Cultura & Lazer Titulo Recordação
A importância de lembrar Zélia Gattai
Por Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
20/05/2008 | 07:03
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A carreira como autora de Zélia Gattai, morta no sábado aos 91 anos, começou tardia, em 1978, com as memórias da família de imigrantes italianos: Anarquistas, Graças a Deus. Ontem, seu corpo foi cremado e as cinzas devem ser depositadas sob uma árvore no quintal da casa que serviu de inspiração para uma de suas últimas obras, no bairro do Rio Vermelho.

E foi justamente no plano da memória que Zélia encontrou seu caminho como escritora. Tarefa que seria no mínimo assustadora para alguém íntimo de um autor do porte de Jorge Amado (1912-2001), seu companheiro por 56 anos, mas que a paulista assumiu sem o sobrenome famoso.

Das 14 publicações que se seguiram a Anarquistas, sete são de memórias: Um Chapéu para Viagem (1982), Senhora Dona do Baile (1984), Jardim de Inverno (1988), Chão de Meninos (1992), A Casa do Rio Vermelho (1999), Cittá de Roma (2000) e Códigos de Família (2001). Em 2002, um ano após a morte do companheiro, lançou ao lado dos filhos Paola e João Jorge Um Baiano Romântico e Sensual, uma homenagem a Amado.

Zélia também foi responsável por documentar diversos momentos da vida do marido em fotografias. O resultado de anos de cliques da paulista pode ser visto em Reportagem Incompleta, livro lançado em 1987 que é a biografia de Jorge Amado amarrada por imagens captadas pelo olhar privilegiado da companheira. Uma paixão fulminante que transformou Zélia, de fã do romancista a companheira de vida em apenas dois meses.

Outra vertente da carreira da viúva de Jorge Amado é a literatura infantil. A estréia no gênero foi com Pipistrelo das Mil Cores, em 1989. Empolgada, lançou dois anos depois O Segredo da Rua 18. Jonas e a Sereia, de 2000, foi sua última incursão no texto para crianças. Como romancista, tem um único título Crônica de Uma Namorada (1995).

Uma mulher muito culta, divertida e vivaz. Assim era Zélia Gattai Amado àqueles que a conheciam. Porém, a cumplicidade com Jorge Amado era uma das coisas mais notáveis em sua personalidade. Mesmo depois da morte dele. "Parecia uma paixão que nasceu da admiração mútua que um tinha pelo outro", diz a escritora Dalila Teles Veras, de Santo André, que conheceu a memorialista em dezembro de 2002, quando ela veio participar do lançamento de uma escultura de Ricardo Amadasi em homenagem ao autor baiano, instalada na livraria de Dalila, a Alpharrabio. Na época Paulistana do bairro do Paraíso, Zélia já tinha uma relação com o Grande ABC na época retratada em seu primeiro livro de memórias. A mãe, Angelina Da Col, tinha tinha parentes em São Caetano e as duas vinham de maria-fumaça e jardineira visitar a família. Anos mais tarde, passou a trocar correspondências com Rafael Zaia, bisneto de uma de suas primas que moravam na região.

Embora tenha corrido o mundo e travado contato com intelectuais, graças ao trabalho de Jorge Amado - moraram no Rio, na República Tcheca (onde a caçula Paloma nasceu) e na França antes de se estabelecer em Salvador em 1963 - Zélia já tinha uma grande bagagem intelectual e militante. O primeiro marido, Aldo Veiga (relação da qual nasceu o primogênito Luiz Carlos), fez com que ela travasse contato com gente como Tarsila do Amaral, Rubem Braga e Vinicius de Moraes.

Apesar de tantas influências advindas do convívio social dos maridos, a memorialista conquistou espaço e respeito graças a seu temperamento atrevio. "Ela assimilou esses contatos e mesclou sua vivência com a baianidade do Jorge Amado. Era uma mulher muito forte e doce", comenta Dalila.




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