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Sepultura lança DVD e prepara novo disco
Por Gislaine GutierreDo Diário do Grande ABC
07/08/2005 | 10:46
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Do primeiro e desastrado show que fizeram em Belo Horizonte, já se passaram 21 anos; do disco de estréia, 20 anos. Seja pela maioridade absoluta que a banda atinge em 2005 ou pelas duas décadas de atividade fonográfica, o Sepultura está em ritmo de comemoração. Em outubro, lança seu primeiro DVD (duplo) em quase 15 anos e já prepara um novo disco de inéditas, inspirado no livro A Divina Comédia, de Dante Alighieri.

Na última segunda-feira, Igor Cavalera (bateria), Andreas Kisser (guitarra) e Derrick Green (vocal) receberam a reportagem do Diário no estúdio High Five, em São Paulo, para falar sobre o momento da banda e os novos projetos. Paulo Jr. (baixo), como de costume, preferiu ficar fora de cena. “A função dele é não fazer nada (risos)”, afirma Igor. “...Porque o fdp está lá dentro (em uma sala de gravação) e não vem pra cá! Mas o Paulo é a esponja, tanto no teor alcoólico como na nossa descarga. Em vez da gente brigar um com o outro, a gente zoa o Paulo e está tudo resolvido. Então ele tem uma função importante (risos)”, diz Andreas.

A descontração reflete o clima de camaradagem na banda, que hoje vive uma das mais produtivas e tranqüilas fases desde o turbulento rompimento com Max Cavalera, em 1997.

“Queremos contar um pouco mais sobre a história do Sepultura com o Derrick e não sobre nossa trajetória, porque isso neguinho já sabe de cor”, afirma Igor. O DVD será duplo. Em um dos volumes estará o show gravado em abril, no Olympia, e em outro, um documentário com imagens feitas por Derrick, desde que entrou na banda.

O material bruto captado por Derrick daria para fazer pelo menos uns 30 longas-metragens. São 60 horas de gravação, das quais já foram selecionadas 10 horas. Agora caberá à banda se reunir e escolher os 30 minutos mais significativos. Tudo passou pelas lentes do vocalista: shows, bastidores, público, ensaios, gravações e até a espera em aeroportos. “As pessoas sempre vêem um lado só, o da banda, mas quis mostrar também o pessoal da equipe técnica, essa família, que é muito importante”, diz o norte-americano, ainda com um português com sotaque bastante acentuado.

Os registros captam momentos de absoluta descontração. “É a gente mesmo, zuando ou brigando. Tem de tudo nessas filmagens”, explica Andreas. Aliás, ele revela que há muito, mas muito material do Sepultura inédito, tanto em fotos quanto em filmes. “Desde o primeiro show da banda, registramos tudo. Todos nós temos câmeras fotográfica e filmadoras”, diz o guitarrista.

Embora estejam fugindo de qualquer discurso em tom didático, os rapazes aproveitarão o DVD para mostrar ao público que continuam firmes e fortes, sim senhor, como banda em atividade internacional. “Depois que o Max saiu, muita gente achava que o Sepultura ia acabar. Mas vamos mostrar que a gente nunca parou essa batalha”, conta Andreas.

O guitarrista lembra que visitaram vários países onde jamais haviam tocado – como África do Sul, Romênia, Dubai e El Salvador – e dividiram palco pela primeira vez com bandas como Slayer, Metallica e Anthrax. Fora isso, tem Derrick, totalmente consolidado no posto, apresentando material antigo do Sepultura, como Escape to the Void (do álbum Schizophrenia) e Nomad (do Chaos A.D.) no show do Olympia.

O Sepultura chamou gente das antigas para dividir o palco, como Jairo Guedz, guitarrista da primeira formação, e João Gordo, que fez inúmeras jams com os rapazes. E tem Zé do Caixão que, com suas “mulheres do mal” apresenta a banda à platéia e conta um pouco da história do grupo. Da safra mais recente, participam o DJ Zé Gonzales e BNegão, que colaboraram no disco Revolusongs.

O próximo CD, em fase de pré-produção, está previsto para fevereiro de 2006. A história do clássico de Alighieri será transportada aos dias atuais.

Andreas destrincha a idéia: “No começo do livro há o Dante numa floresta, totalmente perdido, e de repente ele vê uma montanha com uma luz. Ele tenta chegar lá, mas três feras se põem em seu caminho: o leão, o leopardo e a loba, feras que transformei simbolicamente em Reino Unido, Estados Unidos e ONU, porque eles formam essa tríplice aliança que impede o mundo inteiro de progredir de forma mais saudável”.

Musicalmente, adianta que não será um disco “tão cru quanto Roorback, nem tão complicado e trabalhado quanto o Nation”. O produtor de trilhas André Moraes, com quem a banda trabalhou nas faixas do filme No Coração dos Deuses, criará algumas vinhetas com instrumentos de cordas e orquestra, “para dar uma pitada mais medieval”. O disco sairá pela mesma gravadora de Roorback, a alemã SPV. Algumas das músicas podem vir a fazer parte do set list do show no Chimera Festival, no dia 23 de setembro no Arena Skol Anhembi.

Mas o dado mais curioso é que Sepultura parece ter certa semelhança com a trajetória de Dante: depois de passar pelo inferno e pelo purgatório, está na beira do paraíso. Igor já há alguns meses voltou a falar com Max, por telefone – “mas não tratamos de nada profissional, só pessoal”, diz. Derrick está à vontade e aceito por um grande público. E o Sepultura segue arrebanhando multidões de fãs Brasil afora. É, no mínimo, sinal de que muita coisa boa virá nesta nova fase.




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