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Ex-colaborador de Dom Cláudio destaca opção por oprimidos
Por Adriana Gomes
Do Diário do Grande ABC
12/04/2005 | 13:03
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Em um período de desemprego, no final da década de 1970, o aposentado Hernâni de Castro, 87 anos, de Santo André, viveu uma das fases mais enriquecedoras de sua vida. Ele foi convidado a trabalhar na Cúria como datilógrafo do boletim diocesano e “secretário burocrático de dom Cláudio Hummes”, então bispo da Diocese de Santo André. O ano era 1978 e a experiência durou cerca de seis meses, o bastante para marcar o início de uma amizade e da admiração de Hernâni pelo hoje papável dom Cláudio.

Hernâni não ficou mais tempo na Cúria porque recebeu proposta de emprego mais vantajosa. Mas, por ter adorado o período com dom Cláudio, ofereceu-se para prestar serviços gratuitos nos fins de semana após o desligamento. Além de datilografar o boletim, Hernâni cuidava da correspondência de dom Cláudio.

“É um homem de coração boníssimo. Eu percebia em seu trabalho a clara opção pelos mais pobres e oprimidos. Abriu as portas da Igreja para grevistas, quando as greves eram clandestinas”, declara Hernâni sobre o arcebispo de São Paulo, que permanece em Roma para participar do conclave que elegerá o novo papa. Embora esteja na torcida, Hernâni não quer falar sobre as chances reais do brasileiro. “Tenho o meu palpite, mas prefiro não revelar.”

Durante algum tempo, Hernâni visitou dom Cláudio na Cúria, mas depois perdeu contato. Da convivência, se lembra que o atual arcebispo gostava de música sinfônica e “tinha a humildade típica dos franciscanos”. Questionado sobre se dom Cláudio manteria essa postura humilde, Hernâni não titubeia em responder: “Claro que sim, é característica pessoal dele!”.

Apesar do histórico relacionado ao apoio às lutas trabalhistas, Hernâni nega que dom Cláudio gostasse de temas políticos. “Ele acolheu os metalúrgicos porque eram os oprimidos de então. A religiosidade dele era marcante, estava acima de tudo.” Hernâni destaca ainda que os padres da região eram amigos pessoais de dom Cláudio, “dono de um carisma todo especial”.

Antes de trabalhar com dom Cláudio, Hernâni viajou para Porto Alegre para presenciar a ordenação de Aury Affonso Hummes, conhecido internacionalmente hoje como dom Cláudio Hummes, 70 anos. No cerimonial da década de 1970, ele se tornaria bispo titular da Diocese de Santo André. Hoje, parte da mídia internacional o considera um dos favoritos à sucessão do papa João Paulo II.

Poema – Hernâni não foi sempre um católico praticante. Conta que a dedicação à Igreja começou em 1970, quando a esposa, já falecida, o convenceu a participar do Cursilho de Cristandade, que prevê trabalho de evangelização nas famílias. A partir de então, a religiosidade foi crescendo e o morador da Vila Alpina não parou mais de trabalhar junto aos católicos.

A admiração pela ação de João Paulo II cresceu na mesma medida. Embora não tenha conseguido ver o papa em nenhuma das visitas que fez ao Brasil, Hernâni sempre acompanhou o noticiário sobre o pontífice, e acredita que ele tinha o mesmo perfil de dom Cláudio. “Ambos fizeram a opção pelos oprimidos.”

Em 1997, Hernâni fez um soneto em homenagem ao papa, e foi incentivado pelos amigos a enviá-lo ao Vaticano. Fez isso e recebeu uma resposta afetuosa da Secretaria de Estado da Igreja Católica. A assessoria de João Paulo II agradeceu “a delicadeza do gesto” e enviou “os melhores votos de felicidade” em nome do papa. Para Hernâni, uma lembrança para toda a vida.



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