, já trabalha com alternativas, como a instalação de arquibancadas modulares ou até tentar levar os jogos da equipe para o Pacaembu.

Esta segunda opção só seria possível se a FPF (Federação Paulista de Futebol) ignorar o que diz o regulamento geral do Paulista. No capítulo 6, que trata da infraestrutura e segurança das partidas, o artigo 33º diz que “os clubes, para participação e garantia do direito de acesso, deverão possuir no município de sua sede estádio próprio, alugado ou por qualquer outra forma cedido com prioridade de uso”. O documento exige capacidade de 10 mil torcedores para a Série A-1 e proíbe arquibancadas provisórias.


ENTENDA O CASO

A última reforma do Inamar começou em fevereiro, após o acesso do Água Santa para a elite do Paulista. A obra caminhava normalmente com previsão de término para 15 de janeiro, de acordo com TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) assinado com o Ministério Público.

Na quinta-feira, porém, durante os sorteios dos grupos na sede da FPF, na Barra Funda, em São Paulo, o nome do Água Santa foi substituído pela descrição “Acesso 4”, surpreendendo o presidente do clube, Paulo Sirqueira, que participava normalmente do conselho arbitral. A entidade alegou que não tinha laudo que atestava capacidade de 10 mil pessoas no Inamar, como exigia o regulamento e a FPF deu prazo até o fim do dia para que o Netuno providenciasse documento, o que foi feito.

Na sexta, o coronel Marcos Marinho, chefe do departamento de segurança e prevenção da entidade, deu prazo até quarta-feira para decidir se aceitaria ou não os documentos do Netuno, o que dificilmente vai acontecer após o acidente de ontem.


Presidente crê em bom-senso da Federação após acidente
Em entrevista coletiva, Paulo Sirqueira fala em fatalidade e mobiliza cidade pela Primeira Divisão


A sede da Câmara Municipal de Diadema parecia um estádio lotado em decisão de campeonato. Mas o que acontecia na tarde de ontem no Centro da cidade era uma entrevista coletiva, convocada pelo presidente do Água Santa, Paulo Sirqueira, para explicar o acidente ocorrido horas antes no Estádio do Inamar.

Sirqueira começou agradecendo a Deus, pois mesmo com a gravidade do acidente, apenas três funcionários da obra tiveram ferimentos leves. O cartola do clube de Diadema espera a perícia que deverá ocorrer amanhã para saber as causas do acidente e já tem um “plano B” para obedecer a capacidade mínima de 10 mil espectadores determinada pela FPF (Federação Paulista de Futebol), visando a disputa da Série A-1 do Paulista.

“Assim que terminar a perícia e a Polícia Civil liberar vamos retirar os destroços que ficaram e implantar arquibancadas modulares fixas suprindo a capacidade do setor afetado, com 1.200 lugares”, explicou o mandatário.

Paulo Sirqueira não acredita em perseguição política da FPF e mostra confiança em um final feliz para o clube da região. “Estou bastante confiante que será uma decisão técnica e que será levado em consideração tudo que fizemos, pois temos clubes que jogam em estádio alugado. Vai ser uma decisão técnica e será respeitado o direito do Água Santa de disputar a A-1 em 2016. A cidade de Diadema espera este momento”, analisou.

A entrevista terminou com um desabafo de Paulo Sirqueira, que abordou um assunto polêmico em relação à ascensão meteórica e a organização do Netuno. “Não aguento mais escutar que nosso time pertence a tipos e situações de organizações criminosas. Nossas contas estão abertas para quem quiser olhar, pois o Água Santa é do povo, é da cidade de Diadema. Temos uma diretoria e um grupo de empresários por trás e nosso time não é bancado por nenhum tipo de organização criminosa e nenhum tipo de dinheiro ilícito”, finalizou o presidente diademense.


Prefeito se refere a casas interditadas e pede: ‘Deixe o Água Santa jogar’


Outro que atendeu a imprensa para prestar esclarecimentos foi o prefeito de Diadema, Lauro Michels (PV). Ele explicou a situação das casas que foram afetadas pelo desmoronamento das arquibancadas do Estádio do Inamar e afirmou que a Prefeitura, em parceria com o Água Santa, está prestando assistência às famílias.

“Foram dez imóveis interditados por motivos de segurança, mas não tem risco nenhum no momento. Já conversamos com o clube e reservamos um hotel na cidade para abrigar as famílias. A Prefeitura é amiga e parceira do Água Santa e lamentamos o fato, que foi uma tragédia”, explicou.

O prefeito aproveitou a mobilização para mandar um recado à Federação Paulista de Futebol. “Estamos todos comovidos e fazemos um apelo: deixe o Água Santa jogar e mostrar seu futebol, não fique cobrando só um estádio. Vamos para o campo para ver quem é melhor. O esporte é assim”, finalizou o político.


Coronel Marinho mantém decisão para quarta-feira
Diretor da Federação toma conhecimento do acidente, mas não se posiciona sobre possível agravamento da situação do Água Santa


Procurado pela equipe de reportagem do Diário, o chefe do departamento de segurança e prevenção da FPF (Federação Paulista de Futebol), coronel Marcos Marinho, não quis falar sobre possível agravamento da situação do Água Santa após o acidente de ontem. O clube espera posição da entidade sobre os laudos que atestam capacidade mínima de 10 mil pessoas no Estádio do Inamar no Paulistão.

“Vi fotos da arquibancada que caiu, mas não consigo a distância avaliar a situação real. Vamos esperar a perícia e, por isso, é muito prematuro fazer qualquer tipo de análise. Na quarta-feira nos posicionaremos sobre o caso”, informou Marinho, que vistoriou o local.

O laudo enviado pelo Água Santa à FPF na quinta-feira foi assinado pelo engenheiro Eduardo Forti Battagin. O documento obtido com exclusividade pelo Diário atesta que o local do acidente, denominado de “arquibancada social frontal”, tinha capacidade para 1.238 torcedores.

Assim, o local atenderia à exigência do regulamento, com capacidade para 10.179 pessoas.
Antes do acidente, a expectativa do Netuno era que a decisão saísse amanhã, dia que ocorre o conselho arbitral da Série A-2. Isso porque, caso o clube da região perca o direito de jogar o Paulistão, quem herdará a vaga é o Mirassol, quinto na divisão de acesso neste ano.

Mas diante dos novos fatos, torcida, jogadores e direção terão que esperar para poder, enfim, comemorar a possibilidade de jogar contra os grandes clubes do futebol paulista.


Moradores do Jardim Inamar lamentam queda de estrutura
Pessoas que residem nas cercanias do estádio relatam barulho alto durante o desabamento


“É muito triste ver o time do seu coração, que você aprende a gostar desde pequeno, passar por esse sufoco, logo agora que subiu para a Série A-1 do Campeonato Paulista”, diz o educador social Moacir de Souza, 43 anos, de Diadema. Ele, que mora a 500 metros do Estádio do Inamar, ouviu o estrondo do desabamento da arquibancada social próximo das 9h30 de ontem. “Foi um barulho muito alto.” Ele reforça que a obra, que tive início em fevereiro, estava indo de vento em popa. “Estávamos animados com o ritmo da construção. Pena que aconteceu isso agora, em pleno mês de novembro.”

O auxiliar de expedição Frank Silva, 24, frequentava o estádio até o início das obras e, inclusive, já jogou bola no campo. “Esse desabamento é completamente frustrante para nós, torcedores do Água Santa. Foi supercomplicado para o time sair da posição que se encontrava e subir para a Série A-1, e agora acontece isso. Estamos confiantes que os dirigentes acharão uma saída, eles vão ter que pensar num plano B.”

Com o caçula no colo, o auxiliar de produção Evaldo Oliveira, 32, tentava ver pelos tapumes o estrago no estádio. “A paixão que tenho por esse time estou tentando passar para meu filho. Quem cresceu no bairro tem carinho por tudo aqui. Com certeza, nós, de Diadema, vamos cobrar das autoridades e fazer de tudo para que algo seja feito, e rápido. Não podemos deixar nossa conquista de lado. Houve muito empenho dos jogadores, da comissão técnica e muita vibração nossa, torcedores fiéis.”


Exclusão pode custar R$ 12 mi ao Netuno
Ex-dirigente do Santo André, Sérgio do Prado faz estimativa de quanto equipe de Diadema perderia financeiramente com ausência na elite


A eventual exclusão do Água Santa da elite do Campeonato Paulista não trará somente prejuízos esportivos ao clube. Financeiramente, o Netuno perderá entre R$ 10 milhões e R$ 12 milhões se não disputar a competição em 2016. A estimativa é de Sérgio do Prado, que foi diretor de futebol do Santo André durante quase duas décadas e hoje é dirigente do Bragantino, que disputa a Série B do Brasileiro.

A cota mínima por participação na elite estadual é de R$ 2,7 milhões. Somam-se a isso os recursos provenientes das rendas dos duelos da competição contra times grandes e pequenos, o que giraria em torno de R$ 1 milhão, no mínimo.

Com patrocínios, o ex-andreense estima que o prejuízo seja entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão. O Netuno já tem fechado um acordo com a Apta, concessionária que comercializa caminhões em São Bernardo, e pré-contrato com duas empresas da Capital, cujos nomes não foram revelados pelo presidente do clube, Paulo Sirqueira, que também não falou em valores de nenhum dos patrocínios.

Para efeito de contas, Prado arredondou as quantias e estimou o prejuízo total entre R$ 5 milhões e R$ 6 milhões somente com a ausência na elite. O ex-dirigente do Santo André ainda lembrou que todo o esforço do Netuno para subir novamente custaria praticamente o mesmo, chegando, assim, aos R$ 10 milhões ou R$ 12 milhões.
Fora isso, o Netuno ainda tem de arcar com o custo total da obra do Estádio do Inamar, cedido pela Prefeitura por 25 anos para o clube. O valor inicial, antes do desastre de ontem, gira em torno de R$ 12 milhões, incluídas todas as etapas, até as previstas.


Torcedora chora e espera Água Santa na A-1


Durante a entrevista coletiva concedida ontem, na Câmara Municipal, o presidente do Água Santa, Paulo Sirqueira, não cansou de falar sobre a mobilização dos moradores de Diadema para que o clube da cidade jogue a Série A-1 em 2016.

“Olhar uma torcedora se emocionar, não tem preço. Vocês não sabem como isso nos comove, porque o torcedor é apaixonado pelo clube e pela sua cidade”, falou Siqueira, referindo-se a Exilyn de Almeida, 15 anos.
Na saída da Câmara diademense, a torcedora explicou a emoção e a importância do Netuno para ela. “O Água Santa é minha vida e tenho muita esperança que a gente vai conseguir jogar a Primeira Divisão. Cresci com o Água Santa, meu pai me ensinou a torcer pelo clube e por isso eu chorei com a fala do presidente quando disse da ligação do clube com a nossa cidade”, explicou.

Exilyn aproveitou e fez um pedido para a Federação Paulista de Futebol. “Peço que a Federação olhe por nós, pois sofremos, viajamos para acompanhar o clube, tomamos chuva e merecemos jogar a Primeira Divisão”, pediu a jovem.

O presidente da Aquáticos, principal torcida do Água Santa, Rafael Ribeiro, 33 anos, mostra confiança na diretoria. “Sabemos que o Paulo (Sirqueira, presidente) está fazendo a correria. Caiu só uma parte da arquibancada, graças a Deus não houve vítimas fatais, mas acho que isso não será problema. Vamos jogar a Série A-1”, disse.

Quarta-feira, às 18h, os diademenses, independentemente de organizadas, se reunirão na Praça da Moça para mostrar a força da torcida e exigir o Netuno na elite. 




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