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Corpo do ex-presidente Figueiredo é enterrado no Rio
Do Diário do Grande ABC
25/12/1999 | 17:05
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O corpo do último presidente do regime militar, general Joao Baptista de Oliveira Figueiredo, foi enterrado na manha deste sábado, no Rio de Janeiro, com honras militares completas, mas sem a presença de personalidades da política brasileira. O presidente Fernando Henrique Cardoso, que está no Rio, mandou uma coroa de flores. Ele foi representado pelo comandante do Exército, Gleuber Vieira.

Figueiredo, que estava inconsciente havia uma semana, morreu nesta sexta, véspera de Natal, de parada cardíaca, conseqüência de insuficiência renal e cardiorrespiratória, segundo o médico que o atendia, Aloysio Salles.

Casado com Dulce Figueiredo, o general deixou dois filhos, Paulo e Joao Baptista, mais conhecido como "Johnny", e sete netos. Família, amigos e admiradores do ex-presidente, que eram a maioria dos presentes ao enterro, reclamaram do "descaso" dos políticos e consideraram Figueiredo um injustiçado, uma vez que a anistia aos exilados foi concedida durante o governo dele - apesar de a abertura ter sido articulada e iniciada ainda no comando do ex-presidente Ernesto Geisel. "Os falsos democratas, que nunca fizeram democracia, nao queriam estar perto dos militares, taxados de ditadores", enfatizou o irmao do ex-presidente, general Diogo Figueiredo.

O general acredita que Figueiredo, quando participou da articulaçao do golpe militar de 1964, impediu que "o Brasil se transformasse numa Cuba gigante". "Este país ia ser comandado por comunistas radicais e eles iam promover um banho de sangue" afirmou, acrescentando que o irmao "salvou o pescoço de muita gente que iria para o paredao ou seria pendurada nos postes da Avenida Rio Branco".

Para o empresário Georges Gazale, "se o Brasil tem Fernando Henrique como presidente e a volta à cena política de Leonel Brizola (presidente nacional do PDT), Miguel Arraes (presidente nacional do PSB) e José Serra (ministro da Saúde), isso se deve ao governo de Joao Figueiredo". O deputado Jair Bolsonaro (PPB-RJ) também fez ataques diretos aos políticos. "Acho que a abertura foi um erro porque o que havia de pior na política brasileira retornou ao país: Leonel Brizola, Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Motta (ex-ministro das Comunicaçoes), José Gregori (secretário nacional dos Direitos Humanos)". Para ele, "esses políticos mergulharam o Brasil na corrupçao e desnacionalizaram o país".

O filho do ex-governador de Sao Paulo Adhemar de Barros, Adhemar de Barros Filho, da direçao do PPB, afirmou que o enterro foi "o retrato mais limpo da ingratidao" da classe política. "Nem a esquerda nem a direita apareceu para dizer obrigado." Um dos melhores amigos de Figueiredo, general Meton Gadelha, ainda tem esperanças de que "a História registrará" a importância do governo do ex-presidente. Gadelha insinuou que Figueiredo deixou registros da vida de militar. "Sao 22 anos, multiplicados por 365 dias, de atuaçao diária na política."

Poucos curiosos foram ao enterro, acompanhado por cerca de 200 pessoas, em grande parte militares. O mecânico Severino Ramos da Silva mora em Vila Kennedy, na zona oeste, e estava na porta do Cemitério do Caju quando o corpo do ex-presidente chegou, por voltas das 10 horas. "Vim dar uma olhada", explicou. "Acho que ele foi um bom presidente para todo mundo, mas nao sei muito bem o porquê."

O ex-ministro da Justiça, na gestao Geisel, e amigo de Figueiredo, Armando Falcao, surpreendeu-se com o número de pessoas que foram ao enterro. "E olha que ele pediu para ser esquecido", disse, referindo-se à declaraçao de Figueiredo ao deixar a Presidência da República, em 1985. "Imagina se ele nao tivesse feito esse pedido."

Figueiredo tinha um temperamento difícil, segundo os próprios amigos dele, o que ajudou a o isolar. O humorista Castrinho estudou com os filhos de Figueiredo no Colégio Militar e lembrou que o ex-presidente se afastou do convívio social. "De vez em quando, ele tinha rompantes rígidos, mas o coraçao era enorme", afirmou o ex-ministro da Marinha do governo Figueiredo, Alfredo Karam.

O empresário Joao Havelange, ex-presidente da Fifa, também amigo da família, elogiu o general: "Além de grande amigo, oficial de elite, ele foi um grande estadista, um homem de bem." Os dois amigos, que se conheciam desde a juventude, eram presidentes de honra do Fluminense - time que Figueiredo acompanhou até três ou quatro meses atrás, segundo o filho "Johnny."




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