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Clube de investimento populariza Bolsa

Ferramenta é considerada uma opção atrativa para o acesso do pequeno investidor ao mercado acionário

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
20/07/2008 | 07:10
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Os clubes de investimentos, considerados por especialistas uma maneira de democratizar o acesso ao mercado acionário, já são mais de 2.600 no País. É um salto em relação há dez anos, quando somavam apenas 149.

O patrimônio líquido e o número de participantes no segmento também disparou. São R$ 18,05 bilhões e cerca de 153 mil participantes. Em 1998, eram pouco mais de 67 mil integrantes, que contabilizavam juntos R$ 101 milhões.

A ferramenta, vista como uma alternativa para o pequeno investidor, permite aplicar baixas quantias (por exemplo, R$ 50 por mês), que se somam ao investimento de outros integrantes do clube para a aquisição das ações. Dessa maneira, é possível adquirir papéis de várias empresas, em diferentes setores, o que dilui os riscos, explica o assessor de Relações Institucionais da Bovespa, José Roberto Mubarack.

No entanto, o assessor alerta que, como outras formas de investimento nesse mercado, há riscos de perdas e o investidor que ingressa na área deve ter visão de longo prazo.

Com as ressalvas, Mubarack enumera que há ainda outros diferenciais, como a oportunidade de conhecer o mercado acionário e poder participar das decisões de investimento, nas assembléias, no contato com analistas da corretora (é preciso cadastrar o clube em uma dessas instituições) ou com o gestor - que pode ser um cotista ou um investidor independente autorizado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ou todos os cotistas juntos.

"Mas a pessoa tem de se envolver e estar disposta a aprender", afirma o sócio da corretora Geração Futura, Wagner Salaverry, que reconhece: "As pessoas estão criando uma cultura de investir em ações, também em função da baixa rentabilidade da renda fixa".

O valor mínimo para a formação de um clube varia, dependendo da corretora, assim como a taxa de administração - percentual cobrado pela corretora para a compra e venda das ações. Na Ativa Corretora, por exemplo, o mínimo é R$ 100 mil e taxa é de 2% ao ano. Já a Geração Futuro cobra 4% ao ano e o valor inicial gira em R$ 300 mil.

Os clubes têm crescido mesmo no momento atual, em que a Bovespa registra alta volatilidade (altos e baixos). "Praticamente dobrou o número de clubes na corretora em um ano. Estamos próximos de 80, tínhamos 46 em 2007", disse o coordenador da área da Ativa, Raul Meyer.

"Essa é uma oportunidade para comprar na baixa. A economia tem fundamentos consistentes, apesar da alta de juros", diz Salaverry.
A perspectiva é positiva. "Essa opção de investimentos só tende a crescer, em função da própria expansão da economia", avalia o coordenador da Ativa. Mas é preciso saber esperar.

O passo a passo para a atividade

Segundo a Bovespa, um clube de investimentos deve ser formado por pessoas que tenham objetivos semelhantes. Podem ser grupos de amigos, funcionários de uma mesma entidade ou empresa, profissionais ou pessoas com uma atividade em comum (professoras, médicos, donas de casa, aposentados, estudantes, etc.). Conforme orientação da Bolsa, o primeiro passo, após a decisão do grupo de montar um clube, é procurar uma corretora. Ela irá orientar a formação do clube e, depois, se responsabilizará pela operações de compra e venda das ações.

O segundo passo é definir a quantidade e o valor de cada cota do clube. Na seqüência, será necessário preparar o estatuto desse clube. Pelas regras em vigor, ninguém pode ter mais que 40% das cotas.
Se todos os dados estiverem corretos, o clube é registrado na Bovespa, a seguir na Receita Federal e já começa a operar. Os membros decidem onde aplicar, com a assessoria da corretora, que realiza a transação. De tempos em tempos, o clube faz uma assembléia para decidir estratégias de aplicação.

É importante ressaltar que o participante tem o direito de sair do clube no momento em que desejar. Basta comunicar à corretora.

VANTAGENS
São diversas as vantagens oferecidas por essa ferramenta. Entre elas, a Bovespa relaciona a acessibilidade, porque os participantes podem, juntos, comprar ou vender ações e participar do mercado como os grandes investidores.

Outra vantagem é a maior tranquilidade do que em investimentos individuais, uma vez que os integrantes podem investir pequenas quantias mensalmente, o que favorece a formação de um preço médio melhor.

A possibilidade de diversificação é também um benefício. Com maior volume, fruto da soma dos recursos de cada integrante, é possível adquirir lotes maiores, que não seriam acessíveis de forma individual ao pequeno aplicador.

Os clubes permitem ainda, em princípio, que os envolvidos participem diretamente de sua gestão, o que embora demande tempo e disciplina, é uma forma de aprender como funciona o mercado.

Também há uma vantagem tributária em relação ao investimento da pessoa física. O investidor só paga o IR (15% sobre o que ganhou) quando resgata o dinheiro do clube, e não em cada lucro obtido com vendas de ações.

Investidor começou com R$ 100 e já acumulou R$ 120 mil

O representante técnico Eduardo Komesu, 29 anos, começou a participar de um clube de investimentos há cinco anos. "A idéia era guardar dinheiro para dar entrada em um apartamento", disse. Ele começou colocando R$ 100, e depois, regularmente, continuou aplicando pequenas quantias todos os meses, "para fazer preço médio" (reduzir as oscilações de valores dos papéis da Bolsa).

Komesu não pode se queixar. Ele já acumula R$ 120 mil, para a compra da sonhada casa própria, um apartamento no Centro de São Bernardo. "Pretendo me casar, estou noivo", afirmou.

Os números do clube mostram que vale a pena investir. Desde que foi criado, registra 400% de valorização no período. "Começamos com R$ 2.000, hoje estamos com R$ 1 milhão", afirma o administrador, Valdir Teixeira. No grupo, há pessoas que buscam guardar para a aposentadoria, para a compra do carro ou para adquirir uma casa.

Teixeira procura não deixar o ânimo cair. "Em momentos como este, mando e-mails para encorajar o pessoal. É preciso ter visão de longo prazo. De seis meses a um ano é pouco tempo para esse mercado."




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