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Tristeza, trabalho e fé no acampamento Esperança
Por Willian Novaes
Enviado especial ao Chile
19/09/2010 | 07:02
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A vida no acampamento Esperança tem rotina triste. O dia passa lentamente, tendo o vento gelado como companheiro na manhã e o sol escaldante no meio do dia como parceiro. No fim da tarde, tudo se inverte, o frio congela e as fogueiras começam a ser acesas para suportar a terrível madrugada.

O céu estrelado do deserto do Atacama é hipnotizante e é para lá que os olhares dos familiares dos 33 mineiros soterrados há 45 dias estão focados no fim de mais um dia de espera, sem resultados concretos. As perfuradoras ainda estão longe de concluir os trabalhos de resgate dos operários.

Diariamente esse ritual se repete de forma agoniante. As máquinas não param de trabalhar. Os barulhos dos geradores e dos caminhões trazendo algum tipo de mantimento são permanentes. Os familiares recebem as novidades em reunião às 18h. Quase todos saem de cabeça baixa após 30 minutos de conversas com as autoridades chilenas.

Cerca de 150 parentes e amigos vivem no acampamento Esperança, a menos de 300 metros da entrada da mina de São José. Alguns chegam no ônibus azul que diariamente parte às 10h e às 15h de Copiápo, em viagem que dura pouco mais de uma hora pelo deserto até a mina. Mas grande parte vive nas 33 barracas armadas pelo governo local.

O DIA -  O dia no deserto começa por volta das 6h, quando parte das pessoas sai das ‘casas provisórias' e conversam de forma discreta com os mais próximos. As mulheres lavam os seus cabelos negros e lisos, com a água aquecida em chaleiras nas fogueiras alimentadas com carvão e lenha, em banho improvisado.

Enquanto isso, um batalhão de voluntários trabalha para manter em ordem o local. A limpeza é impecável. Eles são funcionários públicos de Copiapó, que trabalham em turno de 12 horas por 12 horas. Nas primeiras horas do dia, parte desses trabalhadores é encarregada de preparar o café da manhã e outra de concluir o almoço comunitário que começou na tarde do dia anterior. Um grupo de assistentes sociais passa pelas barracas para dar apoio e saber se alguém está precisando de alguma coisa.

Todos se sentam e comem em silêncio nas mesas compridas. Quando terminam de comer, algumas mulheres com suas crianças de colo aproveitam para escrever as cartas que serão enviadas para o seu marido, pai, irmão, avô ou amigo que está preso.

A fé do povo chileno é o seu principal aliado na espera do resgate dos 33 mineiros. No acampamento Esperança estão montados vários altares com imagens de santos e santas católicos.

Cada família faz as suas orações, algumas em silêncio e outras se reúnem em grupo e leem a bíblia em voz alta. Muitas velas são acesas; mesmo com o forte vento são deixadas em homenagem aos parentes presos a 700 metros de profundidade. Missas são realizadas nas tardes dos dias, no local onde são servidas as refeições. Dezenas de pessoas acompanham e recebem a comunhão




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