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Alunos conhecem o universo africano

Na Emeief Maria da Penha de Almeida Manfred, alunos descobrem diversidade cultural do país

Por Selma Viana
Do Diário do Grande ABC
01/12/2011 | 07:00
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Era a primeira reunião pedagógica de 2011 na Emeief Profª Maria da Penha de Almeida Manfredi, na Vila Curuçá, em Santo André. Todo o corpo docente debatia o projeto a ser destacado na escola neste ano. A Lei nº 11.645/2008, que torna obrigatório ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena caiu no debate. Havia dúvida sobre a relevância e os meios adequados de abordar o tema.

O debate virou o projeto coletivo Trabalhando a Cultura Africana na Escola e cada sala ficou responsável por desenvolver um tema: história, cantigas de roda, brinquedos e brincadeiras africanas, arte e culinária, palavras de origem africana, influências musicais e contos. "Foi um projeto fundamental para entender a diversidade cultural. Trabalhamos o conhecimento, o respeito e a preservação da cultura africana", avalia a diretora Edilene da Mota Dantas de Souza.

A classe da professora Maria da Glória Siqueira tinha como atribuição criar peça de teatro a partir de romance infantil que falasse da cultura afrodescendente. O livro escolhido foi Uana e Marrom de Terra, de Lia Zatz. É a história da menina negra que, internada no isolamento por causa de um sarampo, ganha de presente dos pais boneca com olhos pretos, iguaizinhos ao dela; cabelos escuros e bem enrolados, iguaizinhos ao dela e pele bem marrom, como sua pele, só que sem sarampo. A menina nunca teve boneca parecida com ela e tinha dúvidas se gostava. "Se ela achasse a boneca feia queria dizer que ela também seria feia. Eu entendi assim", analisa Pedro Henrique Silva Rosas, 8 anos.

A história continua. A personagem Uana fica insegura e acha que se levasse a boneca para brincar de casinha com as amigas ela só teria o papel de empregada. Escondeu o brinquedo embaixo do travesseiro e pensou seriamente em dar banho de cândida nele. Um dia, a boneca acorda linda, toda enfeitada e muito brava com Uana. "Bonita eu sempre fui, vem aqui que vou contar uma história". E o livro dá início à outra história, ou à lenda da Princesa Marrom da Terra, que deve ser continuada pelos alunos. "Eles tinham as referências de fábula como Branca de Neve. Então havia nos textos a bruxa, a princesa em perigo, o príncipe, os três porquinhos e outros. Cada dupla desenvolveu um texto. Aí juntamos trechos de cada um e criamos o texto coletivo, que seria representado na peça. O principal é que eles aprenderam que existe princesa também na África", detalha a professora.

"Eu gostei da parte em que a Uana estava pensando em jogar cândida na boneca e ela acaba sendo uma princesa. Foi a coisa mais alegre que já fiz", comemora Maria Eduarda Mazzia, 8 anos.

Na opinião de Maria da Glória, não deveria haver leis que obrigassem a implementação de políticas de inclusão, porque não deveria haver nenhum tipo de preconceito na sociedade.

Estender a mão ao próximo é lição de amor

Uma das brincadeiras que Pedro Augusto da Silva, 10 anos, mais gosta na hora do recreio é o tradicional pique-esconde, uma das mais praticadas pelas crianças. A preferência não seria de se estranhar se Pedro não tivesse limitação física que até pouco tempo o fazia usar andador e muletas. Mas em vez de recorrer a apoios mecânicos, ele prefere o suporte dos amigos da turma que lhe estendem o braço quando precisa, apesar dele mesmo estar cada vez mais independente.

Esse é exemplo do resultado prático do projeto Valores, desenvolvido pela professora Meire de Fátima Furtado, da Emeief Madre Teresa de Calcutá, no bairro João Ramalho, em Santo André. O objetivo é resgatar conceitos que remetam à solidariedade, amizade, respeito, ética, justiça, verdade, liberdade, cooperação, preservação e tantos outros valores que tiraram o homem do mundo das cavernas e o tornaram um ser sociável e civilizado.

Influenciada por educadores como Içami Tiba, Meire acredita que conscientizar as crianças desde cedo para a importância da convivência em grupo e sistematicamente reforçar esses valores contribuem para o aumento da tolerância e consequentemente a diminuição da agressividade e da violência ainda muito presentes em salas de aulas, principalmente entre os adolescentes. "Além disso, eles se tornam agentes multiplicadores, influenciando a família e a comunidade", afirma.

Aos 9 anos, Leonardo Penha Sutil pode ser modelo desse papel multiplicador. "Eu brigava com a minha irmã de 3 anos, mas agora eu a entendo", diz ele, que conhece bem o conceito de solidariedade e cooperação. Sendo apontado pelo colega Pedro como um dos grandes amigos, Leonardo também é muito elogiado pelas professoras que se encantam ao vê-lo como passou a ser mais cuidadoso com a irmã, que também requer atenção especial devido a limitações físicas.

E é o mesmo Leonardo que incorpora o filósofo Sócrates para uma das atividades do projeto, que discutiu por meio de uma encenação questões como respeito e verdade. Recontando a histórias das Três Peneiras, ele chama a atenção dos colegas sobre a importância da conscientização sobre o que vão falar sobre alguém ou sobre algo. "É preciso passar pelas três peneiras da verdade, da bondade e da necessidade", diz ele, que acrescenta ser desnecessário levar adiante qualquer comentário que não passe por esses filtros.

Interdisciplinar, o projeto englobou várias áreas do conhecimento e usou diversos recursos, como muita pesquisa na internet, exibição de filmes, leitura de livros e a criação de uma caixa de valores, disponível para toda escola, onde foram depositados materiais referentes aos valores que vinham sendo discutidos em turma. (Mirela Tavares)




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