Setecidades Titulo Lá no meu bairro...
Igreja do Jardim Carlina é reconstruída após 6 anos

Capela de Mauá, demolida para dar lugar a fábrica,
é reerguida com a força e dedicação da comunidade

Por Renato Cunha
Especial para o Diário
02/12/2014 | 07:00
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC


Seis anos se passaram desde que a antiga Capela Nossa Senhora Aparecida e São Sebastião, no Jardim Carlina, em Mauá, foi demolida. Os moradores da comunidade, contemplada pela Paróquia São José, chegaram a pensar que o templo católico não voltaria a existir. Mas, nesta semana, a igreja será ‘reinaugurada’, podendo assim atender aos seus fiéis, no sentido mais literal da palavra, já que é graças a eles que a capela foi erguida novamente.

O padre José Aílton Teixeira acompanhou todo o processo. “Estou à frente da paróquia desde 1998. Antes, a capelinha ficava em outro lugar. A Diocese (de Santo André) resolveu vender o terreno para uma empresa. Então, nesses anos fizemos as celebrações em outros locais”, lembra. Segundo ele, o antigo prédio era parte da história da cidade. “A outra capela existia desde 1923. Era a mais antiga de Mauá.”

O padre também narra um pouco de sua trajetória, explicando como surgiu o interesse pelo sacerdócio. “Sou padre desde o dia 5 de dezembro de 1976. Desde criança tinha vontade. Em 1963 entrei no seminário de Fortaleza, mas terminei aqui em São Paulo, no Ipiranga. Fiquei 12 anos estudando.”

Para ele, a comunidade tem uma união especial. “A dedicação dos moradores marcou muito esses últimos anos. Mesmo após a demolição, o pessoal teve força de vontade e não perdeu a fé na igreja”, comenta. O pároco também diz admirar a persistência dos vizinhos, que se uniram pela causa. “Houve muita força de vontade. Enfrentamos dificuldades, mas, graças à força da comunidade, conseguimos. Tudo está pronto.”

O prédio tem amplo espaço para realização de missas, além de sacristia, salas para aulas de catequese e cozinha. A igreja foi toda construída com dinheiro de doações, tanto de moradores quanto de empresas.

Padre José relata que algumas pessoas se destacaram no desenvolvimento desse projeto, que demandou muito esforço por parte dos habitantes. “A Silvia, a Luciana e a Marisa estão no projeto desde o início. Elas sentiram na pele o quanto foi difícil levantar esse sonho”, lembra (leia mais sobre as moradoras abaixo).

A comunidade não ficou sem as celebrações ao longo dos seis anos. As missas foram realizadas na casa de uma fiel durante três anos, quando, então, foi alugado um local para que funcionasse de maneira provisória.

A inauguração do novo prédio será realizada amanhã, às 19h30, e contará com a presença do bispo dom Nelson Westrupp, que vai celebrar a bênção de dedicação da igreja.

O santuário já está quase todo pronto. A equipe do Diário acompanhou os últimos retoques na janela e a chegada do presépio, que também foi comprado com dinheiro de doações.

Padre José ainda deixa um recado às pessoas que não acreditaram no projeto. “Àqueles que disseram que não haveria mais igreja no bairro, convido a vir visitar o lugar, está lindo.”

Mulheres realizam obra com doações

A Capela Nossa Senhora Aparecida e São Sebastião não estaria novamente de pé não fosse pela dedicação e fé de três mulheres, que acompanharam o processo desde a demolição até a última janela nova colocada no espaço. As moradoras do Jardim Carlina Silvia Monteiro, 43 anos, Maria Luciana dos Santos, 38, e Marisa Lópes, 46, conseguiram realizar o sonho da comunidade.

Silvia conta que sempre frequentou a igreja e se sente bem nas celebrações. “Morava no Paraná e sou da Igreja Católica desde criança. Gosto de participar das missas, me sinto abençoada. Tenho que dizer que essa é a comunidade mais feminina da paróquia, porque foram três mulheres que correram atrás de tudo, contra todos os preconceitos”, desabafa.

As três vivenciaram momentos marcantes em todo o processo de construção. Silvia guarda recordação triste, mas motivadora, de um acidente que aconteceu durante a obra. “No primeiro ano da construção, em 2010, teve uma chuva muito forte e a parede principal desmoronou. Aquilo fez com que a gente tomasse fôlego extra para continuar a caminhada.”

Já para Marisa, um dos momentos mais emocionantes foi a abertura do primeiro buraco para alicerce. “Chorei muito. Começava ali a realização do nosso sonho de ter a igreja de volta”, lembra.

Maria Luciana também recorda dia de alegria na caminhada. “Quando o pessoal estava limpando o terreno para a obra, encontramos uma pedra enorme no meio do caminho. Teve que chamar até máquina para retirar. Então, vimos que era um sinal de Deus e decidimos enterrar a pedra embaixo do altar.”

Casa de moradora abrigou celebrações

As missas não pararam de ser celebradas no Jardim Carlina depois que a Capela Nossa Senhora Aparecida e São Sebastião foi desalojada. Isso porque uma das fiéis da comunidade, a aposentada Maria das Graças Correa, 63 anos, cedeu sua varanda para que as celebrações pudessem ser realizadas.

Ela conta ter cumprido uma promessa com Deus. “Quando eu não tinha casa, fiz um voto que, se conseguisse um imóvel, rezaria uma missa nele. Acabei rezando três anos de missas”, conta. E esse não foi o único voto de Maria das Graças, que também conversou com Nossa Senhora Aparecida. “Também fiz promessa para Nossa Senhora que se conseguisse um terreno para construir dois cômodos, faria um altar para ela. A santa me deu muito mais que isso e hoje tem o altar dela logo na garagem de casa.”

Maria das Graças descreve como a residência era organizada para as celebrações. “Era tudo bem arrumadinho. Tinha de tudo lá. Era praticamente uma igreja dentro da minha casa.”

Ela explica também como deu a ideia para que as missas fossem feitas na varanda de seu imóvel. “Quando demoliram a outra igreja, ficou aquela polêmica para saber onde seria e se iria acabar ou não. Foi aí que sugeri que poderia ser na minha varanda. E foi o que aconteceu”, conta.

A aposentada comenta que, por ela, as missas continuariam sendo celebradas em sua residência, mas algumas pessoas acabavam não indo por terem problemas de locomoção. “Só parou de ser lá porque tinha muita escada. Tinha gente que não conseguia ir. Então, alugaram um outro salão para retomar as atividades da igreja até finalizar a construção.” 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;