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Brasil vence a Itália, mantém hegemonia e confirma melhor campanha olímpica
Fernão Silveira
Do Diário OnLine
29/08/2004 | 10:20
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Levantador Ricardinho vibra no pódio. Foto: AFP A melhor seleção masculina de voleibol do mundo voltou a superar a Itália, confirmando sua supremacia com a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas. O Brasil venceu por 3 sets a 1, com parciais de 25/15, 24/26, 25/20 e 25/22, neste domingo pela manhã, coroando com ouro a campanha perfeita dos comandados do técnico Bernardo Rezende nos últimos quatro anos. Bernardinho, prata como jogador (em Los Angeles-1984) e bronze duas vezes como técnico da seleção feminina (em Atlanta-1996 e Sydney-2000), finalmente conseguiu subir ao posto mais alto do pódio.

O ouro em Atenas, que consagra o bicampeonato olímpico do voleibol brasileiro, marca o 12º título da seleção em 15 torneios disputados sob o comando de Bernardinho. O time verde e amarelo ainda confirmou a campanha olímpica 'mais dourada' da história do Brasil: são quatro lugares máximos do pódio, ultrapassando a performance de Atlanta-1996 (quando foram conquistadas três medalhas de ouro).

Mais um dado importante sobre a conquista do vôlei: depois de ganhar a primeira medalha de ouro em esportes coletivos, em Barcelona-1992, a seleção já garantiu vaga no seleto rol de bicampeões olímpicos do país. Personificado nas figuras dos 'veteranos' Maurício e Giovane, o vôlei masculino brasileiro se juntou ao triplista Adhemar Ferreira da Silva (Helsinque-1952 e Melbourne-1956) e aos velejadores Robert Scheidt (Atlanta-1996 e Atenas-2004) e Torben Grael e Marcelo Ferreira (Atlanta-1996 e Atenas-2004).

Freguesia italiana - Dona absoluta do voleibol mundial nos anos 90, a Itália simplesmente não consegue superar o Brasil hoje em dia. Nos últimos sete confrontos, sete vitórias brasileiras. No espaço de um mês e meio, a 'Azzurra' sofreu três reveses muito doídos contra o Brasil: a final da Liga Mundial/2004 (27/25, 25/19, 25/27 e 25/17), em Roma, no dia 17 de julho; o verdadeiro épico disputado logo na segunda rodada dos Jogos de Atenas (25/20, 15/25, 25/16, 21/25 e 33/31), em 17 de agosto; a final olímpica (25/15, 24/26, 25/20 e 25/22), neste domingo.

E o time de Bernardinho fez por merecer a vitória na decisão, jogando bem diante da segunda melhor equipe do mundo. Giba teve uma atuação de gala, marcando 20 pontos (sendo dois em bloqueios e três em saques) e defendendo como um gigante atrás da linha dos três metros. Com os atacantes de ponta bem marcados, o levantador Ricardinho abusou das bolas para os meios-de-rede Gustavo (14 pontos) e André Heller (nove). O saque brasileiro também foi um diferencial: foram nove aces, contra quatro da Itália. O único fundamento em que a 'Azzurra' conseguiu ser superior foi o bloqueio: 11 pontos contra 10.

O 1º set foi equilibrado apenas até a sua metade. Sacando forte e explorando bem os ataques pela ponta, o Brasil abriu 13 a 9, depois ampliou para 18 a 12, chegou à sossegada margem de 21 a 13 e fechou em 25 a 15. A parcial foi uma verdadeira exibição verde e amarela. Os atacantes Valerio Vermiglio e Luigi Mastrangello não sabiam o que fazer para colocar a bola na quadra brasileira.

O jogo ganhou cara de final olímpica a partir do 2º set. A Itália corrigiu seu principais erros de ataque e começou a defender muito bem, fechando a porta na rede para os ataques do oposto André Nascimento e dos pontas Giba e Dante. O saque italiano também subiu de produção, dificultando os passes de Dante e André – os mais explorados – para Ricardinho.

O set correu parelho o tempo todo, com as seleções se alternando na frente e buscando rapidamente as pequenas margens que eram abertas de forma esporádica pelo adversário. Alessandro Fei, com um ataque pelo meio, descolou o primeiro set point (24 a 23). O Brasil salvou com um belo bloqueio triplo em Vermiglio (24 a 24), mas não resistiu. A 'Azzurra' deu o troco na seqüência, pegando Dante, e fechou em 26 a 24.

O 3º set começou com o Brasil em alta voltagem, logo abrindo 3 a 1 num saque de 118 km/h cravado na quadra italiana por Gustavo. O serviço da seleção, que foi deficiente na parcial anterior, voltou a funcionar a todo vapor. A prova disso é que Gustavo encaixou outros dois pontos de saque em seqüência, colocando 13 a 9 no placar. A partir daí, o Brasil só administrou a parcial, explorando os ataques de meio com André Heller e os bons serviços, para fechar em 25 a 20.

A última parcial do jogo foi dramática para os dois lados. O Brasil abriu 10 a 6 num ataque para fora de Andrea Sartoretti, mas a Itália foi buscar e encostou em 10 a 9, após um bloqueio de Samuele Papi em André Nascimento. A perseguição continuou ao longo do set, com o Brasil abrindo dois ou três pontos e logo vendo a aproximação da Itália. Nem mesmo na reta final, quando a seleção chegou a 21 a 18, a 'Azzurra' deu sossego – Mastrangello pegou Anderson no bloqueio e diminuiu para 21 a 20.

A seleção de vôlei comemora ponto na vitória contra a Itália. Foto: AFP O lance que o Brasil precisava para dar seus últimos passos em direção ao ouro saiu no lindo de bloqueio de Ricardinho, que colocou 23 a 20 no placar. A Itália chegou em 23 a 22, após novo bloqueio de Mastrangello em Anderson, mas não segurou a seleção. No último lance da partida, Giba cravou na quadra adversária e Sartoretti tirou a bola da antena na tentativa de completar a defesa. Pronto. O sonho do bi olímpico virava realidade.

A quadra do Ginásio Paz e Amizade, em Atenas, assistiu a uma choradeira total. No lado brasileiro, Ricardinho e o líbero Serginho se acabaram em lágrimas. No outro extremo, enquanto Sartoretti permanecia parado ao lado do poste de sustentação da rede, sem querer acreditar na derrota, Mastrangello cobriu o rosto com a camisa para esconder as lágrimas. Mas o gigante de 2,02 metros, autor de 18 pontos na final, soluçava como uma criança sentando no banco de reservas da Itália.

A seleção fez uma festa merecida - antes, durante e depois do pódio - e tomou conta da quadra. Bernardinho, finalmente sorrindo, foi chamado pelos atletas para também subir ao pódio.

No andar mais alto, com a medalha de ouro no peito, os jogadores levavam uma camisa 5 da seleção com o nome de Henrique – cortado da equipe às vésperas das Olimpíadas. "Essa medalha também é dele", afirmou André Nascimento, ex-companheiro de quarto de Henrique e responsável por zelar pelo novo amuleto da equipe.




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