Cultura & Lazer Titulo Monólogo
Reflexões à beira da morte
Por Roseane Castilho
Especial para o Diário
20/03/2009 | 07:00
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"Quando falamos de morte, a gente quer saudar a vida", afirma, entusiasmado, o ator Antonio Petrin ao falar do monólogo Só os Doentes do Coração Deveriam ser Atores, que apresenta no Sesc Santo André, amanhã e domingo.

Petrin interpreta Jacek, um ator polonês que, às vésperas de reestrear Ricardo III, de Shakespeare, descobre que sofre do coração. À beira da morte, Jacek faz uma avaliação de sua vida. "É o balanço da vida de um artista, que é muito rica em detalhes humanos", explica Petrin.

Com 40 anos de carreira, ele não nega as semelhanças com o personagem. "Eu só não estou à beira da morte", brinca. "Mas fazer esse espetáculo me ensina muito". O ator, que nasceu em Laranjal Paulista, mas quando criança mudou-se para Santo André, conta que a peça é muito emocionante para o público. "Fala de coisas muito tocantes para qualquer cidadão".

Jacek não é um personagem politicamente correto. Aos 60 anos, quer aproveitar cada segundo do que acredita ser o final de sua vida. "Ele bebe muito, fuma, dá uma cheirada", revela Petrin. A pianista Elaine Giacomelli participa pontuando sonoramente o espetáculo. Por vezes, invade o palco e contracena com o protagonista. Com texto e direção de Eduardo Figueiredo, Só os Doentes do Coração é inspirado no livro Além das Ilhas Flutuantes, do italiano Eugenio Barba.

TEATRO - Aos 70 anos, Petrin não demonstra censura aos criticar a cultura brasileira. "Enquanto eles (poloneses) fazem Shakespeare, a gente tem que fazer novela para sobreviver", argumenta o ator. "Temos que fazer esses folhetins, que são de baixa qualidade literária".

Para ele, o grande problema do País está na formação escolar básica e na forma sub-humana de sobrevivência de alguns brasileiros. "Querer exigir uma cultura melhor do povo talvez seja um exagero porque temos tantas outras necessidades", lamenta. Apesar de não desmerecer os colegas, alerta: "É um erro a gente querer que esses jovens sejam bons atores. A TV exige um perfil diferente".

Tendo participado de manifestações políticas na época da ditadura, Petrin afirma grande desencantamento. "Os políticos vivem discutindo como é que nasce a batatinha, parece que são divorciados da realidade", critica. "Hoje, olho para um político em quem votei e ele não significa nada para mim". A alternativa para a mudança, na sua opinião, está no teatro. "Prefiro olhar para os grandes autores, que me dão bagagem cultural para tentar mudar a cabeça de algumas pessoas que estejam a fim de serem mudadas".

Só os Doentes do Coração Deveriam ser Atores - Teatro. No Sesc Santo André - R. Tamarutaca, 302. Tel.: 4469- 1200. Ingr.: R$ 5 (comerciários) a R$ 20. Amanhã, às 20h e dom., às 19h30.




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