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O retrato do passado
Por Carlos Brickmann
24/06/2015 | 07:00
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Festa no PSDB, preocupação no PT: na última pesquisa Datafolha, se a eleição fosse hoje, o tucano Aécio Neves lideraria a corrida presidencial, com 35% das intenções de voto, dez pontos percentuais à frente de Lula, que teria 25%. Marina Silva estaria pertinho, com 18%. Se o candidato do PSDB fosse Alckmin, Lula lideraria com 26%, mas Marina teria 25% – empate técnico, placar apertado. Alckmin ficaria em terceiro, com 20%, quase empate técnico.

Só que a eleição não é hoje, mas daqui a três anos. Dilma é um peso que Lula carrega, mas eventualmente pode tornar-se mais leve no futuro. Também pode prejudicá-lo ainda mais do que hoje, mas, convenhamos, teria de produzir estoque de más notícias difícil até para uma presidente como ela. E, principalmente, a pesquisa é um retrato de agora. Campanha malfeita do favorito, campanha benfeita do segundo colocado, algum evento inesperado, e tudo muda. Quem imagina que o retrato de hoje vale para 2018 está sujeito a grandes surpresas e enormes decepções.

Costuma-se dizer que os generais estão sempre prontos a lutar a guerra anterior, ignorando as mudanças tecnológicas e as condições políticas. Os políticos também adoram os retratos do passado: frequentemente tomam decisões com base na análise de situação anterior, volátil, mutante – mas que tem a virtude de deixá-los satisfeitos, acreditando na própria propaganda, como estão agora os tucanos. Mas a certeza do triunfo é o caminho da decepção.

Prevendo o futuro
A pesquisa Datafolha, lida corretamente, indica que está tudo em aberto. Lula continua sendo popularíssimo, mas não é invencível. Aécio sai na frente, mas pode ser atropelado no PSDB por Alckmin. Marina até agora foi cavalo paraguaio, que dispara no início e é logo superado; mas, como Collor em 1989, nada impede que um dia lidere a corrida no início e se mantenha no alto até o fim, enquanto os adversários esperam inutilmente sua queda. Serra será ou não candidato (no caso, por outro partido, talvez o PMDB?) E Eduardo Cunha, qual o limite de sua força? Lembremos: ler pesquisas é ótimo para planejar campanha. Mas acreditar em pesquisas, retratos de momentos anteriores, é um perigo.

O caminho das urnas
O PMDB deve decidir em setembro, em congresso nacional, se lança ou não candidatura própria à Presidência da República. O PMDB não concorre à Presidência com nenhum nome do partido desde 1994, quando lançou Orestes Quércia e chegou em quarto lugar, com 4,38% dos votos (Fernando Henrique venceu no primeiro turno. Lula chegou em segundo, Enéas em terceiro). De lá para cá, o PMDB preferiu não perder mais: adere ao candidato vitorioso e governa com ele.

Briga sem brigar
Lula fez série de declarações explosivas, em reuniões fechadas mas com muita gente (e, como dizia Tancredo Neves, se o segredo é conhecido por mais de uma pessoa deixa de ser segredo). Disse que muitos petistas só pensam hoje em cargos, empregos, boquinhas; que o PT perdeu a utopia; que os militantes só militam por pagamento; que Dilma não o ouve e tem mão pesada para política.
Lula definitivamente não é bobo. Sabe que tudo o que diz nessas reuniões será divulgado. Ou seja, falou para que todos saibam, mas numa situação em que pode dizer que não foi bem assim. Mostra sua insatisfação com o PT e o governo, busca livrar-se da má imagem do partido e da presidente que elegeu, mas sem rupturas. Quer ter as vantagens de ambos os lados.

O nome do jogo
Lula é político hábil e executa bem seu jogo. Só se equivoca ao dizer que o PT perdeu a utopia. Utopia não é sinônimo de pudor.

O apelido do jogador
É erro atribuir o apelido Brahma, pelo qual Lula era conhecido por alguns empreiteiros, a eventuais hábitos pessoais. É Brahma por ser o número 1. O que, a propósito, considerando-se o momento, é muito mais comprometedor.




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