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Fiscalização na Serra do Mar impede trilhas clandestinas
Yara Ferraz
09/05/2016 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Conhecida como trilha do ralo e localizada próxima a divisa entre Santo André e Ribeirão Pires, a caminhada de aproximadamente duas horas que leva a várias piscinas naturais é uma aventura perigosa. Para coibir a prática, a Prefeitura de Santo André realiza fiscalizações mensais. O Diário acompanhou a do último mês, que aconteceu logo depois do feriado prolongado de Tiradentes e resultou no encontro de 11 pessoas e quatro autuações.

A visitação do local não é permitida (nem mesmo guiada) por dois principais motivos: por fazer parte do Parque Estadual da Serra do Mar e também de propriedades privadas. “O acesso é feito por propriedade particular, então já configura invasão, porque precisaria da autorização do proprietário do lote para entrar. E segundo porque é uma unidade de conservação e quem quiser frequentar aqui também teria que ter autorização do Parque Estadual. É uma área de amortização remanescente da Mata Atlântica e muito importante para a biodiversidade”, explicou o gerente de fiscalização ambiental da Secretaria de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense, Paulo Henrique Borges de Oliveira.

Por causa disso, as pessoas que estiverem no local podem ser autuadas com base no artigo 90 do Decreto Federal 6.514, que trata de crimes ambientais. A multa pode chegar a R$ 1.000.

“Qualquer pessoa que venha para cá está adotando conduta em desacordo, pode ser enquadrada nesse artigo e autuada. Muitos alegam que não sabem que é proibido, mas o fato de alegar desconhecimento não exime do cumprimento da lei”, afirmou Oliveira.

Além dessa trilha, também há fiscalização na que leva até a Cachoeira da Fumaça, fechada para o público pelos mesmos motivos. No local é comum encontrar praticantes de rapel por causa da grande queda d’água. Durante os quatro dias de feriado prolongado, a Pasta estima que cerca de 2.000 pessoas tentaram entrar na mata.

No Carnaval, cinco equipes fiscalizaram as trilhas e impediram que aproximadamente 2.500 turistas fizessem os itinerários. Foram emitidos 32 autos de infrações.

CENÁRIO
O itinerário da trilha foi feito pela equipe do Diário na companhia de dois funcionários da secretaria andreense e três guardas-civis municipais. Ao entrar na mata, é possível andar de carro por cinco minutos. Onde se inicia a caminhada está o primeiro perigo: diversos pedaços de vidro automotivo quebrados denunciam que carros foram roubados no local.

De acordo com o guarda-civil Sidney José Duarte, vários carros de quem se aventura a fazer a trilha são roubados por homens utilizando motocicletas. Em grande parte do caminho, é possível ver o rastro de veículos de duas rodas.

Há três anos houve troca de tiros no local, resultando em dois ladrões mortos e um guarda-civil ferido. “Eles eram moradores de Rio Grande da Serra e conhecem bem essa região, o que facilitou a fuga”, contou Duarte.

No caminho a pé, que dura cerca de duas horas até encontrar a primeira piscina natural, há muitos obstáculos, inclusive galhos de árvores cortados, o que rapidamente denunciou a presença de invasores, até pedras escorregadias e pequenos trajetos passando por uma correnteza de água.

Em um dos locais há opção de passar por cima de um tronco de madeira ou se molhar. Segundo Oliveira, apesar de o nível chegar até os tornozelos, em época de cheias a força da água pode levar algumas pessoas, resultando no perigo de afogamento. Além disso, o trajeto é feito em mata fechada, sendo fácil de se perder e encontrar animais peçonhentos. No dia da trilha, um dos guardas-civis encontrou uma cobra, que foi solta na floresta.

No primeiro local propício a acampamento foram encontrados vestígios da passagem de visitantes, como roupas jogadas pelo chão. Na segunda área, os guardas-civis avistaram acampamento ao lado da principal piscina natural. O local estava tomado por 11 jovens, sendo dez homens e uma mulher, com idades entre 20 e 30 anos, que se dividiam em quatro barracas. Por lá haviam diversos tipos de bebidas alcoólicas.

A equipe foi advertida verbalmente e as quatro pessoas que estavam com as barracas levaram multas no valor de R$ 1.000 cada. Havia três grupos diferentes, sendo de Rio Grande da Serra, Itaquaquecetuba e da Zona Leste da Capital. Eles foram obrigados a recolher os pertences e voltar até a entrada da trilha, junto com a equipe.

O Diário conversou com um dos jovens, de 23 anos, que preferiu não se identificar e afirmou que não sabia da proibição. “Moro em Rio Grande da Serra, aqui é praticamente nosso quintal. Não sabia que estava em uma propriedade privada, até porque não tem nenhuma sinalização. Se quisessem que ninguém entrasse deveriam colocar placas”, reclamou.

O gerente da Secretaria afirmou que as placas existem, mas são constantemente vandalizadas pelos visitantes.

Itinerários guiados estão disponíveis em Paranapiacaba

Para os amantes da natureza e aventura, é possível fazer trilhas legalizadas. Elas estão localizadas no Parque Natural Nascentes de Paranapiacaba e podem ser acessadas com guias treinados pela Prefeitura.

O Departamento de Meio Ambiente da Prefeitura afirmou que a atividade turística deve estar regular e possuir autorização de todos os órgãos competentes. É preciso ter controle da quantidade de pessoas, mapeamento do local de visitação, segurança, manutenção das trilhas, entre outras ações para garantir a integridade física do visitante e a integridade ambiental do local visitado.

Segundo o gerente de fiscalização ambiental da Secretaria de Recursos Naturais do Parque Andreense, Paulo Henrique Borges de Oliveira, no entorno de Paranapiacaba muitos moradores foram capacitados para a atividade. “A pessoa que vai até lá frequentar tem suporte. Um profissional vai explicar os riscos que existem ao fazer atividades ao ar livre. Além de destacar que é uma unidade de preservação, remanescente da Mata Atlântica.”

Informações sobre visitas ao local podem ser obtidas por meio do telefone 4439-5025 ou pelo email fiscalambiental@santoandre.sp.gov.br.




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