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Vício em álcool leva
pessoas a viver à
margem da sociedade
Por Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
02/10/2011 | 07:00
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É fácil identificar um morador de rua nos centros das cidades. A equipe do Diário ouviu relatos impressionantes dessas pessoas, e os motivos que fizeram com que chegassem a essa situação são parecidos. As causas são as mais variadas possíveis, mas um elemento está presente em todas as conversas: o álcool. Esse foi o combustível para indivíduos abandonarem familiares e o convívio social para viver à margem da sociedade.

Mauro, Orestes, Pedro e Altair, entre tantos outros encontrados nas ruas, são homens que já tiveram uma família, uma casa, um emprego e uma vida. Atualmente, eles próprios sabem que estão a um passo da morte, ou por doenças ou pela violência.

Eles acordam e dormem com uma garrafinha de pinga ao lado. Muitos não lembram quando começaram a beber. Mas grande parte revela que o envolvimento foi devido às dificuldades na infância e problemas dentro de casa. Normalmente, o pai também era dependente alcoólico.

"Não tive infância, trabalhei na roça no Interior de São Paulo. Meu pai chegava em casa bêbado, batia na minha mãe e na gente. Por isso, quando vi que estava exagerando, larguei tudo e vim para a rua", fala Orestes, um sujeito alto, cara inchada e com marcas de pancadas no rosto e nos lábios, parado no Centro de São Bernardo.

Para Mauro, 47 anos, a história é ainda mais trágica. A sua mulher, com quem viveu por 27 anos e foi a primeira pessoa que havia "tirado da bebida", morreu em 2010. "Perdi meu chão e minhas referências. Abandonei meu emprego e deixei meus filhos com a minha mãe. Até hoje não quero saber de nada, só de beber."

O homem, que por 12 anos prestou serviços em uma montadora e ganhava R$ 4.600, hoje vive da pensão deixada pela mulher, que era funcionária pública. "Sei que estou me matando, mas não tenho mais motivos para viver. Acordo e, para esquecer, tomo as minhas pingas. Sei que posso sair dessa, mas não sei se quero", comenta, desiludido com a vida.

As suas mãos tremem, os pés estão inchados e ele passa dias sem tomar banho. "Tenho pena da minha mãe, que passa aqui para me ver e fica desiludida, mas em casa não tem mais sentido ficar", conta, emocionado.

Pedro e Altair andam juntos pelo Centro de Santo André, mas parece que se equilibram um no outro. A sacola plástica fica sempre presa nas mãos. Eles parecem não se importar com a péssima aparência. Para entender o que a equipe do Diário perguntava, eles se olhavam, mas só conseguiam entender depois de muita insistência. Os dois informaram que passam um tempo em lugares diferentes. "Assim a gente não fica marcado." Os dois já tiveram um lar, mas agora esperam por uma salvação inesperada ou, infelizmente, o mais provável: o fim da vida.




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