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Seca e enchente

“Chuva e sol, casamento de espanhol”, diz um dito popular amplamente conhecido no Interior brasileiro.

Por Wilson Marini
16/01/2012 | 00:00
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"Chuva e sol, casamento de espanhol", diz um dito popular amplamente conhecido no Interior brasileiro. Há também quem prefira a expressão "sol e chuva, casamento de viúva". Não importa se ocorram acompanhados. Por isso o senso popular brinca com a dupla aparição. Seja como for, o sol e a chuva são bençãos da natureza, desejados no campo e na cidade ano inteiro. Quem não aprecia um solzinho no inverno ou para curtir a praia no verão? Quem não gosta de uma chuvinha para regar a plantação, limpar o ar na cidade ou dormir com sinfonia à noite?

Com equilíbrio, sol e chuva são sempre bem-vindos. Mas quando há excesso de um ou de outro, o sofrimento ocorre na mesma intensidade. Quem está na secura sob o sol escaldante pede água, literalmente. E quem está submerso nas enchentes, reza para São Pedro fechar a torneira. Ambas as situações ocorrem atualmente no território brasileiro. As tragédias sociais se repetem com o clima que não dosa as proporções. Milhares pedem sol debaixo d'água enquanto outros milhares pedem água sob o sol. Sério paradoxo.

Desabrigados

Parece um repeteco de todo verão, um filme com cenário de águas anunciadas. Novamente, o país vive o drama de populações debaixo d'água e de vítimas de deslizamentos de terra. Somente em Minas Gerais, a Defesa Civil informou que 182 municípios já foram atingidos pelas chuvas, prejudicando 2,8 milhões de pessoas. São 25.514 desalojados e 2.495 desabrigados. Desde outubro as chuvas destruíram cerca de 400 casas e 264 pontes naquele estado.

Investimentos

A Confederação Nacional de Municípios (CNM) elaborou estudo sobre a falta de investimentos em prevenção. Pesquisa divulgada nesta semana mostra uma disparidade entre as verbas aplicadas no socorro às cidades e as usadas na prevenção. Segundo a entidade, de 2006 a 2011 o governo federal gastou R$ 745 milhões para prevenir acidentes, contra R$ 6,3 bilhões no socorro. "O governo praticamente não destina nada para a prevenção. Quem é contemplado com ações de socorro enfrenta a burocracia. No primeiro ano recebe uns 8% da verba anunciada, no ano seguinte, 20%, e depois o que falta cai em restos a pagar e não aparece nunca mais", afirma o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.

Estiagem

O Rio Grande do Sul é o estado mais prejudicado pela seca. A estiagem gaúcha atinge mais de 600 mil pessoas. 142 municípios decretaram emergência e outros 36 emitiram Notificação Preliminar de Desastre (Nopred). Caminhões-pipa estão sendo usados para levar agua potável para a população do interior. O governo do Estado assinou um decreto coletivo de emergência para os municípios gaúchos afetados e calcula em R$ 2 bilhões os prejuízos nas lavouras de milho, soja, tabaco e feijão. O Rio Grande do Sul é o segundo Estado brasileiro que mais emitiu portarias de situação de emergência em 2011 (247), atrás de Santa Catarina, que publicou 347. Minas Gerais vem em terceiro lugar, com 85 decretos. Segundo a CNM, foram publicadas, no ano passado, 1.245 portarias em 987 municípios no país, a maioria deles em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Este ano, também o Paraná e o Sergipe estão sentido os efeitos da seca, entre outros.

São Paulo

Tanto Interior quanto a Capital vivem um começo de verão relativamente dos mais tranquilos em relação aos últimos anos. Chove pouco, mas o suficiente para quebrar a aridez na agricultura, ao mesmo tempo em que são isolados os problemas em áreas de risco. O quadro por enquanto é bem diferente do apresentado nos últimos anos e que levou a Assembleia Legislativa a aprovar, em novembro último, projeto de lei da deputada Regina Gonçalves (PV) que criou o Centro de Estudos para Prevenção de Acidentes e Catástrofes (Cepac) no Estado.

Segundo a deputada, o Cepac possibilitará a unificação de todas as informações dispersas nas secretarias para a prevenção de catástrofes, principalmente enchentes decorrentes das chuvas, que têm atingido municípios paulistas nos últimos anos. Na justificativa do projeto, a deputada afirma que "o objetivo da criação do Cepac, junto ao órgão da Defesa Civil, em trabalho de cooperação mútua com as demais instituições envolvidas (polícias Civil, Militar e Rodoviária, Corpo de Bombeiros, prefeituras, secretarias estaduais correlatas, ONGs, entidades de classes e associações de moradores) é preparar a população que reside nas áreas de risco para o estado de calamidade". Regina acredita que compete ao Poder Público a orientação aos cidadãos de quais procedimentos adotar após o recebimento do aviso sobre inundações e outros desastres naturais, além do gerenciamento das ações preventivas e pós-catátrofe.

Coletar informações é o primeiro passo da estratégia de prevenção nos municípios. Que a aparente calmaria deste começo de 2012 em São Paulo não seja pretexto para que as ações de prevenção como esta sejam adiadas. 




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