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Mais de 13 mil vão entrar em férias coletivas no ABC
Por Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
28/09/2001 | 00:01
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  Cerca de 13,5 mil trabalhadores de três montadoras do Grande ABC devem ganhar folga durante boa parte do mês de outubro e com isso deixarão de ser produzidos 25,7 mil veículos. Serão ao todo 38 dias de ausência de produção (se somados os dias de parada), com as férias coletivas de 14 dias úteis (21 dias corridos) anunciadas pela Volkswagen, de São Bernardo, dez dias úteis da General Motors, de São Caetano, e a parada na produção de dez dias prevista para a Ford, segundo membros da comissão de fábrica da montadora, com base na suspensão adotada pelas principais concorrentes do mercado.

As interrupções na fabricação de veículos se devem ao desaquecimento do mercado. De acordo com números do último dia 31 de agosto, fábricas e redes de concessionárias em todo o país tinham 204,5 mil unidades em estoque ou 47 dias de vendas. Em 31 de janeiro, eram 144,1 mil unidades, que correspondiam a 36 dias de vendas. Nesta semana, apenas a Volkswagen tinha em estoque (veículos da montadora mais a rede) 49 mil unidades, e esse número era equivalente a quase a metade dos veículos vendidos por todas as fabricantes em agosto.

Em agosto, as vendas totais de veículos automotivos caíram 5,42% em relação a agosto do ano passado, de acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Foi a primeira retração do mercado no ano. Segundo o consultor Fernando Rolim, da Rolim Consult, especializado no setor, o mercado demorou a cair na comparação com outros segmentos que já mostravam desaceleração. “Com suas campanhas, taxas especiais e propagandas, os fabricantes conseguiram prolongar o consumo de forma artificial.”

A retração, segundo Rolim, já era esperada, por conta de fatores externos, como a instabilidade argentina e agora os atentados nos Estados Unidos. “A venda de automóvel tem um componente emocional muito forte. Nos EUA, a queda no setor foi de 30%.” Mas ele é otimista: “Em dois meses, voltaremos a crescer, em ritmo mais realista. Teremos um choque de oferta negativo, e as pessoas voltarão a consumir.” Ele projeta que o setor chegue a 1,74 milhão de veículos vendidos em 2001, bem menos do que os 1,9 milhão projetados pelo setor no início deste ano.

Ainda de acordo com o consultor, as montadoras, nos últimos cinco anos, agregaram uma capacidade de produção muito grande, principalmente com a entrada de novos fabricantes (como Renault, Peugeot e Audi). Atualmente, a capacidade atual do segmento é de 3 milhões de veículos. “As novas iniciativas geraram um volume que no curto prazo não terá como ser escoado.” Ele estima que nem nos próximos três anos será possível alcançar 2 milhões de veículos vendidos.

Ao mesmo tempo em que anunciam as paradas, as fabricantes se reúnem com os trabalhadores para negociar a campanha salarial deste ano.

Nesta quinta houve mais uma rodada que não chegou a nenhuma definição e na próxima quarta feira, haverá nova reunião. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, a queda na demanda do setor “agrega dificuldade à negociação”. Mas ele não acredita que haverá cortes e aposta em um acordo satisfatório para os empregados, que sinalizaria positivamente para a confiança na economia do país. A entidade reivindica reposição da inflação (7,5%) mais um aumento real a ser negociado. A General Motors deverá abrir novo plano de demissões voluntárias (PDV) tão logo os funcionários das linhas de produção voltem das férias coletivas no final de outubro. O início das férias será dia 15. De acordo com o coordenador da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Turíbio Liberato, a informação é que, mesmo depois das férias, o ritmo de produção continuará o mesmo do atual (24 carros por hora), volume inferior à capacidade normal (38 carros/hora).




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