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Aço ameaça inflacionar veículos
Wagner Oliveira
Do Diário do Grande ABC
14/04/2010 | 07:00
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Após retomada da cobrança integral do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), o preço dos veículos tenderia a se estabilizar com mercado mais disputado em razão de um menor ritmo de vendas. Só que a expectativa de forte reajuste no preço do aço é a maior ameaça contra essa lógica.

Empresas de toda a cadeia da indústria automobilística já começaram ou devem iniciar negociação dos contratos futuros com siderúrgicas e mineradoras sobre o percentual de aumento no preço daquela commodity, que é uma das principais matérias-primas da indústria automobilística.

"É inevitável que tenha impacto (no preço dos carros)", afirmou o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Jackson Schneider. "Quanto e quando será o aumento, vai depender da estratégia de cada montadora."

O engenheiro Francisco Stakunas, integrante do conselho da SAE-Brasil (Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade), disse que, para cada dez pontos percentuais de reajuste do aço, há impacto de 2% a 3% de aumento no preço do carro para o consumidor.

Ainda não se sabe qual será o impacto no valor da commodity, mas fontes do mercado trabalham com a possibilidade de acréscimo de até 10% no preço de veículos ao longo dos próximos meses.

"Mesmo com mercado em crescimento e maior disputa entre as marcas, montadoras não terão como segurar por muito tempo repasse de reajuste", afirmou Satkunas, ex-diretor da General Motors que já lidou com negociações com fornecedores. "Vamos ver como ocorrerá a estabilização depois do pico de vendas impulsionado pelo benefício fiscal".

Eventual forte reajuste no preço do aço não preocupa só as indústrias locais. Até o presidente mundial da Ford, Alan Mulally, disse que o tema já está sendo discutido em âmbito internacional em razão da expectativa de fortes reajustes. "É um assunto que estamos acompanhando bem de perto e nos traz preocupação", afirmou o executivo, que veio ao Brasil anunciar novos investimentos da companhia no País.

Ainda sob impacto da retomada do IPI, a Citroën anunciou que o preços de seus veículos não mudam em abril mesmo com o término oficial do benefício em março. Também será possível encontrar carros de quase todas as marcas com descontos do IPI até pelo menos o fim desta semana nas concessionárias - pelo menos nas grandes cidades, onde o estoque costuma ser maior.

"Descontos são parte da estratégia mais agressiva, que deve ser a tônica do mercado daqui para frente", afirmou Domingos Boragina Neto, diretor comercial da Citroën do Brasil.

Mesmo com o reajuste do aço, o executivo disse que o mercado brasileiro não deve esfriar as vendas, Haverá ainda maior oferta de importados. "Quem tiver mais criatividade e oferecer melhores condições, como crédito, ao consumidor, tende a se dar melhor daqui para frente", acredita o consultor do setor automobilístico Paulo Roberto Garbossa.

Em razão das vendas recordes em março, o estoque das revendas e montadoras caiu para 202.753 unidades, suficientes para 18 dias de vendas num ritmo médio de 13 mil unidades por dia. Em fevereiro, o estoque era de 256.705 veículos, suficiente para atender ao mercado por 35 dias. A Anfavea considera que os estoques vão se recompor com menor volume de vendas neste mês.




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