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Registros de Aids têm alta de 47,21% no Grande ABC

Número de contaminações voltou a subir; há
30 anos, Diário noticiava primeiras infecções

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
20/09/2015 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC:


Os casos de Aids no Grande ABC registraram aumento de 47,21% no último ano em comparação com 2013. Santo André, Mauá, Diadema e Ribeirão Pires registraram 269 casos em 2013, enquanto o total de 2014 ficou em 396. As contaminações pelo vírus HIV começaram a cair por volta do ano 2000, porém, voltaram a subir nos últimos anos. O cenário é observado 30 anos após o Diário noticiar os primeiros registros do vírus na região.

São Caetano informou que teve 1.012 casos registrados desde 1985 e que, atualmente, há 733 pessoas em tratamento. A cidade não apresentou comparativo ano a ano, porém, informou que os casos aumentaram. São Bernardo e Rio Grande da Serra não enviaram os dados.

Em setembro de 1985, a região registrava o quarto caso de Aids confirmado. O paciente em questão tinha 29 anos e era homossexual. Os outros três casos consistiam em um pai de família de Santo André, um jovem de 20 anos de São Caetano e um paciente desconhecido. Desde então, as prefeituras citadas registraram média de 7.000 transmissões.

A maior parte das contaminações acontecem em jovens, na faixa dos 14 até os 30 anos, sendo que a principal via de infecção é a relação sexual sem preservativo. Os idosos também têm apresentado mais registros, mas, segundo as prefeituras isso acontece por diagnóstico tardio.

Para o professor de Infectologia da Faculdade de Medicina do ABC Hélio Vasconcellos Lopes, com os avanços no tratamento, as pessoas acabaram deixando a prevenção de lado. “O indivíduo que se torna soropositivo hoje tem nível de preocupação dez vezes mais baixo que nas décadas passadas. Isso porque ele vai viver normalmente se seguir com o tratamento e aquele vírus fica adormecido”, disse.

Conforme o especialista, o tratamento pode ser realizado com um único comprimido, tomado diariamente. Além disso, também há medicamentos disponíveis para casais onde um é soropositivo ou ambos, o que impede que o vírus seja transmitido novamente.

“Existe certo relaxamento. Fala-se muito da liberdade sexual, mas não se fala dos riscos e, nesse caso, existe um e muito grande. Você observa que hoje os adolescentes competem por beijos e também há questões do compartilhamento de seringas que são sérias. O comportamento precisa ser mudado”, completou o infectologista e clínico geral da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Paulo Olzon.

O palestrante Gilberto Brito, 43 anos, é de Santo André e sentiu na pele o preconceito de ser um portador de HIV. Ele, que era usuário de drogas injetáveis, descobriu o vírus em 1989, ano em que os casos estavam em alta. “Naquele dia o mundo acabou. Chorei muito, foi terrível!”, contou.

Todos os seus amigos se afastaram. Os pais foram os únicos que o apoiaram. “Mesmo assim, tinha falta de informação. Eu tinha toalha e talheres separados, porque ninguém sabia como lidar com a situação. As únicas pessoas que ficaram do meu lado foram os meus pais. A família é o grande alicerce nessas horas”, lembrou.

Na década de 1990, o palestrante começou a se tratar com os medicamentos que enfim chegaram à rede pública de Saúde do Estado. A mudança foi grande, segundo ele. Antes, ele fica doente de três em três meses e fazia acompanhamento médico, que praticamente só aconselhava. Brito não esconde que, na época, pensava que iria morrer.

O palestrante é casado e pai de dois filhos. Nenhum deles ou a sua mulher são soropositivos. Ao invés de esconder a sua condição por vergonha ou preconceito, há 22 anos ele dá palestras em escolas, igrejas e empresas para alertar as pessoas sobre o perigo do HIV.

Com os casos em alta, Brito foca no público jovem e alerta sobre os perigos da doença. “Hoje os jovens enxergam que a Aids não mata mais, mas muda totalmente a sua condição. Eu tomo oito comprimidos por dia, cheguei a tomar 14. Não posso ficar no frio, tenho de ter alimentação forte. Continuo doente e as pessoas com o preconceito.”

 

Vírus tem pouca chance de ser transmitido para filhos

Conforme os especialistas, mesmo que o homem ou a mulher sejam portadores do vírus HIV, as chances de os filhos nascerem com Aids são pequenas. Desde que o paciente esteja tomando todos os remédios corretamente e que os exames indiquem que ele esteja bem, as chances de transmissão ficam em menos de 10%.

De acordo com o clínico geral e infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Paulo Olzon, o HIV não é transmitido diretamente para o feto. “O vírus tem de atravessar uma grande barreira da mãe até chegar ao bebê. O risco de que isso aconteça fica em torno de 30%, mas se ela estiver usando medicações, cai para menos de 10%.”

O Grande ABC possui serviço que ajuda que a contaminação tenha praticamente chances nulas de acontecer. Na Faculdade de Medicina do ABC, o Crase (Centro de Reprodução Assistida em Situações Especiais) auxilia casais portadores do vírus HIV.

Conforme explica o professor de infectologia da instituição Hélio Vasconcellos Lopes, a técnica é desenvolvida por diversos médicos e retira o vírus do espermatozoide. “O esperma é coletado e passa por determinados processos que o neutralizam. São substâncias que vão atuar e inativar o vírus. A partir daí, é feita a fertilização no óvulo. Com esse procedimento, praticamente não há nenhuma chance de que a criança venha a desenvolver a doença”, explicou.

O procedimento é realizado em casais sorodiscordantes (em que uma das pessoas é soropositiva e a outra não), mas também pode ser feito no caso de ambos terem o vírus.

 

Prefeituras mantêm serviços de auxílio

Na região, as prefeituras mantêm serviços de apoio aos portadores do vírus HIV. Santo André tem o Núcleo de Prevenção DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis)/Aids, que oferece trabalho rotineiro de prevenção e controle.

O Armi (Ambulatório de Referência das Moléstias Infecciosas) também oferece o atendimento aos portadores de HIV. Outras intervenções de prevenção ocorrem junto às pessoas em situação de rua, profissionais do sexo, crianças e adolescentes em situação de exploração sexual, entre outros.

Diadema conta com Centro de Referência em DST/Aids e Hepatites Virais para atendimento ambulatorial com médicos, assistentes sociais e psicólogos, incluindo consultas e medicação. Também são realizados atendimentos domiciliares para pacientes acamados.

No local é possível encontrar testes para diversas DSTs. Se o resultado der negativo, ele é orientado para a prevenção destas doenças e se for positivo, o paciente é matriculado no centro.

Em Mauá há ações de prevenção e visibilidade às questões do viver com a doença e a importância do teste e tratamento.

São Caetano tem campanhas sistemáticas, distribuição de preservativos em atividades externas e banco de preservativos em todas as unidades de saúde.

Ribeirão Pires mantém o Centro de Testagem e Aconselhamento que possui informações e distribuição de preservativos, além do disque Aids, no 0800-7731661.  




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