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Grêmio escolar estimula exercício da democracia

Organização permite que estudantes participem
das escolhas feitas dentro da unidade de ensino

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
09/05/2016 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


O exercício da democracia começa na escola. É na unidade de ensino que as crianças aprendem e passam a difundir conceitos como cidadania e participação social. Na maior parte das vezes, esse processo começa durante o ingresso dos alunos nos grêmios estudantis. Por meio dessa organização, os estudantes, ainda que pequenos, têm oportunidade de interferir nas escolhas feitas dentro do colégio.

Neste ano, a Secretaria Estadual da Educação instituiu calendário para a eleição dos grêmios de forma unificada em todo o Estado. Somente na região, 269,1 mil alunos participaram das escolhas dos grupos que atuarão nas 335 unidades de ensino espalhadas pelas sete cidades durante o ano. O objetivo é que todas as 5.000 escolas tenham grupo de representantes de acordo com o ciclo oferecido e eleitos democraticamente.

Na EE Luiz Martins, no Jardim Ocara, em Santo André, o grêmio estudantil já é tradicional. Para os alunos, participar do grupo, que é renovado a cada ano, é uma meta. “Desde que entrei na escola, no 3º ano (do Ensino Fundamental), já queria ser do grêmio e agora consegui”, revela o aluno Henry Yuki Uyrmura, 9 anos, hoje no 4º ano. Junto com outros nove colegas, oito meninas e um menino, eles formam a chapa LM (Luiz Martins) Diamantes, nome escolhido para representar as “ideias brilhantes que têm para melhorar a escola.”

A presidente do grêmio, Beatriz Garcia, 10, aluna do 5º ano, acredita que participar do grupo é oportunidade de ajudar os colegas da escola, além de evoluir como pessoa. No entanto, a vice-presidente da chapa, Haylla Graziela, 10, lembra que “para ser do grupo, é preciso dar exemplo”. “Eu fico com medo de aprontar, ir para a diretoria e perder meu lugar no grêmio”, confessa a estudante.

Além da responsabilidade de representar os alunos nas discussões junto à diretoria, os estudantes têm a preocupação de cumprir as promessas feitas aos colegas durante o processo eleitoral, que teve direito a voto secreto e comissão para apuração dos sufrágios. Entre elas estão a realização de campanha do agasalho, manutenção de caixa de sugestões para que todos os alunos possam participar e dar ideias, arrecadação de brinquedos para a brinquedoteca da escola, sementes para a horta, além da realização de show de talentos, festa a fantasia e permitir votação para a escolha do passeio do fim do ano. “A gente também teve a ideia de ajudar os inspetores a conscientizar os alunos a não correr no pátio”, observa Haylla.

“Embora eles sejam muito pequenos, esse é um primeiro passo para que vivenciem valores importantes, como democracia e solidariedade. A ideia é que eles levem estes conceitos para as próximas escolas e também para a vida”, ressalta a supervisora de ensino Ana Julia Pereira de Souza Almeida. Um dos trabalhos da unidade é exatamente que os estudantes mantenham consigo os valores exercitados, além do desejo de participar, observa a diretora da unidade, Silmara Blotta Aguilar Jardim. “Eles se sentem importantes, ficam eufóricos. Os pais também ficam felizes com essa mudança. Esse diálogo é algo que buscamos manter, tanto com os alunos quanto com os pais.”

O Grêmio tem autonomia para elaborar propostas, organizar e sugerir atividades para a escola. Tem direito de participar da organização do calendário escolar e deve articular e negociar os interesses junto à direção. “Eles passam bastante tempo aqui (entre 7h30 e 15h30 de segunda a sexta-feira). Então acabamos desenvolvendo esse sentimento de família. Mesmo sabendo que também temos problemas (em sua maioria estruturais), como todas as escolas, nós buscamos manter a essência”, ressalta Silmara.

Escola tem dever de incentivar pensamento crítico, diz especialista

Um dos nortes estabelecidos pelas diretrizes educacionais do País é garantir que a escola tenha o compromisso de formar cidadãos. Essa é a visão da gerente educacional da Rede Pitágoras de ensino, Carla Miller. Conforme a educadora, a unidade escolar e, por consequência o professor, devem estar dispostos a “se abrir” aos estudantes, o que significa ouvir suas demandas e dar retorno aos pleitos.


“Não é algo simples. Dá trabalho. O professor precisa ter consciência e não pode se deixar levar pela preguiça. Sua tarefa é acompanhar e instrumentalizar os alunos a partir do conhecimento. Os jovens sempre vão ter papel de protagonista das mudanças dentro da sociedade, porque são idealistas”, observa Carla.

Para que possam desempenhar papel de cidadão, os estudantes precisam desenvolver consciência crítica e saber escutar, para saber se posicionar, considera a educadora. “Esse engajamento necessita de argumentos sólidos. O compromisso do professor é ajudá-los a identificar os interesses e avaliar as propostas e conjunturas”, diz. Para Carla, no entanto, o papel de liderança dos professores não pode ser usado de forma irresponsável para difundir conceitos. “O grande perigo é o educador fazer a cabeça dos alunos.”

Outro desafio é estabelecer limites de atuação aos estudantes. “É uma linha tênue. Ao mesmo tempo em que os alunos devem ter voz ativa dentro da escola, também precisam estar conscientes de quais são seus deveres”, lembra a especialista.
 




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