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Em Sto.André, ruínas enterram lembranças do Clube Bochófilo

Espaço de bocha tido com um dos mais tradicionais e respeitados foi demolido

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
31/07/2016 | 07:00
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Em tempos de crise, nem a tradição consegue resistir. Por dificuldades financeiras, o Clube Bochófilo Santo André vendeu a área onde funcionava desde 15 de outubro de 1966, na Rua Almirante Tamandaré, no Jardim Bela Vista, cidade andreense. Uma construtora empreenderá dois prédios residenciais no terreno, segundo vizinhos.

De acordo com a Prefeitura, alvará de demolição e construção vertical para uso familiar foi expedido em 16 de novembro do ano passado. Relatos de pessoas que vivem próximas ao local, dão conta de que o espaço, conhecido como um dos mais tradicionais e respeitados para a prática de bocha, estava desativado desde outubro e que o processo de derrubada iniciou há duas semanas.

Temporariamente, alguns frequentadores do Bochófilo se encontram, principalmente para jogar carteado, em uma casa situada à Rua Socorro, próxima à antiga sede. O Diário tentou contato com o presidente da associação, Olegário dos Santos Filho, mas foi informada por uma senhora, que se identificou como membro da Secretaria, que ele e os demais representantes estavam em Itu, no Interior paulista, participando de evento. “As coisas estavam muito difíceis de manter e não deu para continuar, infelizmente”, confirmou. Ela não soube dizer a quantidade atual de sócios.

Outras associações que também eram tradicionais, como o Panelinha, Clube de Xadrez de Santo André e Clube da ADC Rhodia, chegaram ao fim, mesmo antes da crise. Hoje, nos condomínios, por exemplo, há tudo o que esses espaços ofereciam com exclusividade no passado, como piscina e salão de jogos. A secretária do Bochófilo Santo André garantiu que a atuação não está encerrada. “Não acabamos. Ficamos com um pequeno espaço do terreno para nos instalarmos”, falou, sem dar detalhes.

Além das duas canchas de bocha, o imóvel contava com ginásio de esportes, que já foi considerado um dos melhores do Grande ABC. O salão de festas sediou muitos eventos.

O aposentado Rui Fernandes Morgado, 72 anos, nasceu e cresceu como vizinho do agora extinto Bochófilo. Ao vê-lo em ruínas, falou com nostalgia. “ Recordo dos bailes carnavalescos que reuniam toda a família, as apresentações musicais, tudo isso marcou muito”, disse. “Bocha é um esporte de idoso e o mundo está em transformação, por isso, acredito que os clubes devem usar de criatividade para explorar seus espaços de outras formas”, acrescentou Morgado.

Algumas associações da região buscaram medidas para não verem suas histórias morrerem. Em 2013, o Clube Casa Branca, localizado no bairro de mesmo nome, em Santo André, e que passava por dificuldades financeiras, foi doado à Associação dos Trabalhadores e Pensionistas do Grande ABC, com o intuito de manter o espaço vivo. Em São Bernardo, o Clube Bochófilo da cidade ainda sobrevive porque alugou várias partes de suas instalações.

A grande conquista do eterno hexa paulista


Na história esportivo-recreativa de Santo André, a presença do Clube Bochófilo. Começou informalmente como atração do Bar do Balderi, na esquina da Rua Senador Flaquer com Cesário Motta. Formalizou-se em 3 de maio de 1948, com sede e canchas na Rua Siqueira Campos. Transferiu-se para a Almirante Tamandaré em 1966 – seu ginásio poliesportivo foi inaugurado em 15 de outubro daquele ano, quase meio século atrás.

As várias fases do Bochófilo estão registradas no Diário, inclusive com uma série de fotos da construção das dependências no Jardim Bela Vista, do acervo de Sonia Maria Micheloni Simonassi, publicadas na página Memória.

Entre os dirigentes pioneiros, famílias antigas de Santo André, do primeiro presidente Angelo Gaiarsa; do primeiro vice-presidente, Pedro Dell’Antonia, que foi prefeito; do primeiro tesoureiro, Cândido Oneda, o célebre Candinho. E mais: os Soldani, os Ghirelli, os Balderi, do bar e restaurante de Leonildo Balderi, onde tudo começou.

Se o Aramaçan surgiu em 1930 quebrando a sequência de clubes de futebol, promovendo o atletismo e a natação, o Bochófilo quebrou outra escrita, investindo no jogo centenário da bocha, esporte que ganhava longos espaços na imprensa da primeira metade do século passado.

Em Santo André e Grande ABC a bocha foi um dos esportes mais populares. Cada bar e cada padaria que se prezasse tinham sua cancha, para animadas partidas daqueles italianos barulhentos e seus descendentes. E o Bochófilo colecionou títulos.

A primeira conquista de expressão veio no ano da fundação: 1948, campeão paulista metropolitano; na sequência, um hexacampeonato metropolitano de São Paulo – de 1950 a 1957; pelos anos afora, campeão ou vice-campeão, com os títulos de campeão estadual de 1967 e 1970, além de vice da Taça Brasil de 1972. Mas o hexacampeonato metropolitano de 1957 ficou mesmo na história, em uma foto que os antigos sabiam de cor e salteado identificar: Cândido Oneda, Domingos Ignarra, Marcelino Cerchiari, Guerino Viganó, Emílio Gamba, Pedro Micheloni, Sílvio Brunoro, Letício Balderi, Elias Silva e Humberto Olivieri.

Antonio Lemes, Emílio Lopes, Dante Simoneti, Guilherme Boscolo e Antonio Fabri.
Cirilo Donato, Waldomiro Bianchini, Delfino Moreti, Pietro Chiepi, Egídio Giovaneti e Benedito Alves. (Ademir Medici)




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