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Crise da água no ABC tem vilão
Raymundo de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
27/10/2001 | 15:40
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O aumento de moradores em áreas de proteção de mananciais no entorno da represa Billings é apontado como o principal vilão na crise de abastecimento de água que castiga três cidades da região (Santo André, São Bernardo e Diadema). Para a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), a proliferação de algas no trecho do Rio Grande, de onde é captada a água fornecida para o Grande ABC, tem ocorrido por causa de mais esgoto. Um levantamento feito pelo ISA (Instituto Socioambiental), uma organização não-governamental, mostra que houve crescimento – o índice só será divulgado em novembro – nas áreas ocupadas na região da Billings, entre 1989 e 1999.

A população de 716 mil pessoas verificada na última contagem feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1996, pode ter ultrapassado os 850 mil até o ano passado, segundo estimativa de representantes do poder público, ambientalistas e de órgãos ambientais. Quase metade dessa população (344,3 mil) está no Grande ABC e o restante, na capital.

O bairro Capelinha, que fica na parte de cima do local de captação da Sabesp na Billings, é um exemplo. Até 1994 eram poucas casas, mas hoje tem uma população de 1,8 mil pessoas. A estrutura do Dusm (Departamento de Uso do Solo Metropolitano), um dos responsáveis pela fiscalização nas áres de mananciais, mostra a precariedade da fiscalização. O órgão da Secretaria Estadual de Meio Ambiente tem apenas 12 fiscais para toda a área de mananciais da Região Metropolitana de São Paulo, que inclui – além da Billings – as regiões da Guarapiranga, Alto Tietê e Cantareira e compreendem 3,3 mil km². O coordenador de fiscalização do Dusm na área da Billings, Cláudio Bolzani, afirma que a prioridade tem sido evitar o surgimento de novos focos de ocupação. Segundo ele, no período de 1994 até setembro deste ano foram feitas 5.808 autuações de advertência, 839 de embargos, 564 medidas de intervenção e 462 ordens de demolições na área da represa.

De acordo com o coordenador do ISA, João Paulo Capobianco, o aumento de áreas ocupadas na bacia da Billings, verificado na última década, ocorreu na forma de invasão e de adensamento. “O pior é que as ocupações que foram feitas na Billings entre 1989 e 1999 aconteceram em áreas mais frágeis em termos ambientais.” O gerente de operação da Sabesp, Amauri Pollachi, afirma que a quantidade de células de algas por mililitro de água no trecho do Rio Grande era de 50 mil unidades, mas atualmente está entre 60 milhões a 80 milhões. Segundo ele, a falta de fiscalização por parte dos municípios sobre as ocupações é a principal causa da atual situação.

Já os prefeitos e secretários responsáveis pela área ambiental das cidades da região apontam omissão por parte da Sabesp e falta de investimentos da empresa estatal para garantir a qualidade da água que vende para a população. “Além de investimentos por parte da Sabesp, faltam também linhas de crédito do governo federal para os municípios implementarem obras de coleta de esgoto”, disse o prefeito de Diadema, José de Filippi Jr. (PT), presidente do Sub-Comitê da Bacia Hidrográfica da Billings.

Para Osmar Mendonça, secretário de Meio Ambiente de São Bernardo, cidade do Grande ABC que possui a maior área de mananciais e a maior população em ocupações próximas da Billings (158 mil, segundo a contagem do IBGE de 1996), o adensamento vem ocorrendo nas áreas ocupadas, mas em ritmo decrescente. Ele afirma que a intensificação da fiscalização nos últimos quatro anos tem freado as invasões e o adensamento. Segundo ele, 9.547 pessoas moram em áreas de mananciais ocupadas no trecho que fica acima do local de captação de água da Sabesp no braço do Rio Grande, na Billings.




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